Política Externa

Rússia

No início do primeiro mandato, falou em reconstruir a relação com Moscou. Mas as relações, que foram conturbadas durante o governo de Dimitri Medvedev (2008-2012), pioraram com a volta de Vladimir Putin, especialmente após invasão russa da Ucrânia. Obama termina seu governo com um pacote de sanções contra a Rússia, que promoveu uma série de ciberataques para influenciar o resultado das eleições americanas.

Ninguém sabe ao certo até que ponto vai sua admiração pelo presidente russo. Durante a campanha, Trump disse que Putin "faz um grande trabalho" à frente do Kremlin e trocou afagos com o ele pelo Twitter. Após sua vitória, em novembro, o magnata acenou com a possibilidade de ambos cooperarem em ações contra o Estado Islâmico e nomeou como secretário de Estado Rex Tillerson, um conhecido amigo de Putin.

China

Considerava os laços com Pequim como "a mais importante relação bilateral do século 21". Foi o primeiro presidente americano a visitar a China em seu primeiro ano de mandato. Com o tempo, no entanto, as coisas tomaram outro rumo. Obama recebeu o dalai lama, propôs a venda de armas para Taiwan, pressionou os chineses durante as negociações climáticas e se aproximou de aliados regionais, como Vietnã e Filipinas, que se sentem ameaçados pelo expansionismo da China.

Se depender das declarações do presidente eleito durante a campanha, as relações entre EUA e China tendem a piorar. Em dezembro, Trump conversou por telefone com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, e ameaçou romper a política americana de reconhecer apenas uma única China. O republicano também ameaça impor uma tarifa de até 45% sobre produtos chineses, o que muitos economistas garantem que prejudicaria também a economia americana.

América Latina

Após anos de estabilidade política e econômica, a região deixou de ocupar o primeiro escalão nas preocupações americanas. Durante seu governo, Obama trabalhou em três frentes no continente. A eterna crise com a Venezuela, marcada pela expulsão recíproca de de diplomatas e a ausência de embaixadores desde 2010. A cooperação com o México, especialmente no combate ao narcotráfico, que culminou com o processo de extradição de Chapo Guzmán, que deve ser concluído em fevereiro. Por fim, o reatamento das relações com Cuba, terminando com o último legado da Guerra Fria na região.

O republicano não costuma citar a Venezuela em seus discursos, mas a nomeação de Rex Tillerson como secretário de Estado é um sinal de que as relações com Caracas podem piorar. Tillerson foi CEO da Exxon Mobil, empresa que vive às turras com o chavismo. Com relação a Cuba, por mais que o presidente eleito queira desfazer a aproximação de Obama, pode esbarrar no interesse de empresas privadas americanas que estão lucrando com a aproximação. Com relação ao México, a previsão é de tempestade. Trump pretende que os mexicanos paguem a construção do muro na fronteira, renegociem o Nafta e aceitem a deportação de milhões de imigrantes. Extremamente impopular, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, não sabe o que fazer. Até agora, sua única atitude foi substituir o chanceler, nomeando para o cargo Luis Videgaray, um político com boa relação com Trump.

Israel-Palestina

Nenhum outro presidente americano teve uma relação tão ruim com Israel. Em maio de 2011, Obama fez um discurso que pedia a restauração das fronteiras pré-1967, incluindo a divisão de Jerusalém -- o que o governo israelense rejeitou de imediato. A péssima relação pessoal entre ele e o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, culminou com a resolução do Conselho de Segurança da ONU que condenou a expansão dos assentamentos judeus na Cisjordânia.

O presidente eleito deixou claro que pretende se aproximar de Netanyahu e de Israel, prometendo transferir a embaixada americana de Tel-Aviv para Jerusalém. David Friedman, escolhido por Trump para o cargo de embaixador em Israel, é um conhecido defensor dos assentamentos e declarou ter dúvidas sobre a viabilidade da solução de dois Estados. Segundo especialistas, no entanto, a aproximação com Israel pode prejudicar a aliança com países árabes no combate ao Estado Islâmico.

Irã

Desde o primeiro momento, apostou na diplomacia e na força das sanções internacionais para tentar desmantelar o programa nuclear iraniano e evitar que o país obtivesse uma bomba atômica. Os esforços, segundo a Casa Branca, foram recompensados em julho de 2015, com o anúncio de um acordo que envolve a redução dos estoques iranianos de urânio enriquecido, a diminuição do número de centrífugas, o monitoramento de suas usinas e o levantamento das sanções econômicas contra o país.

Durante a campanha, o magnata chamou o pacto nuclear de "o pior acordo já firmado pelos EUA" e prometeu rever tudo o que foi assinado. "Quando eu for eleito, vamos renegociar com o Irã", disse em setembro. Após sua vitória, no entanto, amenizou o discurso e não mencionou o acordo em suas prioridades para os primeiros 100 dias de governo. Um conflito com o Irã, mesmo que no campo diplomático, segundo especialistas, seria desastroso para os interesses dos EUA na região, uma vez que Teerã tem influência sobre ação de importantes grupos xiitas no Oriente Médio.

Guantánamo

Fechar a prisão foi uma de suas principais promessas de campanha. A prática, no entanto, mostrou que não basta o esforço da Casa Branca para resolver a questão. A forte oposição do Congresso minou os planos do presidente, que nunca soube o que fazer com alguns presos considerados perigosos demais para serem libertados. Obama diz que o centro de detenção é "caro, desnecessário e serve apenas como ferramenta de recrutamento de terroristas". No auge, teve 780 presos. Sobraram 55.

O novo presidente americano não só é contra fechar a prisão como prometeu interromper as libertações e "encher a prisão com caras muito maus". Jeff Sessions, nomeado como secretário de Justiça, é um velho defensor do centro de detenção. Em sua sabatina no Senado, ele disse que o local é "seguro" e não deve ser fechado como pretendia Obama.

 

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