Há também os que entram no aplicativo para complementar renda

Bianca Passerini, Roberta Barbieri e Victor Rezende

Em outubro de 2015, eles eram 6 mil. Menos de seis meses depois, já havia 10 mil espalhados pelo País. Até o fim do ano, esse número pode ser cinco vezes maior. Ser motorista do Uber virou uma saída para o desemprego e uma opção para reforçar o orçamento apertado.

Foi justamente a falta de oportunidades no mercado de trabalho que fez o engenheiro Diego Autieri, de 26 anos, entrar para a rede de motoristas do Uber. Com o aplicativo, consegue em média R$ 200 por dia, se dirigir por uma jornada de oito horas. Já são três meses rodando em São Paulo. “É hoje praticamente toda a minha renda.”

Autieri, que trabalhou por sete anos como contratado em um escritório como projetista, vê a atividade como temporária. “Espero muito em breve voltar para a engenharia”, afirma. “Em último caso, ficaria no Uber para complementar a renda.”

Acostumado a estar no volante, Silvio Manuel do Nascimento, de 37, viu no aplicativo uma boa opção quando perdeu o emprego na transportadora em que trabalhou por seis anos. Ele financiou um carro que atendia aos padrões do Uber e voltou às ruas. “Começo às 4 horas e vou até as 22 horas, às vezes madrugada adentro.”

Nascimento determinou como meta diária R$ 300, valor que considera suficiente para manter a família. Ele vem conseguindo ganhos até superiores ao que tinha antes. Mas se preocupa com a instabilidade. “Se eu sair do sistema ou ficar impossibilitado de trabalhar, não tenho segurança”, diz o motorista. “O Uber é assim: uma fonte de renda que pode acabar de uma hora para outra.” Leia entrevista com Steven Hill, especialista em crescimento econômico na New America Foundation.

Alternativas como os aplicativos de transporte têm grande apelo em tempos difíceis, explica o professor de economia Eduardo Zylberstajn, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Somente de março a maio deste ano, o índice de desemprego medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 11,2%, a maior média trimestral já registrada.

Complemento. Aplicativos como o Uber também têm atraído quem deseja complementar a renda. O analista de sistemas Pietro Ariel, de 26, passou a trabalhar como motorista do Uber em janeiro, quando ficou desempregado. Ele teve facilidade de se recolocar: em março já estava em uma multinacional.

Mas decidiu continuar no aplicativo para reforçar o orçamento. Em vez da jornada de 12 horas ao volante, agora trabalha 4 horas por dia e nos fins de semana. “Desde o início tratei como algo temporário. O aplicativo funciona como um quebra-galho mesmo”, diz Ariel.

De acordo com o professor Eduardo Zylberstajn, nas plataformas com obrigações flexíveis, a dedicação também passa a ser flexível. “Muitos dos motoristas do Uber estão encontrando no serviço uma forma de monetizar seu tempo.”

O fenômeno é notado pelo próprio Uber. Os responsáveis pela empresa no Brasil afirmam que o aplicativo funciona como um meio de fuga da crise ou de complemento à renda da família do motorista parceiro. “O profissional trabalha quando e quanto quiser”, informam.

Colaborou Cristian Favaro