As placas de “anuncie aqui” pregadas sobre os bancos de reserva na casa do Rio Branco de Americana, o estádio municipal Décio Vitta, são um constante lembrete aos visitantes da situação econômica do clube. Do alto da arquibancada é impossível assistir aos meninos da base treinarem e não olhar para as letras garrafais. Lá dentro, na sala de reuniões do clube, o diretor de marketing Alexandre Marcus fazia uma apresentação do novo programa de sócio-torcedor a jornalistas locais.
“Não dá mais para pensar no sócio-torcedor apenas como um investidor no time, tem de trazer vantagens atrativas para ele.”
Quem fala pelo time é o diretor de futebol Airton Moraes, que veio com a empresa Zaka Sports, responsável por operacionalizar as atividades do futebol. “Nós montamos um time com os recursos da própria Zaka Sports”, disse. O objetivo, segundo ele, era ser campeão da Série A2. Para o supervisor de futebol e funcionário mais antigo do Tigre, Xororó, a gestão funcionou, mas faltou planejamento na hora de escolher os atletas.
“Hoje a equipe passa por crise de credibilidade junto às empresas da cidade e nós não conseguimos patrocínio algum”, justificou Moraes. Nas épocas áureas, o estádio era visitado até por noivas que queriam fazer ensaios fotográficos para o casamento. Tudo era do bom e do melhor, com mais de oito mil sócios-torcedores no início dos anos 1990.
Moraes não disse quanto o Rio Branco deve no mercado, mas, em 2010, esse valor alcançava os R$ 10 milhões. O “descrédito” acompanhou a torcida também. “A organizada (Malucos do Tigre) é fanática, doente pelo clube, já o pessoal ‘avulso’ não tem comparecido muito. O futebol não corresponde, a torcida não aparece.”
Um desses fanáticos é José Carlos dos Reis, conhecido como Niquima. Ele faz parte da organizada desde os 14 anos - hoje tem 45 - e já passou por todos os altos e baixos do clube nas últimas décadas. “Quando caiu no Estadual pela primeira vez, e a partir daquele momento começou a decadência, achei que tinha acabado tudo”, lembrou. Mas ele recorda também dos 17 anos que o Rio Branco passou jogando sem descer para a Segundona. Nesse período até cabine de rádio já invadiram na alegria da vitória. “Você ver um clube que revelou tanta gente numa situação assim é um pesadelo.”
O Rio Branco tenta trabalhar para retornar à categoria de celeiro de bons atletas, mas para isso precisa de recursos. Xororó conta que 2001 foi o último ano de boas vendas para o Rio Branco. “A partir daí, acabou”, disse, em sua sala no estádio Décio Vitta. Para se ter uma ideia do peso do “clube formador”, o Rio Branco de Americana foi o único a ter numa mesma Copa do Mundo, em 2006, atletas revelados por ele atuando por três seleções diferentes: Marcos Senna na seleção espanhola, Zinha, na mexicana, e Mineiro pela seleção brasileira.
A lista de jogadores talentosos forjados em sua base é longa: Anaílson, Flávio Conceição, Mineiro, Gabriel Lima, Gustavo, Igor, Macedo, Marcelinho Paraíba, Marcinho, Marcos Assunção, Marcos Senna, Rafael, Sandro Hiroshi, Souza, Thiago Ribeiro, Diego Magalhães Pinto e por aí vai. “Se eu disser que vai ter teste do Rio Branco, junta fácil 500, 800 moleques aí na porta”, diz Xororó. “A Lei Pelé deu o corte e os diretores sentiram. Eles acharam que a bonança nunca ia acabar.”
Com 55 anos, dedicou metade da vida ao Rio Branco. “É minha segunda casa. Acho que fico mais aqui do que lá. E às vezes em época de campeonato você não tem nem folga.”
Nada, no entanto, abalou até agora suas esperanças. “Apesar de muita gente achar que é uma instituição que está falida, acho que tem tudo para voltar à elite e bater de frente com os grandões lá de cima, Palmeiras, Corinthians, Santos, São Paulo.” As cinco categorias - Sub-11, 13, 15, 17 e 20 - participam do Paulista.
“O São Paulo campeão mundial veio aqui e perdeu pra nós, com 19 mil pessoas no estádio. E veio completo: Muller, Silas, Zetti. O Rio Branco vai voltar a ser o terror do Interior.”