Torcedores do Corinthians ganham apoio de santistas antes da decisão contra o Fluminense Acervo Estadão

Os 'infiltrados' contra o Flu

Jornalista do Estado conta o que viu naquela tarde do Maracanã; Dimensões do estádio proporcionaram um momento único - e também um exagero...

Almir Leite

O estádio da Rua Javari comportava em 1959 no máximo 10 mil pessoas. Mas quase todo ser do sexo masculino que estava vivo naquela época e morava em São Paulo e adjacências dizia ter assistido, in loco, o gol de Pelé contra o Juventus, jogando pelo Santos, que o rei reputa como o mais belo dos 1.283 que fez.

Inaugurado para a Copa de 1950, o Maracanã foi projetado para receber 200 mil pessoas. Mas quase todo mundo que estava vivo naquele fatídico 16 de junho de 1950 jura de pés juntos que viu das arquibancadas a derrota do Brasil para o Uruguai. Vinte e seis anos depois o Maracanã ainda era o mesmo, o maior do mundo - não havia se tornado essa coisa elitizada com que a Copa do Mundo de 2014 nos brindou.

As dimensões do estádio e a fidelidade de uma torcida extraordinária proporcionaram um momento ímpar, histórico, do futebol brasileiro e mundial. A invasão, pelos corintianos, das praias e do templo do futebol carioca (e mundial, naquela época o Maracanã de fato era). Criou, também, um exagero: o de que até 70 mil corintianos paulistas invadiram o Maracanã. Existe uma diferença entre ter 70 mil corintianos no estádio naquele dia e ter 70 mil pessoas torcendo para o Corinthians.

O Timão, de fato, teve 70 mil torcedores naquele jogo com o Fluminense. Talvez um pouco menos, talvez até um pouco mais. Mas de São Paulo não saíram todos eles. Se é verdade que o Rio, naquele domingo que o dia começou ensolarado e terminou num dilúvio que tornou o gramado do Maracanã um pasto, parecia São Paulo com praia e Cristo Redentor - e ônibus, bares, ruas principais de Copacabana e Ipanema e próximas ao Maracanã adquiriram tom preto e branco -, também é verdade que os "invejosos'' flamenguistas, vascaínos e botafoguenses foram em peso ao Maracanã torcer contra o Tricolor.

Sim, naquele tempo isso existia. E nem por isso saía briga. Se fosse nos dias atuais... Assim, arquibancada e geral do Maracanã ficaram divididas, meio a meio, entre quem torcia para o Corinthians e torcedores do Fluminense. Do lado tricolor, não dava para se mexer. Creio do outro também não dava.

Como sei? Ao contrário de muita gente que conheci em São Paulo e que disse que foi (e não foi!), eu, torcedor do Fluminense, estava lá. Fui a Ipanema, de lá peguei um ônibus em que na parte do fundo eu só não era o único tricolor no meio dos corintianos (de São Paulo!) porque havia um companheiro sentadinho num dos últimos bancos (e com um livro na mão, pois, segundo me disse, ele estava estudando para o vestibular) e fiquei quase uma hora, junto de corintianos - autênticos e com sotaque -, flamenguistas, botafoguenses e vascaínos, na porta do estádio esperando os portões abrirem (ah! se fosse hoje...).

Assim, estou convicto de que o exército corintiano saído em ônibus, aviões, carros, caminhões do quartel paulistano não tinha 70 mil soldados. Mas o que interessa se foram 30, 35 ou 40 mil? O número não deveria importar. E sim o fato. Fantástico, épico, inesquecível. E uma das mais marcantes passagens do futebol mundial.

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