Summit Saúde 2018

‘Será possível mapear o DNA por US$ 500'

Ao 'Estado', um dos principais especialistas mundiais fala sobre como os avanços do Projeto Genoma chegarão ao dia a dia; e sugere leis para estabelecer limites éticos

22 de agosto de 2018
Para Snyder, estudos sobre genética podem ajudar em novos tratamentos STEVE FISCH/STANFORD SCHOOL OF MEDICINE
Fabiana Cambricoli

Quinze anos após a conclusão do Projeto Genoma Humano, o sequenciamento genético de cada indivíduo, útil para indicar predisposição a doenças e até definir os melhores tratamentos para cada paciente, ainda não está acessível para a maioria das pessoas. Essa realidade, porém, pode mudar em breve. Ao Estado, Michael Snyder, professor da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, autor de Genômica e Medicina Personalizada e um dos maiores especialistas em genética do mundo, diz que o mapeamento completo do DNA humano, que já chegou a custar U$ 100 mil no início do século, deverá estar disponível por U$ 500 em 2019. A queda no preço do serviço daria a mais gente a oportunidade de descobrir de forma precoce, por exemplo, a ocorrência de mutações que predispõem ao câncer.

Há cerca de 15 anos, o Projeto Genoma Humano era finalizado, o que representou um grande marco para a ciência. Passado esse tempo, quais são as principais questões que permanecem sem solução?

Ainda não sabemos o que a maioria dos genes fazem. Além disso, ainda não entendemos o código que liga e desliga os genes durante o desenvolvimento da doença.

Quais são as especialidades médicas com as quais a genômica têm mais contribuído?

Ela está tendo enorme impacto em três áreas: teste pré-natal para anormalidades cromossômicas, câncer e doenças infantis não resolvidas.

E as áreas que essa ciência precisa ser melhor aproveitada?

Nós não entendemos como a resistência ao tratamento de um câncer ocorre nem o por quê de algumas pessoas responderem (ao tratamento) e outras não. Também ainda não sabemos a melhor maneira de levar a genômica a pessoas saudáveis. O maior desafio é quem paga. Nossa capacidade de prever o risco de doenças para pessoas saudáveis é fraca.

O senhor acredita que técnicas como o sequenciamento do genoma estarão disponíveis a preços acessíveis?

Pode demorar, mas os preços estão caindo rapidamente. A maioria acha que vai custar U$ 500 no ano que vem.

Há uma discussão hoje sobre questões éticas envolvendo os avanços da genética e a possibilidade de discriminação contra pacientes com predisposição a certas doenças. Como equilibrar o progresso da ciência nesta área e garantir os direitos individuais, evitando a discriminação?

Nos Estados Unidos, há uma lei que diz que você não pode discriminar pessoas em seguros de saúde e empregos com base em informações genéticas. Leis que salvaguardam as pessoas são importantes.

Além de um renomado cientista, o senhor é fundador de empresas que usam tecnologia para descobertas em saúde. Quais desses projetos pode destacar?

A Protometrix, por exemplo, produziu fragmentos de proteína que milhares de laboratórios passaram a usar. A Personalis está sequenciando o genoma do câncer e ajudando nos tratamentos. A SensOmics está resolvendo doenças neurodegenerativas na China. E outras empresas estão apenas começando.

Assista aos vídeos do evento ▶︎