Aplicativos de atendimento médico em casa atraem investimento de grandes grupos

Cristian Favaro e Luiza Freitas

O novo meio de conectar prestadores de serviços a usuários chegou até a assistência médica. Além das startups, planos de saúde e grupos hospitalares estão de olho no potencial de expansão de aplicativos popularmente conhecidos como “Uber dos médicos”. São ferramentas de agendamento de consultas domiciliares, como os brasileiros Docway e Dokter.

Para os pacientes, receber o médico na própria casa é o maior atrativo desse modelo de atendimento. “Pelos meios tradicionais tenho dificuldade de agendar consultas. Quando preciso ir a uma emergência, fico horas esperando por um atendimento que nem sempre é bom”, diz a designer de interiores Adriana Marques, 41 anos, que usa o Docway desde o fim do ano passado para o filho, que tem rinite crônica. Ao fim das consultas, ela solicita o recibo ao profissional e é reembolsada pelo seu plano de saúde.

O Docway triplicou o número de médicos cadastrados em sua plataforma nos últimos três meses, totalizando 850 profissionais. A empresa, criada no final de 2015, agora está concluindo o processo de parceria com uma rede de plano de saúde. “No fim da consulta, o médico preenche um prontuário que vai retroalimentar a operadora para mapear as necessidades de atendimento”, explica o fundador, Fábio Tieplo.

Atuar junto ao setor tradicional também é a estratégia do concorrente Dokter, em negociações com um grupo hospitalar. “Vamos oferecer atendimentos de baixa e alta complexidade, de clínica geral até cardiologia”, diz o fundador do app, Marco Venturini.

O potencial do segmento é reforçado por pesquisa realizada pelo fundo de investimentos de startups Fundacity Investment, que mostra que 77% de um grupo com 66 investidores brasileiros tinham intenção de financiar empresas de tecnologia focadas em saúde entre julho do ano passado e junho deste ano.

Há também grandes empresas de olho nas startups de saúde. A Telefônica Vivo mantém uma divisão para aplicativos no setor. “A área é estratégica porque conseguimos entregar conteúdo confiável a nossos clientes”, afirma o diretor de Serviços de Valor Agregado (SVA) e inovação da Vivo, Fernando Luciano. A empresa conta atualmente com 12 ferramentas, como o “Vivo Saúde com Drauzio Varella”, de dicas gerais assinadas pelo médico.

Com um público mais específico, o Hospital Israelita Albert Einstein desenvolve seus próprios aplicativos. “Sistemas digitais são capazes de melhorar a experiência e aproximar os pacientes da instituição”, diz o médico Marcelo Felix, responsável pelas estratégias digitais da rede. Para os pacientes foram desenvolvidos o Einstein Exames, que notifica quando os testes ficam prontos, mostra o resultado e o compartilha com os médicos. Já o Einstein Vacinas, gratuito e disponível também para quem não é paciente do hospital, funciona como um calendário informativo.

Videoconferência

Fora do Brasil, o uso de aplicativos na medicina está além do agendamento de consultas. Na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, ferramentas oferecem atendimento por videoconferência, autorizado pelos conselhos de medicina locais. O mais famoso deles é o Doctor On Demand, em que profissionais de diversas especialidades fazem diagnósticos e prescrições, tudo online e a partir de US$ 40 por consulta.

“Muito embora aplicativos que oferecem consulta remota a pacientes sejam uma realidade nos EUA, no Brasil o Conselho Federal de Medicina (CFM) não permite tamanha flexibilidade”, diz Milton Steinman, coordenador do serviço de telemedicina do Einstein. Ele reforça que, embora a telemedicina se encontre em uma fase de franca expansão, ela precisaria ser regulada, tratando principalmente questões éticas, legais e de segurança da informação do paciente.

Um caso polêmico é o da startup americana Hello MD, que surgiu em abril de 2014 também atendendo por videoconferência. Situada na Califórfina, a empresa percebeu que o processo para adquirir maconha medicinal - permitida desde 1996 no estado - era burocrático. “Como já tinhamos a estrutura para oferecer consultas médicas online, nos especializamos na substância para prover acesso de forma segura”, disse o VP de Tecnologia da Hello MD, o brasileiro Marcello Albuquerque.

No Brasil, as consultas por videoconferência são proibidas pelo CFM. Apesar disso, a instituição afirma em nota que está acompanhando as discussões sobre as influências da tecnologia na relação entre médicos e pacientes e avaliando o impacto das inovações no exercício ético da profissão.