Ceia baiana para todos os santos


Carla Pernambuco
Leila Carreiro


Samba chula na terra da maniçoba

Texto: Daniel Telles Marques
Foto: Felipe Rau/estadão
"O Recôncavo é uma cavidade geográfica na Bahia, uma proteção", explicou Carla Pernambuco ao apresentar Leila Carreiro, cozinheira e proprietária do Dona Mariquita, restaurante de comida baiana em Salvador responsável pelo banquete da noite. A proteção geográfica talvez explique o desconhecimento da região fora da Bahia. O Recôncavo é um espaço próprio: com música, comida e falar peculiares. Para alguns, a terra de Caetano Veloso e Maria Bethânia, para outros, da maniçoba (espécie de feijoada feita com folhas de mandioca).

E foi a região que Leila revelou nas panelas e na língua, com sotaque acentuado ao dizer o nome de cada ingrediente, com termos próprios do Recôncavo (do molho lambão -- “molho fraco, fouxo”--; ao pirão de cachorro -- “feito apenas com alho, farinha e água”).

O sincretismo baiano explica 'todos os santos' do nome da aula "Ceia para Todos os Santos'. Moqueca de caju e castanha verde (o maturi), cuscuz de Maragojipe (município famoso na Bahia por suas cerâmicas), preparado com farinha -- ingrediente associado a Exu, mungunzá (mingau de milho branco com leite de coco), atribuídos aos gostos de Oxalá e Nanã; arroz de hauçá (preparado com coco, carne seca e camarão defumado), prato dos negros malês, de origem mulçamana e moqueca de índio, preparada com pititinga apimentada (pequeno peixe típico dos mares baianos).

A chef do Dona Mariquita explicou a necessidade de resgatar pratos sumidos do cardápio baiano, caso da moqueca de índio, antes encontrada nos tabuleiros das baianas e do acaçá, pamonha branca feita com milho fermentado e leite de coco.

Para continuar no clima do Recônvavo, a aula terminou em samba chula, gênero típico da região, na voz de Mariene de Castro, cantando 'Eu vim de Ilha de Maré'.



Arroz de hauçá
Cuscuz maragojipano

Moqueca de caju com maturi

Moqueca de Índio

Pititinga (peixe)
Carne de fumeiro
Maturi