Selecione e veja a situação atual dos clubes:

Sãocarlense XV de Jaú Mirassol Comercial Francana Inter de Limeira União São João de Araras Paulista de Jundiaí Guarani Rio Branco

Marília

No bairro Nova Gerti, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, os vizinhos talvez nem desconfiem de que há ouro escondido num dos simpáticos sobrados das tantas ladeiras da região. Não há mapas que levem até ele. Tampouco é possível roubá-lo, afinal, o metal precioso compõe os fios de um bordado firmemente costurado a uma camisa de edição limitada do Marília Atlético Clube (MAC). A preciosidade faz parte da coleção de mais de 200 peças do dentista mariliense Wilson Jinno.

Amigos de décadas, os torcedores Wilson Santos, que compôs um hino ao MAC, e Roberto Schorr, que levava os netos desde pequenos para acompanhar o Marília

Todas elas ficam dobradas e cuidadosamente arrumadas dentro de sacos transparentes, que por sua vez moram em caixas de plástico ao lado de potinhos de uma substância para retirar a umidade. “Antes minha mulher ficava brava, mas agora ela já acostumou. Também não tinha muito o que fazer”, reflete Jinno. Nem a filha de três anos escapou de sua paixão pelo time. “Eu queria que ela chamasse Marília, mas como minha esposa teve um parto muito difícil e deu tudo certo, chamamos de Vitória Marília.”

O torcedor fanático Wilson Jinno e sua coleção de mais de 200 camisas do Marília

Dentista tem mais de 200 camisas do Marília dos anos 1980 a edições comemorativas limitadas, Wilson Jinno apoia o time em todas as circunstâncias. No último jogo do MAC, apenas ele e dois amigos incentivavam o clube do alto da arquibancada:


O japonês, ao lado de dois amigos, acompanhou o MAC por quase todos os cantos do estado onde a equipe foi jogar. Na última partida, com o Marília já rebaixado na pior campanha de todos os tempos e apenas dois pontos conquistados no Campeonato Paulista deste ano, os três tentavam empurrar o time para cima, sozinhos na arquibancada. No banco de reservas, a situação não era muito diferente: sobraram 12 atletas no fim da competição, 11 titulares e apenas o goleiro de reserva.

Na prédio administrativo do Abreuzão, atrás de um notebook e uma pilha de notas fiscais, recibos e outros documentos, o presidente do Marília, Ednaldo de Souza Costa, esfrega os olhos. Suas olheiras são profundas.

Um dos proprietários da loja oficial do Marília, Marcos Miguel: “A venda dos produtos caiu mais de 50% depois do rebaixamento do MAC”

— O senhor parece cansado.

— Tive de ficar acordado até tarde na noite anterior, trabalhando numas planilhas. O dinheiro do Marília está na mão do juiz. A gente precisa prestar contas de tudo o que faz.

Boa parte do que o time recebe vai parar direto nas mãos da Justiça do Trabalho. A dívida geral do MAC beira os R$ 15 milhões - só as trabalhistas somam R$ 5 milhões. “A situação financeira é horrível. Para você ter uma ideia, o Marília ficou dois anos sem contabilidade”, explicou.

Os problemas se agravaram com a terceirização da gestão do clube, em 2012. À empresa cabia a captação de recursos, a venda de jogadores, a administração da bilheteria do estádio, o patrocínio e o compromisso de saldar os salários de funcionários, comissão técnica e jogadores. A relação azedou e em janeiro o contrato foi encerrado pelo lado do clube por quebra de cláusulas. Virou caso de polícia.

“Eles ganharam com uma liminar na Justiça o direito de reassumir o Marília e vieram com policiais aqui”, contou Ednaldo. “Mas aí o mesmo juiz que deu a liminar a cassou, depois que ouviu o nosso lado.” A empresa teria deixado mais de R$ 2 milhões em dívidas. “Só a folha de pagamento dos jogadores e da comissão técnica ultrapassava os R$ 550 mil. Foi um erro grande de planejamento”, lamentou o presidente. As contas agora estão em sua mesa.

Na voz de Ednaldo, há um sentimento de gratidão por aqueles que resolveram terminar o campeonato pelo time. “A gente prometeu para os jogadores que pagaria 50% dos salários. Por isso que o Marília conseguiu terminar o Paulista, de maneira honrosa, com apenas 12 jogadores.” Os reflexos do rebaixamento e da péssima campanha do MAC ultrapassaram o portão principal do estádio e chegaram ao outro lado da Avenida Vicente Ferreira, na loja oficial do clube. Em meio às camisas, canecas e chaveiros, um dos proprietários do lugar, Marcos Miguel, anotou prejuízo e queda de mais de 50% das vendas depois da descida para a Série A2 do Estadual.

Presidente do Marília, Ednaldo de Souza Costa trabalha em conjunto com a Justiça do Trabalho para administrar as receitas e as despesas do clube

Professor compôs hino para o MAC, Wilson dos Santos quer cantá-lo quando o Marília retornar à A1 do Paulistão; clube teve a pior campanha da história neste ano:


E a situação tende a ficar pior. “Dos patrocinadores, a Universidade de Marília disse que vai sair, a Unimed só dá os medicamentos, a Jazzan, de doces, nem é de Marília”, comentou o dirigente. Uma importante perda foi a Marilan, grande no setor alimentício, não patrocinar mais. A razão? “O cara queria receber do Marília e acionava o time e o patrocinador na Justiça.”

RETOMADA


O ex-secretário de Educação da cidade, Roberto Nicolau Schorr, acompanha o amigo e professor Wilson Ferreira Santos até o Abreuzão. Lá, Wilson vai entoar o hino que compôs para quando o Marília retornar à Série A1 do Campeonato Paulista. Ele está apressado porque o filho vem buscá-lo. “O estádio é o nosso ponto de encontro aos domingos", explicou, baixinho, Roberto, enquanto o amigo, a plenos pulmões, cantava a música do time do coração. “Quando eram pequenos, nas férias escolares, os netos ligavam para eu ir buscá-los e perguntavam se íamos ao estádio. O que eles correram nesse campo…” Em 1975, ele chegou até a comprar cadeira cativa do clube e não perdia um só jogo. “Hoje os netos estão todos grandes, então é a gente que tem de ir pra lá.”

>