A cada 20 minutos, a professora de educação infantil Carla de Morais Ribeiro, de 24 anos, lava as mãos por receio de se contaminar. Recentemente, jurava que tinha um linfoma. Um pouco antes, acreditava que seu problema era câncer no pescoço. Ainda hoje, ninguém lhe tira da cabeça que tem leucemia. Chegou a desenvolver uma gastrite de tanto tomar vitamina C para não contrair gripe suína. O medo de morrer a cada segundo ou de pegar uma doença atrapalha tanto a vida da carioca que ela perdeu o emprego em outubro, sob justificativa de que isso poderia atingir seus alunos. Sua hipocondria já afeta até a relação com o filho, Guilherme, de três anos – a cada tosse do menino, a mãe logo pensa que se trata de algo grave.
“Eu não tenho vida. Vivo com medo de ter uma doença no futuro. E todo mundo acha que é loucura da minha cabeça”, conta. Diagnosticada com transtorno hipocondríaco há três anos, Carla hoje faz psicoterapia e meditação uma vez por semana. Ela ainda sofre com os sintomas e com as consequências de uma disfunção pouco compreendida pelo companheiro e pelos pais. “Meu marido vê como frescura, ele acha que é algo que eu consigo controlar.” Antes, ele até a acompanhava ao hospital, mas hoje Carla acaba indo sozinha.
Desde 2013, a hipocondria está classificada dentro do transtorno de ansiedade. No caso de Carla, o diagnóstico abrange ainda bipolaridade, o que também faz oscilar bastante seu humor – mais uma justificativa para sua demissão, segundo a professora. Para controlar esses distúrbios, ela toma remédios com acompanhamento médico. “Esses meu marido até entende, mas a hipocondria não.”
A carioca acredita tanto que tem alguma doença que duvida de todos os exames e profissionais que lhe dizem o contrário. Uma semana antes da entrevista, por exemplo, sentiu coceira em diversas partes do corpo, febre persistente, cansaço e mal-estar. “Fui a três médicos e todos me falaram que não era nada, mas estou conversando com você agora e achando que é câncer e que vou morrer”, afirma.
Há quatro meses, era outra suspeita que a consumia. No terceiro dia de um torcicolo, foi ao hospital acreditando se tratar de um problema mais grave. Novamente, fez uma bateria de exames e todos deram negativos. “A médica disse que demorou a passar justamente por causa da minha ansiedade.” Mas Carla não ficou satisfeita. “Eu ainda acho que tem a ver com câncer de pescoço e que vou morrer.”
Não foram as primeiras vezes que ela acreditou ter câncer. Meses antes, Carla havia perdido peso, estava com febre e muito cansada. Fez três hemogramas em apenas dois meses, todos com resultados negativos para doenças. Mas ela continua a acreditar que está com leucemia linfóide aguda. E que irá morrer.
Este, como todos os outros diagnósticos, Carla tirou de pesquisas na internet. Seu marido já chegou a cortar o sinal da rede em sua casa por uma semana para impedir que a professora pesquisasse doenças. Mas acaba cedendo à curiosidade e à preocupação.