Diagnóstico à flor da pele: como a tatuagem se tornou uma aliada de diabéticos

Pacientes da doença estão sinalizando o quadro clínico no corpo como forma de se prevenir de tratamentos inadequados em casos de emergência

27º Curso Estado de Jornalismo

Rafael Gonzaga

A carteirinha de identificação do diabetes foi, durante muito tempo, companheira inseparável de quem recebia esse diagnóstico. Mas essa relação parece estar com os dias contados: a tatuagem para identificar o diabetes é uma das formas que pessoas com a doença encontraram para sinalizar seus prontuários no próprio corpo.

Lucas Frasca

O fotógrafo Lucas Frasca, de 35 anos, é um dos que resolveram gravar o alerta na pele. Paciente de diabetes tipo 1 desde os cinco anos de idade, fez a tatuagem em 2013 para evitar receber algum tipo de atendimento médico inadequado em caso de emergência. “Pouco depois de completar 20 anos, comecei a sentir que as coisas estavam ficando mais complicadas. Eu sempre tive hipoglicemia, mas foi quando apaguei pela primeira vez”, lembra. Endocrinologistas consultados por ele confirmaram que, em média, um diabético vive bem com a doença durante 20 anos, até que alguns problemas começam a aparecer.

Há cerca de dois anos, o fotógrafo estava dirigindo quando os níveis de açúcar em seu sangue caíram muito e ele desmaiou. Quando acordou, já tinha batido o carro em um poste. “Se me levam para um hospital e recebo soro normal, que tem glicose, isso pode ser perigoso”, explica.

Sergio Leds, tatuador há 35 anos e fundador do Estúdio de Tatuagem Led’s Tattoo, em São Paulo, participou de uma ação para estimular a tatuagem em pacientes diabéticos. “Fica mais fácil (identificar o diabetes) com a tatuagem no antebraço. No caso de um contratempo, já se sabe que alguém é diabético, as pessoas ficam atentas a algum tipo de procedimento necessário. A informação não se perde.”

Vanessa Pirollo, coordenadora de projetos especiais da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ - Diabetes Brasil), diz que houve resistência de médicos mais conservadores à parceria com o estúdio de tatuagem. Experiências internacionais bem-sucedidas contribuíram para reunir apoio da maior parte dos profissionais. “Nos EUA, está acontecendo o mesmo movimento. É uma forma de agilizar o atendimento caso a pessoa esteja inconsciente. Ao identificar a tatuagem, será possível medir a glicemia para saber por que o paciente está desacordado. Se ele estiver com hiperglicemia e receber soro glicosado, pode morrer.”