Summit Saúde 2018

Queixas põem País na UTI

Brasil é o pior em pesquisa mundial; 34% dizem não receber os cuidados que necessitam

22 de agosto de 2018

Paula Felix

A visão geral que o brasileiro tem sobre a saúde no País, desde o acesso até o atendimento médico, está na “UTI”, aguardando alta. Foi considerada a pior entre 28 países que participaram de um levantamento inédito feito pela Ipsos, empresa global do setor de pesquisas. O levantamento, feito entre maio e junho com 23,2 mil pessoas – incluindo 1.200 brasileiros –, apontou que 57% dos entrevistados classificam a área como ruim no Brasil.

Além das queixas relacionadas à saúde de um modo geral, o índice de confiança com o setor é baixo. Apenas 20% afirmaram confiar que o sistema de saúde do País oferece o melhor tratamento, enquanto a média global foi de 40%. Nesse quesito, a Espanha lidera o índice de confiança, com 64%, e a Hungria foi a última (13%).

Quando questionados se recebem todos os cuidados médicos de que necessitam, três em cada dez (34%) concordaram. Menos que a média global (49%). “O brasileiro ficou um pouco mais crítico. Antes era mais resiliente e, hoje, somos mais sinceros. A pesquisa mostrou que ficamos muito distantes de países como a Índia, que está no bloco das melhores avaliações, e estamos falando de algumas nações que são semelhantes”, avalia Fabrizio Rodrigues Maciel, líder da Service Line HealthCare na Ipsos.

O destaque da Índia se deu, principalmente, no primeiro bloco da pesquisa Global Views of Healthcare 2018, que destacou os hábitos dos participantes que influenciam na qualidade de vida e na saúde, como prática de exercícios físicos e dieta saudável. Nesses indicadores, o brasileiro apresenta uma visão mais otimista. No balanço mundial, 56% das pessoas afirmaram ter boa saúde e o índice foi de 55% no Brasil – a Índia lidera com 70% das respostas positivas.

O quadro muda quando a avaliação diz respeito ao sistema de saúde, sem considerar se é público ou privado. “Há uma noção geral de que o investimento na área está caindo”, observa Maciel.

A questão da desigualdade social no País ficou evidente em dois pontos. O primeiro foi na afirmação “muitas pessoas não podem pagar por bons cuidados de saúde”, em que 74% das pessoas ouvidas no Brasil concordaram. E 66% da população acredita que o País não oferece o mesmo padrão de serviço para todos. Nesses quesitos, os índices globais foram de 59% e 40%, respectivamente.

Problemas. No que diz respeito aos principais problemas do sistema de saúde, a lista brasileira ficou diferente da avaliação mundial. Os cinco maiores problemas, na visão dos entrevistados, foram: falta de investimento (47%), falta de investimento em saúde preventiva (38%), dificuldade de acesso ao tratamento/ longa espera (35%), tratamento com qualidade ruim (32%) e burocracia (26%).

A população mundial destacou dificuldade de acesso ao tratamento/longa (41%), falta de equipe (36%), custos de acesso ao tratamento (32%), burocracia (26%) e falta de investimento em saúde preventiva (21%).

Coordenadora da FGV Saúde, Ana Maria Malik afirma que o brasileiro está mais desanimado e pessimista, mas pondera que o modo de ver o setor costuma mudar quando o paciente sai da fila de espera e começa a receber o atendimento. “Quando se ouve quem já está sendo atendido, isso costuma levar a resultados positivos, porque o sistema de saúde, de modo geral, atende e recebe bem.”

Planos. O Ministério da Saúde informou, em nota, que 160 milhões de brasileiros são atendidos exclusivamente pela rede pública de saúde atualmente. “A rede realiza anualmente 3,9 milhões de procedimentos ambulatoriais, 11,6 milhões de internações, 1,4 bilhão de consultas e atendimentos (médicos e de outros profissionais) e 899 milhões de exames.”

A pasta ainda planeja a informatização das 41 mil unidades básicas de saúde existentes no Brasil, reforço da atenção básica e manter uma ação com outras áreas que contribuem para hábitos saudáveis, como os esportes. O Ministério da Saúde disse que conta com o comparecimento da população em campanhas de vacinação.

Já a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) diz que atua para melhorar a qualidade do atendimento prestado pelas operadoras de planos de saúde, como na mediação de conflitos entre as empresas e os usuários. A agência disse ainda que, no ano passado, do total de queixas recebidas, cerca de 90% foram resolvidas por meio da Notificação de Intermediação Preliminar. “A ANS destaca ainda o estabelecimento de prazos máximos para a realização de consultas, exames e cirurgias; a obrigatoriedade do fornecimento de informações sobre a cobertura assistencial; e a obrigatoriedade de canais de atendimento a usuários pelas operadoras.”

Ao contrário do que aconteceu em outras épocas, o brasileiro sabe que existe o dinheiro, mas há o mau uso. A análise vem muito pelos vários escândalos de corrupção.”
Fabrizio Rodrigues Maciel, líder da Service Line HealthCare na Ipsos

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