2010

Espanha garante seu primeiro título mundial na África do Sul Eduardo Nicolau/Estadão

A Copa do Mundo de 2010 desembarcou pela primeira vez no continente africano – a África do Sul recebeu as 32 seleções que começaram a luta pelo título. Logo de cara, algumas seleções despontavam como favoritas, entre elas a Espanha, que dois anos antes havia vencido a Eurocopa, a Alemanha, que vivia no meio de uma reformulação de todo o seu futebol, e ainda as tradicionais equipes do Brasil, treinada por Dunga, e da Argentina, que era comandada por Diego Armando Maradona.

Na primeira fase do Mundial sul-africano, alguns resultados deixaram o mundo espantado, como as duas derrotas da França para as seleções do México (2 a 0) e África do Sul (2 a 1), que vieram junto com uma rebelião dos jogadores franceses contra o então técnico Raymond Domenech.

O Brasil caiu no Grupo C, com Portugal, Costa do Marfim e Coreia do Norte. Na primeira fase, a seleção conquistou duas vitórias, contra Coreia do Norte (2 a 1) e Costa do Marfim (3 a 1) e ficou no empate sem gols com Portugal na última rodada. Nas oitavas de final, o Brasil venceu fácil o Chile por 3 a 0 e partiu para as quartas de final diante da Holanda.

A seleção brasileira fez ótimo primeiro tempo, perdeu boas chances, mas abriu o placar perto dos 45 com um gol de Robinho. Contudo, na segunda etapa o volante Felipe Melo foi expulso, o goleiro Julio Cesar falhou, e com dois gols de Snejder, os holandeses viraram para 2 a 1 e avançaram às semifinais. O Brasil voltou para casa.

A Espanha chegou ao Mundial com certa dose de desconfiança por parte de seus torcedores, apesar do título europeu. Isso porque em 2009 o time não fez uma campanha boa na Copa das Confederações. Para piorar, na primeira partida, contra a Suíça, a seleção espanhola não se encontrou em campo e perdeu o jogo por 1 a 0. Isso obrigou a equipe a vencer seus outros dois jogos da primeira fase – 2 a 0 em Honduras e 2 a 1 no Chile.

Nas oitavas de final, partida difícil e vitória na prorrogação em cima de Portugal por 1 a 0, gol de David Villa. Nas quartas de final, o cenário se repetiu contra o Paraguai – até o placar e o autor do gol foram os mesmos. Na semifinal, os espanhóis encontraram os outros favoritos ao título, a Alemanha, e mais uma vitória magra com gol do zagueiro Puyol.

Na finalíssima, o encontro entre duas grandes escolas europeias acabaria com uma seleção campeã do mundo pela primeira vez. De um lado a Espanha, do outro a Holanda. Em uma partida tensa, os espanhóis venceram por 1 a 0, gol de Andrés Iniesta já na parte final do segundo tempo da prorrogação. Era a consagração de uma geração de jogadores cheia de títulos e que colocou o país definitivamente entre os maiores do mundo do futebol.

CAMPANHA DO BRASIL
JOGOS: 5
VITÓRIAS: 3
EMPATE: 1
DERROTA: 1
GOLS PRÓ: 9
GOLS CONTRA: 4
ARTILHEIRO: Luis Fabiano (3 gols)

NÚMEROS DA COPA
145 gols foram marcados em 64 jogos na Copa da África do Sul, uma média de 2,27 gols por jogo.
3.178.856 torcedores foram aos estádios, o que dá uma média de 49.669 pagantes por partida.
7 a 0 foi a maior goleada do Mundial, na vitória de Portugal sobre a Coreia do Norte, pela primeira fase.
4 gols em rivais anotou a seleção da Alemanha. Primeiro, nas oitavas de final, vitória por 4 a 1 sobre a Inglaterra. Depois, nas quartas, triunfo por 4 a 0 na Argentina de Maradona.
4 vitórias seguidas por 1 a 0 levaram a Espanha ao título após a primeira fase – na sequência, o time passou por Portugal, Paraguai, Alemanha e Holanda na grande decisão.
17,8 finalizações em média por jogo registrou a seleção brasileira em seus cinco jogos, a maior da Copa.
23 cartões recebeu a Holanda na competição – foram 22 amarelos e um vermelho. A Espanha recebeu 8 amarelos em todo o Mundial e não teve nenhum jogador expulso.

FICHA DA FINAL

Data: 11 de julho de 2010

Holanda 0 x 1 Espanha

Gol: Iniesta, aos 12 minutos do segundo tempo da prorrogação.

HOLANDA: Stekelenburg; Van der Wiel, Heitinga, Mathijsen, Van Bronckhorst (Braafheid, aos 15’/1° tempo prorrogação); Van Bommel, De Jong (Van der Vaart, aos 9’/1° tempo prorrogação), Sneijder; Kuyt (Elia, 25’/2°.T), Van Persie e Robben. TÉCNICO: Bert Van Marwijk.

ESPANHA: Casillas; Sergio Ramos, Piqué, Puyol, Capdevilla; Xabi Alonso (Cesc Fàbregas, 42’/2ºT), Busquets, Xavi, Iniesta; Pedro (Jesús Navas, 15’/2°T) e Villa (Torres, intervalo da prorrogação). TÉCNICO: Vicente del Bosque.

JUIZ: Howard Webb (Inglaterra).
PÚBLICO: 84.490 pagantes
LOCAL: Estádio Soccer City, em Johannesburgo, África do Sul.

