1994

Romário observa o capitão Dunga levantar a taça após a conquista do tetracampeonato Masao Goto Filho/Estadão

Disputada em estádios de futebol americano adaptados, a Copa de 94 não apresentou grande evolução técnica em relação ao Mundial da Itália. Devido ao fuso horário, 27 das 52 partidas foram disputadas entre 1h30 e 13h30, em temperaturas acima de 30 graus desgastaram fisicamente os atletas. Foi a última Copa realizada no formato com 24 times, já que no próximo mundial, a Copa de 1998, seria em um formato com 32 times.

Apesar das dificuldades climáticas, o torneio teve jogos mais emocionantes que a Copa de 1990. Além da seleção brasileira, que se destacou pela disciplina tática e pela força defensiva, alguns times surpreenderam. Entre elas a Nigéria, de Jay-Jay Okocha, que caiu nas oitavas de final, a Romênia, de Georghe Hagi, eliminada nas quartas. A Bulgária, que jamais havia vencido um jogo de Copa do Mundo após participações, superou grandes favoritos e eliminou a Alemanha em um jogo emocionante. Terminou em 4.º lugar.

A Argentina, que tinha Gabriel Batistuta, Diego Simeone, Claudio Caniggia, Fernando Redondo e Ariel Ortega, caiu prematuramente nas oitavas de final, diante da Romênia de Gheorghe Hagi por 3 a 2. O escândalo de doping do ídolo Maradona foi decisivo para o desequilíbrio do time portenho.

A grande decepção da Copa foi a Colômbia. Credenciada por uma implacável goleada contra a Argentina por 5 a 0, pelas eliminatórias, em Buenos Aires, os colombianos chegaram aos EUA como favoritos. Mas foram derrotados na estreia pela Romênia por 3 a 1 e perderam o rumo. No jogo seguinte, os colombianos perderam para os anfitriões por 2 a 1. A solitária vitória sobre a Suíça por 2 a 0 só valeu para cumprir tabela. O maior drama da Copa aconteceu no retorno dos colombianos ao seu país. O zagueiro Andrés Escobar, autor do único gol contra no torneio, foi assassinado por um apostador que era membro do Cartel de Medellín.

CAMPANHA DO CAMPEÃO

O Brasil teve duas vitórias e um empate na fase de grupos. Fez 2 a 0 contra a Rússia, 3 a 0 contra Camarões, mas empatou com a Suécia por 1 a 1. Nas oitavas de final, o time derrotou os Estados Unidos por 1 a 0. Na fase seguinte, as quartas de final, o time eliminou a Holanda por 3 a 2. Na semifinal, uma batalha diante da Suécia e a vitória sofrida por 1 a 0, gol de Romário de cabeça. Na grande final, o Brasil empatou com a Itália por 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação. O Brasil conquistou o título após ganhar a disputa por pênaltis pelo placar de 3 a 2 e se tornou a primeira seleção tetracampeã mundial de futebol.

NÚMEROS DA COPA

A Copa teve nove estádios, todos construídos há décadas, em nove cidades diferentes. O principal foi o Rose Bowl, palco da final, em Pasadena, na Califórnia. As outras sedes foram: Stanford Stadium (San Francisco), Pontiac Silverdome (Detroit), Giants Stadiu (East Rutherford), Citrus Bowl (Orlando), Cotton Bowl (Dallas), Soldier Field (Chicago), Foxboro (Boston) e RFK Memorial Stadium (Washington).

Jogos: 52

Gols: 141

Média: 2,71

Cartões amarelos: 8

Cartões vermelhos: 1

FICHA DA FINAL

Brasil 0 (3) x (2) 0 Itália

Brasil: Taffarel, Jorginho, depois Cafu, Aldair, Márcio Santos e Branco; Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho, depois Viola; Bebeto e Romário. Técnico: Carlos Alberto Parreira.

Itália: Pagliuca, Mussi, depois Apolonni, Baresi, Maldini e Benarrivo; Dino Baggio, Donadoni, Berti e Albertini; Roberto Baggio e Massaro. Técnico: Arrigo Sacchi.

Local: Estádio Rose Bowl, Los Angeles
Árbitro: Sándor Puhl (Hungria)

DESTAQUE

Jogo – Brasil x Holanda

A partida de quartas de final entre Brasil e Holanda foi uma das mais marcantes do Mundial de 1994. Muito disputada, a primeira etapa acabou sem gols. No segundo tempo, Romário abriu o placar e Bebeto, com comemoração que homanegou seu filho recém-nascido Matheus, ampliou. Nos próximos 10 minutos, Bergkamp e Winter anotaram e colocaram os europeus de volta na disputa. Quando tudo já se encaminhava para as penalidades, Branco bateu falta, Romário se contorceu para não desviar a trajetória da bola, que morreu no fundo das redes e classificou o time de Carlos Alberto Parreira para a semifinal. Branco era muito criticado e só atuou em função da suspensão do titular Leonardo. O gol foi sua redenção pessoal.

