Summit Saúde 2018

‘Não é tratar. É pensar na saúde'

Convidado principal, Clay Johnston sugere fugir do tradicional e fazer o indivíduo se sentir ‘abraçado’

22 de agosto de 2018
Para especialista, é preciso buscar inovação Helvio Romero/Estadão
Paula Felix

Rever os métodos tradicionais da área da saúde é uma das estratégias adotadas por Clay Johnston, o primeiro reitor da Dell Medical School, da Universidade do Texas, em Austin, instituição que trabalha com soluções inovadoras para oferecer atendimento de qualidade com um olhar humanizado.

Convidado principal do Summit Saúde 2018, ele enfrentou o desafio de acompanhar o nascimento de uma universidade com o apoio da comunidade e de ajudar a desenhar um projeto para que ela tivesse retorno. “Votaram para pagar US$ 35 de imposto predial para ter essa universidade e não somos uma torre de marfim, dependemos da comunidade e temos de pensar e redesenhar o sistema médico para atendê-la.”

Para desenvolver o projeto, apostou na postura criativa e em uma análise detalhada sobre a necessidade de aquisição de determinadas tecnologias, além de métodos para fortalecer a relação médico-paciente. “O sistema de saúde está quebrado e estamos investindo em mais cuidado, mas não necessariamente é melhor tratar e, sim, pensar na saúde.”

Para explicar a necessidade de a área de saúde se desligar de estratégias tradicionais, ele compara o setor a uma rocha, que pode até sofrer o efeito da erosão, mas não muda. “Para fazermos cuidados especiais, teríamos de fazer pesquisas, mas esse sistema também está quebrado e dependemos do governo. É um ciclo demorado.”

Ele sugere que os projetos para reformular o setor busquem testar novas ideias e usar a criatividade. “Temos de ignorar as limitações e pensar fora da caixa, no ser humano.”

Petróleo. E não são apenas profissionais da saúde que podem participar desse processo, na avaliação do reitor. A universidade já contou com a ajuda da comunidade para otimizar serviços e há um espaço para ouvi-la, pois os moradores são pacientes e provedores. “A melhor ideia foi de um engenheiro da área de petróleo e gás e de um estudante, que apresentaram um laser que poderia substituir um serrote no corte de ossos.”

Johnston é um defensor da maior interação com os pacientes, de modo que sejam mais observados e ouvidos. “Estamos aqui para melhorar a vida das pessoas. Antes de pensar no paciente, temos de pensar para o paciente.”

O reitor afirma que a proximidade traz resultados em curto prazo, cria uma zona de conforto e faz com que o indivíduo se sinta “abraçado” pelo sistema de saúde. Uma das experiências que acompanhou foi uma reformulação no atendimento de dores nas articulações, que tinha longas filas para consulta com ortopedista. A ideia foi oferecer o espaço para que as pessoas pudessem falar sobre o que sentiam e os profissionais analisaram não só o local das dores, mas as condições emocionais dos pacientes. “Investimos energia na triagem e vimos que muitos não precisavam esperar pela consulta com um ortopedista, mas de um atendimento imediato.” Com a medida, houve queda no tempo de espera e nos custos.

Johnston destacou, durante sua apresentação, a necessidade de iniciativas que incentivem a medicina preventiva e o acompanhamento de pacientes que fazem algum tratamento médico. “Em três meses, as pessoas já não estão tomando a medicação de forma correta. Mensagens de texto teriam um impacto imenso. Temos de ir atrás da comunidade.”

Estamos gastando cada vez mais com a saúde, e, infelizmente, não estamos vendo mudanças acompanhando esses gastos Clay Johnston

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