Summit Saúde 2018

Acesso a remédio de alto custo ainda constitui desafio

Altos impostos, indústria desregulada e exagero nas prescrições afetam preços de medicamentos inovadores no País

22 de agosto de 2018
Estabelecer a quem dar acesso prioritário foi um dos pontos mais debatidos Leo Martins/Estadão
Matheus Mans, especial para o Estado

De maneira cada vez mais rápida e eficiente, a indústria farmacêutica consegue encontrar medicamentos inovadores contra o câncer e a hepatite, por exemplo. Só que há um grande empecilho no meio do caminho: o preço. Afinal, esses novos medicamentos exigem longas pesquisas, encarecendo o valor repassado ao usuário final. O futuro, assim, ainda é repleto de desafios, observaram especialistas no evento de sexta-feira.

“O cenário econômico da indústria farmacêutica é bem diferente do que é praticado pelos outros mercados. Não há lei da oferta e da procura”, disse o professor da Universidade do Estado do Rio (Uerj), Denizar Vianna. “O valor do medicamento acaba sendo regulado de acordo com os gastos em pesquisa que os laboratórios repassam ao produto final. E o dinheiro gasto com essa pesquisa aumenta ainda mais com tecnologia e drogas específicas.”

Uma solução para o repasse de gastos ao medicamento, dificultando acesso e encarecendo os gastos do governo com saúde, ainda está longe de ser unânime. Mas possibilidades já estão sendo avaliadas. Para o diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Paulo Hoff, é preciso, antes de tudo, melhorar a prevenção e trabalhar para realizar diagnósticos mais rápidos. “Não dá mais para pensar apenas na doença e esquecer da saúde. É preciso mudar essa lógica.”

Outro ponto levantado pelos especialistas é a alta porcentagem de impostos aplicada em medicamentos, elevando em 42% o valor final. “O pior é que o governo aplica esses impostos para, depois, ele mesmo fazer a compra na maioria dos casos”, afirmou o presidente executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Pedro Bernardo.”

Previsível. Um dos pontos mais debatidos foi o uso mais preciso dos novos medicamentos. Ou seja: dar prioridade a essas drogas para pessoas que tenham mais chance de reagir contra a doença por meio de diagnósticos completos e previsíveis. “É preciso ter maior assertividade em quem usar esses medicamentos”, afirmou o diretor de acesso ao mercado, relações governamentais e operações comerciais na Roche Farma, Eduardo Calderari.

Paulo Hoff, do Instituto do Câncer de São Paulo, resumiu as questões levantadas em três frentes: economia, mercado e educação cultural. “Para melhorar o acesso a medicamentos caros e inovadores, o governo precisa ajudar com impostos; a indústria precisa pensar na precificação e no caráter social disso; e os médicos devem ser educados sobre a eficácia dos medicamentos que usam.”

“Não dá mais para pensar apenas na doença e esquecer da saúde. É preciso mudar essa lógica" Paulo Hoff, diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo

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