Nem as dores de caminhar 950 quilômetros no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, fizeram Angel Piñeiro, 53 anos, tomar remédios. Mesmo com recomendação dos guias da viagem para usar analgésicos, o empresário não se medicou para curar a inflamação na sola do pé. Ele não é o único a adotar essa postura: muitas pessoas preferem evitar medicamentos, seja por filosofia de vida, pelos efeitos adversos ou por medo da dependência. “Existe um grupo que conscientemente decide não usar e tem uma grande resistência em tomar remédios. É um direito, desde que tenham consciência do que estão fazendo e mudem seu estilo de vida”, diz a professora Silvana Leite, do Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Piñeiro já não toma remédios há quatro anos. Decidiu parar desde que sentiu que as pílulas faziam mal ao seu corpo e que doenças mais simples melhoravam apenas com o tempo. Hoje não guarda nenhum medicamento em casa. “Me preocupa mais saber o que está causando a dor do que aliviar os sintomas. A qualidade de vida é muito maior quando você trata a dor como aliada”, diz. Mas ele garante que procura um profissional de saúde se os sintomas demoram a passar, conforme recomenda a farmacêutica Silvana.
O médico Jacob Faintuch, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, diz que é importante respeitar as convicções dos pacientes, exceto quando os sintomas se agravam. “Remédios são sempre essenciais? Não, mas o risco de não tomar nenhum é grande”. Para ele, saber a condição física da pessoa é fundamental na hora de definir o tratamento. Por exemplo: se a pessoa é saudável, alguns sintomas podem esperar, mas se for um hipertenso ou diabético, Faintuch recomenda atenção.