Summit Saúde 2018

Fundos e startups vão modelar futuro do setor

Inovação exige investimentos e apostas estratégicas; grupos de medicina diagnóstica servem como exemplo

22 de agosto de 2018
Termocicladores do Fleury: os equipamentos utilizados na técnica de PCR (sequenciamento automático) Nilton Fukuda/Estadão
Matheus Mans, especial para o Estado

Na sede do Grupo Fleury, na região sul da cidade de São Paulo, a palavra de ordem nos últimos tempos é a inovação. Afinal, a empresa de medicina diagnóstica percebeu que a saúde no Brasil está, finalmente, passando pela transformação tecnológica que os setores financeiro e agrícola tiveram recentemente. E para não se perder, remodelou-se: passou a fazer investimentos, fez parcerias estratégicas e até pensa em adquirir novas startups.

“Não poderíamos ficar passíveis agora. Lançamos 150 produtos para testes, de exames até genômica; investimos em inteligência artificial para facilitar a relação com clientes; e estamos animados com novas parcerias e investimentos que queremos com startups”,afirma o gerente de estratégia e inovação, Rodolpho Meschgrahw.

A mudança de postura do Fleury, que já fez aporte de US$ 2 milhões no fundo israelense Qure, não é um movimento solitário. Desde a abertura do setor de saúde ao capital estrangeiro, startups, empresas e fundos tentam encontrar meios de auxiliar hospitais, médicos e pacientes, enquanto também buscam uma fatia do mercado, com movimentação de R$ 546 bilhões entre 2010 e 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Os empreendedores estão cada vez mais maduros, as startups encontram ótimas saídas e, de forma natural, empresas tradicionais e fundos de investimento ficam mais interessados em vir ao País ou ampliar a forma que atuam”, contextualiza o diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Rafael Ribeiro.

O Hospital Albert Einstein, por exemplo, abriu uma incubadora, no fim de 2017, para colocar startups do setor por perto, facilitando parcerias e possíveis investimentos. Depois disso, já investiu cerca de R$ 500 mil em 12 empresas, enquanto mantém parceria com 25.

O Grupo Dasa, também da área de medicina diagnóstica, tem investido em várias startups de todo o mundo pra criar coproduções tecnológicas. Nessa troca, a empresa enfatiza a adoção de inovação na forma de funcionamento da companhia e a utilização de tecnologias como entrega de exames por meio de drones, algoritmos que detectam possíveis pacientes ausentes e, até mesmo, aprimoramento e popularização de exames para sequenciamento genético. “Daqui a 20 anos, vamos olhar para trás e ficaremos surpresos com o quanto mudamos. Não só em relação aos produtos, mas também na forma que tratamos os pacientes”, diz o vice-presidente da área médica do Grupo Dasa, Emerson Gasparetto.

Além das empresas tradicionais que estão se transformando para encarar o novo mercado de inovação, investidoras também começam a se especializar em saúde. É o caso da GROW+, fundo gaúcho que está vendo seu braço especializado na área, o HEALTH+, ganhar mais corpo e força dentro do mercado de inovação.

Benefícios. E os benefícios não podem ser notados apenas na parte empresarial. Uma empresa que viu seu espaço crescer nos últimos anos foi a LAURA, startup gaúcha de inteligência artificial que já está em cinco hospitais e, segundo seus criadores, ajuda a salvar uma vida por dia desde julho de 2017, quando passou a ser usada de forma mais intensiva em exames, cirurgias e consultas.

US$ 2 milhões foi o valor investido pelo Grupo Fleury no fundo de investimentos Qure

Parceria com SUS e indústria é vital

Empresas do setor procuram fintechs, governos e indústria para ampliar serviços e torná-los mais acessíveis

Busca de parceiros vai muito além de clínicas Léo Martins/Estadão
Fabiana Cambricoli

Os debates no Summit Saúde mostraram que, depois de se consolidarem no mercado oferecendo assistência à saúde de forma mais rápida do que o Sistema Único de Saúde (SUS) e de forma mais barata do que em convênios médicos, startups da área têm a necessidade de firmar parcerias com fintechs, governos e indústrias farmacêuticas para ampliar serviços prestados e torná-los acessíveis a uma parcela maior da população.

CEO da VidaClass, plataforma que oferece descontos em consultas, exames, medicamentos e até internações, Vitor Moura destacou que uma abordagem mais integral foi crucial para o crescimento do negócio. “Começamos a perceber que não tínhamos de buscar soluções somente na área de assistência, mas também em outras necessidades do paciente, como melhores formas de financiamento para que ele pudesse pagar pelos procedimentos de saúde”, relatou.

O mesmo desafio foi observado pela equipe do Consulta do Bem. “Primeiro, tínhamos parcerias com clínicas somente para oferecer consultas, depois percebemos que o paciente precisava de um seguimento e fomos buscando parceiros”, comentou Marcus Vinicius Gimenes, CEO da empresa.

Os dois destacam que outra parceria que poderia ser benéfica para empresas, pacientes e sistema público seria a integração das startups com o Sistema Único de Saúde. “O problema do SUS não é a qualidade, é o acesso e a realização do diagnóstico precoce, que conseguimos fazer com mais rapidez”, destacou Moura.

Outro setor interessado em cooperar é a indústria farmacêutica. A vice-presidente de Sustentabilidade e Novos Negócios da Eurofarma, Maria del Pilar Muñoz, contou sobre a iniciativa da companhia que oferece, em parceria com a Endeavor, mentoria e apoio a 12 empreendedores para que apresentem soluções de farmacêutica. Diretora-geral da Endeavor Brasil, Camilla Junqueira ressaltou que “o momento é propício para inovação”.

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