Summit Saúde 2018

A transformação digital implica respeito aos limites éticos

Summit aponta que nem sempre os médicos estão preparados para agir quando o assunto é a privacidade de dados

22 de agosto de 2018
Linha que alcança a quebra de sigilo médico é tênue Leo Martins/Estadão
Samuel Antenor, especial para o Estado

Como em outros segmentos, o limite entre a inovação tecnológica e a ética médica preocupa profissionais que atuam na área, nem sempre preparados para agir quando o assunto é a privacidade de dados, como constataram especialistas no Summit Saúde. “Estamos no furor da transformação digital da saúde, na prática médica e na gestão, mas essa transformação tem implicações éticas que precisamos considerar e respeitar”, disse Reinaldo de Oliveira, professor de Bioética da Faculdade de Medicina da USP.

Para ele, embora no meio digital exista grande facilidade para troca de informações, a privacidade de dados dos pacientes deve estar sempre em primeiro lugar, pois a assimilação de novas ferramentas e tecnologias não pode alterar os princípios éticos que regem a conduta dos profissionais da área. O professor acredita que, atualmente, existe um processo emancipatório em relação ao paciente e sua saúde, facilitado pelo uso de novas tecnologias. “O consentimento consciente dá ao paciente a possibilidade de traçar com o médico suas diretivas, com autonomia, princípio importante que deve ser respeitado.”

Ainda que não haja sigilo absoluto nos meios digitais, os especialistas afirmaram que é preciso saber diferenciar compartilhamento de conhecimento de quebra de sigilo. Marcelo Felix, responsável pela estratégia digital em saúde do Hospital Albert Einstein, acredita que as tecnologias digitais são recursos importantes para a gestão da saúde, mas podem tornar mais fácil a exposição de pacientes. “Devemos sempre nos questionar até que ponto um dado divulgado cria conhecimento e, no ambiente hospitalar, manter atenção ao maior fator de proteção de dados, que é o comportamento de funcionários e pacientes”.

Fábio Tiepolo, fundador da Docway, startup que desenvolveu um aplicativo para agenda de consultas e exames em domicílio, disse que a conexão entre médicos e pacientes, mesmo quando fora do ambiente hospitalar, deve considerar preceitos éticos da Medicina. “O uso dessa tecnologia já foi regulamentado, mas a responsabilidade quanto ao sigilo precisa ser dividida entre todos os usuários.”

“Assim como os bancos mudaram o conceito de atendimento, com caixas eletrônicos e internet banking, o setor de saúde seguirá o caminho do atendimento conectado”, afirmou o especialista em tecnologia na área da saúde Chao Lung Wen, da Faculdade de Medicina da USP. Para isso, ele acredita ser preciso criar uma consciência social entre os profissionais da saúde, com base nos melhores comportamentos, e reforçar a importância de ética e responsabilidade na formação dos médicos e profissionais de saúde. “A área de saúde e medicina é dispersa e vulnerável e não há segurança perfeita. Se falta de cuidado ou prevenção é negligência, é preciso deixar claro que apropriação e uso indevido de dados é crime.”

"Os limites éticos da relação devem fazer com que o médico se mantenha como guardião de informações sigilosas do paciente" Reinaldo de Oliveira, professor de bioética da USP

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