2002

Cafu, capitão da seleção brasileira, beija a taça da Copa do Mundo Paulo Pinto/Estadão

A Copa do Mundo de 2002 foi a primeira realizada em território asiático, dentro da filosofia expansionista da Fifa, e também a primeira com duas sedes, Japão e Coreia do Sul. Campeã da edição anterior, a França era apontada como favorita. Alemanha, Itália e Argentina se escoravam na tradição. Já o Brasil estava sob desconfiança. Sofrera para se classificar nas Eliminatórias, não jogava futebol convincente e dois de seus principais jogadores, Ronaldo e Rivaldo, vindo de graves contusões, estavam longe da melhor forma.

Aí, começaram as decepções. França e Argentina não passaram da primeira fase. A Itália ficou nas oitavas de final. E a Espanha parou nas quartas. Pelo menos essas duas seleções podem reclamar da arbitragem, pois foram eliminadas pela Coreia do Sul de maneira bastante controversa.

Enquanto isso, Alemanha e Brasil seguiram em frente.
A seleção brasileira, com esquema conservador em que um volante, Edmilson, muitas vezes atuava como um terceiro zagueiro, montado por Luiz Felipe Scolari, passou sufoco em alguns jogos. Sofreu para ganhar da Turquia e nas oitavas teve a passagem pela Bélgica facilitada por erros de arbitragem.

Mas a partir das quartas, o time embalou de vez. Passou pela Inglaterra com grande atuação. Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo cresceram. A defesa ficou mais segura, apesar da falha grosseira de Lúcio contra os ingleses. Marcos, o goleiro, transmitia segurança.

A semifinal, de novo contra a Turquia, foi dura. Mas Ronaldo decidiu com um gol de bico, com a simplicidade dos craques.

Veio a decisão contra a Alemanha do quase intransponível Kahn, de Klose e de Ballack (que não jogou por estar suspenso). Houve quem considerasse os rivais favoritos. Mas como atuação irretocável de todo o time, a genialidade de Rivaldo e o poder decisivo de Ronaldo, o Brasil conquistou o pentacampeonato.

CAMPANHA DO CAMPEÃO
Brasil 2 x 1 Turquia
Brasil 4 x 0 China
Brasil 5 x 2 Costa Rica
Brasil 2 x 0 Bélgica
Brasil 2 x 1 Inglaterra
Brasil 1 x 0 Turquia
Brasil 2 x 0 Alemanha
Jogos: 7
Vitórias: 7
Empates: 0
Derrotas: 0
Gols pró: 18
Gols contra: 4
Artilheiro: Ronaldo (8 gols)

NÚMEROS DA COPA
Seleções participantes: 32
Jogos: 64
Gols: 161
Média de gols: 2,52 por jogo
Melhor ataque: Brasil, 18 gols
Artilheiro: Ronaldo, com 8 gols
Maior goleada: Alemanha 8 x 0 Arábia Saudita
Público total: 2.705.197
Média de público: 42.268 por jogo

FICHA DA FINAL

BRASIL 2 x 0 ALEMANHA

Gols: Ronaldo, aos 22 e aos 34 minutos do segundo tempo.

ALEMANHA: Kahn; Linke, Metzelder e Ramelow; Jeremies (Asamoah), Hammann; Frings, Schneider e Bode (Ziegle); Neuville e Klose (Bierhoff). TÉCNICO: Rudi Völler.

BRASIL: Marcos; Cafu, Lúcio, Roque Junior e Roberto Carlos; Edmilson, Gilberto Silva, Kleberson e Rivaldo; Ronaldinho Gaúcho (Juninho Paulista) e Ronaldo (Denílson). TÉCNICO: Luiz Felipe Scolari.

JUIZ: Pierluigi Colina (ITA)
AMARELOS: Klose e Roque Junior.
PÚBLICO: 69.029 torcedores.
LOCAL: Estádio Internacional, em Yokohama.

