Os 40 anos da invasão

Relembre as histórias e os personagens do dia em que a torcida do Corinthians dividiu o Maracanã em 1976

Vítor Marques
5 de dezembro de 2016

Não há mais vagas nos ônibus, trens e aviões"

Congonhas funciona até às 24 horas"

A cidade esquece tudo, todos só falam em Corinthians"

A 'invasão', como relatam as manchetes de o Estado de S.Paulo, já se impunha nos dias que antecederam o 5 de dezembro de 1976. 30 mil? 40 mil? 70 mil? Afinal, quantos corintianos foram ao Maracanã? Esqueça os números. É o que menos importa em torno de uma paixão incondicional por um time de futebol. O que está na memória: há 40 anos aconteceu o maior deslocamento de torcedores da história do futebol brasileiro (e talvez do futebol mundial) na partida entre Fluminense e Corinthians pela semifinal do Campeonato Brasileiro de 1976.

Uma romaria que carregava o sofrimento de duas décadas de jejum saiu de São Paulo e de cidades do interior do Estado com um único destino: Rio de Janeiro. A via Dutra foi tomada por ônibus, Kombis, Fuscas e Brasílias. A ponte aérea, um luxo nos anos 70, bombou. No sábado, véspera do jogo, Copacabana e Ipanema ganharam um novo e diferente visual, um colorido em preto e branco.

Os motivos que levaram a 'invasão' requerem contextualização. A multidão que apoiou o time e encarou 500 quilômetros de estrada não teria existido sem agonia do período sem conquistas. O longo 'jejum de 23 anos'. O Corinthians não ganhava nenhum título desde o Campeonato Paulista de 1954, cuja decisão contra o Palmeiras foi disputada em fevereiro de 1955. Nas duas décadas de sofrimento até a glória em 77, a torcida do Corinthians se habituou a sofrer, a lotar estádios onde quer que estivesse e aumentou em número.

"Aquela geração de torcedores tinha levado uma cacetada que foi a final de 74 (do Paulista) contra o Palmeiras, 75 foi um ano morto e em 76 o Corinthians chegou no embalo. O que é mais fantástico é que a invasão foi um movimento espontâneo. Automóvel era um luxo, telefone era um luxo, e mesmo assim houve uma grande mobilização. O mundo não era globalizado como é hoje", afirma o jornalista Celso Unzelte, autor de uma série de livros sobre o Corinthians, entre eles o Almanaque do Timão.

Caravana de ônibus chega ao Rio de Janeiro para a partida no Maracanã. Acervo Estadão

Unzelte, como a maioria dos pesquisadores, diz que não é possível chegar a uma conclusão de quantos corintianos, de fato, foram ao Maracanã. Porém, ele refuta a teoria de que as torcidas de Flamengo, Botafogo e Vasco inflaram a torcida do Corinthians. "É uma teoria simplista. Não é o que mostram as imagens da Via Dutra, dos ônibus, dos carros, do anel do Maracanã, das bandeiras. O número máximo seria de 70 mil corintianos e no mínimo, 30 mil, 40 mil, o que ainda assim seria algo extraordinário. É isso que mostram as imagens."

Diretor do documentário 1976 - O ano da Invasão Corinthiana, Ricardo Aidar entrevistou dezenas de pessoas e buscou imagens raras para produzir seu filme. Como Unzelte, Aidar frisa a espontaneidade da atitude dos torcedores em um época sem internet e sem rede social. "Por isso foi surpreendente", disse o diretor durante lançamento do filme, em setembro deste ano. "Hoje nem se conseguiria colocar tantos torcedores visitantes em qualquer estádio. Primeiro porque os estádios foram reduzidos e além disso a carga de ingressos para os visitantes diminuiu."

Trailer do documentário
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