 

Personagem

Foi a Copa de Romário. Ignorado pela seleção até cerca de um ano antes do Mundial, o atacante comprovou sua genialidade em um Mundial inesquecível. O “Baixinho” deu o toque de talento em uma equipe tão pragmática. Fez cinco gols: um em cada jogo da primeira fase, contra Rússia (2 a 0), Camarões (3 a 0) e Suécia (1 a 1), um nas quartas de final, diante da Holanda (3 a 2), e outro nas semifinais, na vitória de 1 a 0 sobre a Suécia, de cabeça. Passou em branco na decisão, contra a Itália, mas converteu seu pênalti na disputa final e saiu consagrado como um dos grandes craques da história dos Mundiais.

Romário ergue a bandeira do Brasil Masao Goto Filho/Estadão

GRANDES JOGOS

Brasil 0 x 0 Itália

Depois de 24 anos, a seleção brasileira voltaria a disputar a final de uma Copa. Desta vez, o apito final revelaria um tetracampeão, pois cada país já tinha conquistado três Copas do Mundo (o Brasil em 58, 62 e 70 e a Itália em 34, 38 e 82). Os esquemas defensivos de Brasil e Itália tirou parte do brilho do espetáculo e, a exemplo da final do Mundial anterior, o jogo não teve a emoção de uma verdadeira final de Copa do Mundo. Quase não houve chance de gol e ao final de 90 minutos regulamentares e de 30 minutos de prorrogação, Brasil e Itália não tinham saído do 0 a 0, levando a decisão da Copa para os pênaltis.

 

Romênia 3 x 2 Argentina

O futebol mais bonito da Copa foi assinado pela Romênia. Comandados pelo meia canhoto e inteligente Gheorghe Hagi, os romenos encantaram o mundo com um futebol ofensivo e dinâmico, cheio de jogadores habilidosos. O símbolo da grande campanha foi a vitória sobre a Argentina em uma partida eletrizante. Hagi protagonizou uma atuação digna de Zidane contra o Brasil em 2006. Os romenos caíram nas quartas de final diante da Suécia nos pênaltis.

GRANDES SELEÇÕES

Seleção brasileira antes da final da Copa contra a Itália Fábio M. Salles/Estadão

Com um time sólido na marcação e fortalecido por uma dupla de ataque mortal, formada por Bebeto e Romário, a seleção superou a desconfiança e ganhou corpo na briga pelo título. Vale lembrar que o Brasil só se classificou no último jogo, com a histórica vitória de 2 a 0 sobre o Uruguai no Maracanã – dois gols de Romário. Teve grandes momentos, como a vitória de 3 a 2 sobre a Holanda nas quartas de final e a batalha final nos pênaltis contra a Itália. Mesmo sem futebol-arte, a seleção de 1994 conquistou o primeiro título depois da geração de Pelé. Uma taça que tirou a seleção brasileira de uma fila de 24 anos. Uma fila dolorosa para pelo menos uma geração de brasileiros que tinha visto heróis do futebol-arte ficarem pelo caminho, como os de 1982 e 1986.

DUNGA

Dunga em duelo contra a Holanda Fábio M. Salles/Estadão

Uma história de superação. É desta forma que pode ser contada a trajetória de Dunga na seleção brasileira. O volante foi o símbolo do fracasso da equipe de Sebastião Lazaroni no Mundial da Itália em 1990. Com a eliminação nas oitavas de final para a Argentina, o futebol brasileiro passou a conviver com a “Era Dunga”, que representava um futebol defensivo e fraco tecnicamente.

Mais quatro anos e Dunga vai para a Copa dos Estados Unidos como o capitão de Carlos Alberto Parreira. Líder de um time solidário e que contava com a genialidade de Romário e o talento de Bebeto.

Raçudo, Dunga, ao lado de Mauro Silva, formou um “paredão” quase intransponível diante da zaga brasileira, que ainda contava com os regulares Aldair e Márcio Santos e com a competência de Taffarel.

Com personalidade e confiança, Dunga além de cuidar da proteção do setor defensivo, ainda mostrou qualidade nos passes e até em passes longos, com direito a toques de classe na bola, contrariando a opinião de muitos críticos, que o consideravam tosco tecnicamente.

Na final contra a Itália, após o empate sem gols no tempo normal e na prorrogação, pouca gente duvidava que Dunga não convertesse a sua cobrança de pênalti. Um chute seco, certeiro e a comemoração marcante com o punho cerrado.

Dunga havia recuperado o prestígio e a credibilidade que o fizeram se tornar um jogador reconhecido internacionalmente. A ponto de retornar como titular no Mundial de 1998, durante a campanha que encerrou com o vice-campeonato.