Queijos Brasileiros e Vinhos


Luiz Horta
Daniela Bravin
Bruno Cabral


Casamento ou divórcio?

texto: Marcel Miwa, especial para o Estado
foto: jf diório/estadão
Com tom bastante descontraído, Luiz Horta, a sommelière Daniela Bravin e o especialista em queijos e restaurateur Bruno Cabral conduziram a plateia pela combinação de queijos e vinhos. Eram oito queijos artesanais brasileiros e oito vinhos de diferentes estilos. Neste “jogo”, não havia certo ou errado e nem mesmo os condutores sabiam o que esperar. “Eu conheço os queijos, mas não conheço os vinhos”, disse Cabral. “Eu não conheço os queijos, mas conheço os vinhos”, disse Horta. “Eu não conheço os queijos tampouco os vinhos, então vamos provar!”, convidou Bravin.

No prato de queijos havia: queijo de cabra de Joanópolis (com acidez pronunciada e toque salino), queijo Serra da Canastra do produtor Luciano Carvalho (leite de vaca, mais neutro e pouco salgado), queijo Serrano (leite de vaca produzido em Bom Jesus, pouco mais duro e curado), queijo Colonial (leite de vaca produzido no oeste catarinense, cura levemente pronunciada e mediana intensidade), Queijo Caprino Romano (leite de cabra curado de Joanópolis, levemente salgado e de sabor intenso), Queijo Minas Artesanal Serra do Salitre (firme, amanteigado uniforme, com final levemente salgado), Queijo Mantiqueira (de Alagoa, massa dura, com final levemente picante), queijo Raclete Mineiro (untuoso, amanteigado e leve amendoado, média salinidade), queijo azul de cabra (de Joanópolis, bastante curado, massa mole, picante e amendoado) e queijo manteiga de Pernambuco (do chef Joca Pontes, sabor e textura amanteigados, delicadamente firme).

Nas taças, espumante Moscatel Miolo Terranova, Espumante Cave Geisse Terroir Rosé Brut, Müller-Thurgau de Hans Wirsching, da Francônia - Alemanha (branco seco), Riesling Halb-Trocken de Selbach-Oster, do Mosel - Alemanha (branco semi-seco), Catena Malbec (tinto argentino), Casillero del Diablo Carmenère (tinto seco), Porto Tawny Quinta de la Rosa (fortificado doce - Portugal) e Lustau Jerez Pedro Ximenez Solera Reserva (fortificado “muito” doce - Espanha).

Como se pode imaginar, seria impossível fazer com que todos provassem sincronizadamente as 80 combinações possíveis. Em um exercício conjunto, o consenso foi que brancos funcionam infinitamente melhor com queijos que os tintos. Em muitos casos, os tintos com os queijos mostram aromas não tão agradáveis e tendem a amargar ou metalizar na boca. Considerando a ordem crescente em estrutura e intensidade dos queijos, os primeiros casaram bem com os brancos alemães, o espumante moscatel mostrou grande versatilidade, principalmente com queijos pouco curados, os tintos sul-americanos não encontraram seus espaços e os fortificados Porto e Jerez fizeram par com o queijo azul.

Como destaques finais Daniela Bravin ressaltou a relativa quebra de paradoxo: “Muitos ainda pensam que queijos pedem vinhos tintos, o que vimos, não é verdade”, disse. “Outra barreira superada foi a de pensar que pode existir apenas um vinho para acompanhar diversos queijos. O ideal seria escolher um queijo e um vinho certo para este queijo”. Bruno Cabral ressaltou a ultrapassada legislação brasileira, que inviabiliza a comercialização de queijos fora de sua região de origem. E, para terminar a brincadeira, o crítico de vinho do Paladar, Luiz Horta, não deixou dúvidas: na harmonização entre comida e vinhos o gosto pessoal é imperativo.