DESTAQUE

Diego Forlán foi um dos destaques do Uruguai na Copa Fernando Vergara/AP

Eleito pela Fifa como o melhor jogador da Copa do Mundo de 2010, o uruguaio Diego Forlán fez uma grande apresentação na África do Sul. Ele marcou cinco gols, foi um dos artilheiros da competição e liderou sua seleção em uma campanha que colocou o país de volta em uma semifinal de Mundial depois de nada menos do que 40 anos.

Em 2010, Forlán defendia as cores do Atlético de Madrid e tinha liderado o time espanhol na conquista da Liga Europa. Além de ter sido eleito o melhor jogador da Copa, Forlán também ficou com o prêmio pelo gol mais bonito do Mundial, feito na decisão do terceiro lugar, contra a Alemanha.

GRANDES JOGOS

ALEMANHA 4 x 1 INGLATERRA
Alemanha e Inglaterra disputaram um dos jogos mais polêmicos da Copa do Mundo de 2010. No Free State Stadium, em Bloemfontein, uma decisão equivocada da arbitragem mudou a história do jogo e talvez dos mundiais de futebol. Aos 38 minutos do segundo tempo, os alemães venciam os ingleses por 2 a 1, (gols de Klose e Podolski para a Alemanha e Upson para a Inglaterra). O meio-campista inglês Frank Lampard chutou forte, a bola bateu no travessão do goleiro Neuer e claramente ultrapassou a linha do gol, mas o árbitro uruguaio J. Larriano mandou o jogo seguir.

Depois disso, a Inglaterra partiu para cima para tentar o empate, mas acabou levando mais dois gols em contra-ataques, ambos feitos por Müller.

URUGUAI 1 (4) x (2) 1 GANA
O confronto entre sul-americanos e africanos poderia ter levado uma seleção da África pela primeira vez a uma semifinal de Copa do Mundo. Os ganeses saíram na frente aos 47 do primeiro tempo com Muntari, mas Forlán empatou aos 10 da segunda etapa. Nos descontos, o time africano teve a grande chance de definir o resultado e entrar para a história – em um lance de ataque, a bola passou pelo goleiro Muslera e o atacante Luis Suárez colocou a mão para evitar o gol. O problema é que o atacante Gyan, craque do time, chutou no travessão. Depois de mais um empate na prorrogação, os uruguaios venceram nos pênaltis, com direito a cobrança cheia de emoção do atacante Loco Abreu.

HOLANDA 0 x 1 ESPANHA
Em uma das finais de Copas do Mundo mais violentas da história, holandeses e espanhóis trocaram os papéis históricos que até então suas seleções carregavam. A Holanda, que tinha um futebol conhecido como ‘total’ e sempre vistoso, trocou a habilidade por um jogo mais rígido e sisudo e a Espanha, que sempre buscava vencer seus jogos na ‘base da força’, era o time que praticava o futebol mais bonito do Mundial. Contudo, os holandeses vinham de seis vitórias em seis jogos, passando por grandes adversários, como Brasil e Uruguai.

A decisão foi a que mais registrou cartões em toda a história das Copas – 14, sendo 9 deles apenas para a Holanda (8 amarelos e um vermelho para o zagueiro Heitinga). Com a pancadaria rolando solta, o empate sem gols persistiu até os 11 minutos do segundo tempo da prorrogação, quando Fàbregas encontrou Iniesta na entrada da área. O meia bateu sem chances para o goleiro Stekelenburg e decretou o primeiro título mundial para a Espanha, e o terceiro vice-campeonato holandês.

GRANDES SELEÇÕES

Iniesta balança as redes holandesas e garante o título para a Espanha Luca Bruno/AP

ESPANHA
O time de Vicente Del Bosque praticava o melhor futebol da época. A equipe havia conquistado a Eurocopa de 2008 com uma vitória em cima da Alemanha por 1 a 0 e começou a Copa com uma inesperada derrota para a Suíça. Contudo, o time não se desesperou com o resultado, venceu Honduras e Chile sem maiores dificuldades e avançou para as fases eliminatórias. Com um futebol muito consistente, de intensas trocas de passe e com muita posse de bola, conseguiu chegar até o título da Copa da África do Sul.

ALEMANHA
Depois da decepção de perder a semifinal para a Itália, em casa, na Copa de 2006, a Alemanha apostou no começo de uma reformulação de seu futebol. Para isso, a aposta foi no técnico Joachin Löw, que mais uma vez levou o time a ficar entre os quatro melhores de uma competição importante. No mundial sul-africano, os alemães encantaram com um futebol ofensivo e cheio de alternativas, com jogadores jovens e de muito talento, como Müller (a revelação do torneio), Podolski, Neuer, Schweinsteiger, Khedira, Kroos e Özil.

URUGUAI
Depois de 40 anos longe dos grandes momentos das Copas do Mundo, o Uruguai voltou a aparecer com força em 2010. A seleção, conhecida como Celeste Olímpica, foi campeã mundial em 1930 e 1950. Com o técnico Óscar Tabárez no comando, e três jogadores experientes no elenco – Diego Lugano, Diego Pérez e Diego Forlán – o time apostou nos jovens atletas e foi longe na disputa. Com as entradas do zagueiro Godín e com ótimas participações dos atacantes Luis Suárez e Edinson Cavani, a equipe começou a Copa com um empate sem gols com a França e depois emendou três vitórias – contra África do Sul (3 a 0) e México (1 a 0) na primeira fase; e contra a Coreia do Sul (2 a 1) nas oitavas de final. Nas quartas de final, o empate dramático em 1 a 1 com Gana e a vitória nos pênaltis por 4 a 2; e a decepção das semifinais e da disputa pelo 3.º lugar, com duas derrotas por 3 a 2 para Holanda e Alemanha, respectivamente. A equipe terminou na honrosa 4ª colocação e foi recebida com muita festa pelos seus torcedores em Montevidéu.