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União São João de Araras

Em frente à Basílica Nossa Senhora do Patrocínio, na cidade de Araras, um grupo de velhinhos conversa animadamente. Dois sentam no banco, dois preferem ficar em pé e um quinto fica montado na bicicleta, pronto para sair pedalando. Apenas um gosta de futebol.

Estádio Hermínio Ometto, apesar de bem cuidado, está vazio: poucos funcionários fazem a manutenção do local

— Nosso negócio mesmo é bocha, resumiu um deles.

Sobre o União São João, que pediu licença para quem sabe voltar no ano que vem, não sabem muito.

— O pessoal aqui não liga muito para o time, não, definiu outro.

Essa também é a impressão do vice-presidente do União São João de Araras, Antonio Carlos Beloto. "Por ser um time empresa, a cidade parece que nunca teve uma identificação muito grande." Do alto das arquibancadas só se ouve o barulho do vento. Parece que apenas Beloto trabalha ali. Em sua sala, a única com as luzes acesas em todo o trajeto, do portão ao interior do estádio, ele retirou de uma pilha com dezenas de folhas iguais a nota oficial publicada no Facebook com os motivos que levaram ao fechamento do primeiro clube empresa do Brasil, onde nasceu o lateral Roberto Carlos, do Palmeiras, Real Madrid e seleção. Não foi a primeira e parece que não será a última vez que repetirá o gesto. “Está tudo aí, não tem muito o que dizer”, disse.

Vice-presidente do União São João de Araras, Antonio Carlos Beloto: “São apenas planos”, as ideias para recuperação do time e retorno ao futebol em 2016

A dívida do União São João chegou à cifra de R$ 15 milhões e só aumenta. “O time não tem nenhuma receita hoje, mas as contas continuam chegando” , disse Beloto, com os olhinhos pequenos fitando o vazio por detrás dos óculos ovais. Por mês, são R$ 50 mil na manutenção dos 128 mil metros quadrados e com o pequeno quadro de funcionários do clube. “A gente tem de cuidar do campo, do estádio, porque se deixar o mato toma conta. Aí não tem mais volta mesmo.” Além dos problemas financeiros, são necessárias obras para adequar o estádio e obter os laudos técnicos do Corpo de Bombeiros para jogos.

ANOS DE GLÓRIA


Os troféus dos anos de glória ficam expostos atrás de um vidro, na porta principal, perto do campo. Beloto aponta com orgulho a taça da Série B de 1996, um dos pontos altos do time. “Isso aqui (o clube) significa uma vida toda pra mim. São 34 anos de dedicação.”

Em pouco menos de 20 anos, o time fez uma grande campanha: em 1987 subiu para a Série C do Campeonato Brasileiro e, em nove anos, se sagraria campeão da Série B. Um ano depois, a equipe era considerada a melhor do Campeonato Paulista do Interior e, em 2002, viria o vice-campeonato paulista. Daí em diante, a direção do clube de Araras atribui à “máfia do apito” a responsabilidade pelo empurrão inicial na ladeira que o União rolou. “Quando foi rebaixado em 2005, da 1ª para a 2ª divisão, naquele fatídico jogo contra o já rebaixado União Barbarense (derrota de 3 a 1) aqui em Araras, no dia 17 de abril de 2005, meses depois veio à tona a Máfia do Apito”, dizia a nota. O árbitro da partida, Edilson Pereira de Carvalho, estava implicado na rede de corrupção montada para condicionar resultados das partidas. Foi um escândalo nacional.

Troféus do União São João, que revelou o jogador Roberto Carlos

“A oportunidade que o time ofereceu a atletas para se revelar não poderia acabar. Léo, do Santos, Luan, do Cruzeiro, Borges, na Ponte Preta”, contabilizou Beloto. Sem falar da maior delas: o lateral-esquerdo Roberto Carlos, que passou pelo Palmeiras, pelo Real Madri, pela seleção brasileira e, mais recentemente antes da aposentadoria, pelo Corinthians. Em 1992, ele foi vendido ao Palmeiras por US$ 500 mil, na maior transação da história do futebol ararense.

No Centro da cidade, o chaveiro Paulo Xavier, cheio de serviço, parou para falar da grande paixão pelo time de Araras e sobre como conheceu o craque Roberto Carlos, que tinha casa na região mesmo morando na Espanha. Durante o trabalho em uma chácara, ele reparou que tinha um mural cheio de fotos do lateral-esquerdo.

— O senhor é fã do Roberto Carlos, não?

— Ele é meu sobrinho.

— Puxa, que legal…

Muito brincalhão, ele perguntou:

— E quando eu posso conhecê-lo?

— Ah, acho que sábado ele vai estar por aqui. Eu passo lá na sua loja com ele.

O rapaz saiu de lá duvidando.

— Até parece…

Eis que no sábado prometido, de manhã, uma Mercedes-Benz para na porta da sua loja e desce o dono da chácara.

— E ai, Xavier! Vamos lá tomar um café com o Betinho?

“Desse dia em diante, ele me disse que só eu faria serviço de chaves para a família dele. Por que o pai mora aqui pertinho, em Cordeirópolis.”

Natural de Jacareí, Paulo Xavier chegou a Araras em 1991 e se encantou pelo União São João. “Era mais fácil eu estar dentro do estádio do que em casa.” Em 2012, quando o time amargava a segunda divisão, criou a Associação entre Amigos do União. No celular, são várias as fotos de amistosos realizados no estádio do União. “Esse aqui é o Nelinho, o ‘canhão das Américas’, esse é o Ailton Lira, esse é o Piá, aquele que foi preso recentemente como chefe de quadrilha que assaltava banco...”

O literalmente torcedor de carteirinha do União: Paulo Sérgio Xavier

Passando pelas fotos, lembra do ano de 2010, marcante para ele. Estava no estádio acompanhando uma partida do União quando, pelo sistema de som, o treinador Luís Carlos Ferreira solicitou a presença dele no vestiário. O chaveiro estranhou, mas foi. Chegando lá, descobriu o motivo. “Ele queria que eu fizesse a preleção para os jogadores, cara! Já pensou?”

Por enquanto, para Beloto, Xavier e os outros tantos torcedores do União São João de Araras, restam apenas as lembranças de dias gloriosos e as incertezas de um futuro que ninguém sabe quando virá, traduzido pelo ‘até breve’ da nota oficial. “Tudo o que temos são planos: alguém comprar o clube, uma empresa vir tocar”, afirmou o vice-presidente. O sorriso do Xavier brincalhão, que parece conhecer todos em Araras, desaparece quando a saudade passa diante dos olhos, vestida de verde e branco, as cores do seu União.