Colar e pulseira deram lugar a tatuagem

27º Curso Estado de Jornalismo

Lígia Morais

Ester Gewehr, hoje com 45 anos, foi ao médico para tratar da coluna e saiu com uma prescrição incomum: fazer uma tatuagem. A empresária marcou no antebraço, com tinta amarela, um triângulo de advertência e as palavras “alergia”, “dipirona” e “paracetamol”, como se vê na capa deste especial. A informação pode salvar sua vida em caso de emergência, como um desmaio ou um acidente.

Depois de abusar de remédios para dor, Ester tem reações alérgicas só de abraçar pessoas que tomaram dipirona ou paracetamol

Isso porque, depois de anos abusando do Dorflex, ela adquiriu a rara síndrome de Stevens-Johnson, que pode causar até a morte se receber uma injeção com o composto de dipirona. A doença não tem cura e atinge apenas seis em cada um milhão de pessoas por ano. A sensibilidade que provoca é tanta que Ester tem reações alérgicas só de abraçar pessoas que tomaram a substância.

A alergia ao paracetamol foi descoberta pouco tempo depois, quando teve reações ao dar um beijo no marido, que havia tomado um antigripal. As cartelas de Dorflex e paracetamol foram descartadas e hoje ninguém na família consome esses remédios. Para evitar riscos, Ester passou a levar sempre um antialérgico na bolsa.

A empresária convive com esse problema desde 2009 e tentou outras formas de sinalizar a alergia, como um colar e uma pulseira, antes de o médico dizer que o método mais seguro era mesmo a tatuagem. “Eu vejo que as pessoas tomam medicamento sem ter a percepção de que é uma droga e que pode fazer muito mal.”

Ela mesma usou Dorflex sem indicação médica, de forma frequente, acreditando que resolveria assim a dor crônica na coluna adquirida quando se desdobrava para conciliar trabalho, estudos e cuidados com a filha. “Minha vida saiu de controle e o primeiro sinal foram dores insuportáveis da coluna.”

Aos poucos, porém, ela começou a ter dificuldade para caminhar, comer e até respirar. Surgiram bolhas de água pelo corpo. A boca e o nariz pareciam queimar e os olhos inchavam e ardiam. Em quatro meses, Ester passou por três consultas em clínicas diferentes. Os médicos disseram que era estresse. Mas o diagnóstico correto só veio após consultar um especialista: alergia a dipirona.