DESTAQUE

Ronaldo estava longe da melhor forma na Copa do Mundo de 2002. Vinha de seguidas e graves contusões no joelho, sofria com lesões musculares. Muitos apostavam que não teria condições de jogar a Copa, e talvez nem de jogar mais. Luiz Felipe Scolari pensava de maneira completamente diferente. Tanto que fechou os ouvidos para o clamor popular em prol de Romário e deu um recado ao Fenômeno: precisava dele por apenas sete jogos. Para isso, iria esperá-lo o quanto fosse preciso.

O atacante, então, foi à luta. Trabalhou forte com fisiologistas, médicos e preparadores físicos da seleção. Eram três períodos de tratamento quase diariamente. Compensou.

Na Copa, Ronaldo foi soberbo. Fez gol em seis dos sete jogos. Terminou campeão e artilheiro, com oito gols. E só não foi eleito o melhor jogador do Mundial porque a eleição foi feita antes da decisão e Oliver Kahn foi o escolhido. Logo Kahn, vencido duas vezes pelo Fenômeno e que faltou ao rebater chute de fora da área de Rivaldo no primeiro gol.

GRANDES JOGOS

BRASIL 2 x 1 INGLATERRA
A Inglaterra chegou para a partida de quartas de final contra o Brasil como sensação da Copa. Comandada por Beckham, jogava um futebol vistoso e seguro. A defesa era firme, havia tomado apenas um gol.

E o começo do jogo foi realmente difícil para os brasileiros. O técnico sueco Sven Eriksson armou o time com duas linhas de quatro. Com isso, o Brasil tinha a bola, rodava de um lado para o outro, mas não conseguia penetrar.

Os ingleses estavam esperando o momento certo para dar o bote. E ele veio quando Lúcio errou de forma bisonha ao tentar afastar a bola em lance fácil e permitiu a Owen entrar na cara de Marcos e fazer 1 a 0.

O mérito do Brasil foi não se desesperar. E a sorte foi conseguir empatar no último lance do primeiro tempo. Após grande jogada individual de Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo chutou sem defesa para o goleiro.

Ronaldinho voltaria a brilhar no início da etapa final ao cobrar em direção ao gol uma falta em que todos esperavam o cruzamento, inclusive o goleiro Seaman, que foi encoberto. Pouco depois, porém, ele entrou de sola em um adversário e foi expulso.

Com um a mais, a Inglaterra tentou sufocar. Mas apelou para o tradicional jogo aéreo, para alegria da zaga brasileira, que ganhou quase todas as bolas e garantiu a vitória e a ida à semifinal.

BRASIL 2 x 0 ALEMANHA
Brasil e Alemanha já estavam entre os maiores vencedores de Copas, os brasileiros com quatro, os alemães com três. Mas jamais haviam se enfrentado em um Mundial. Por isso, a final de 2002, em Yokohama, foi considerada uma espécie de tira-teima.

Depois do descrédito inicial, a seleção brasileira crescera e ganhara confiança. A alemã também se enchera de moral com o decorrer dos jogos, mas chegava à decisão com um desfalque e tanto: Ballack, o craque do time, não pôde atuar, por estar suspenso.

Ainda assim, a Alemanha começou tentando sufocar o Brasil. Passou o primeiro tempo rondando a área brasileira, mas poucas vezes levou perigo. A seleção de Scolari chegava de vez em quando, mas também não ameaçou muito.

A etapa final também estava equilibrada, como as duas seleções tomando todo o cuidado para não ser surpreendida. A diferença é que o Brasil tinha Rivaldo e Ronaldo fazendo a diferença em um time em que todos os jogadores estavam bem. E isso foi fundamental para o penta.

Aos 22 minutos, Ronaldo recuperou uma bola que ele mesmo perdera e lançou para Rivaldo chutar de fora da área. Kahn, até então um paredão, falhou, soltando a bola nos pés de Ronaldo: 1 a 0. Mais 12 minutos e Kleberson, como meia, rolou na área para Rivaldo, que fez o corta-luz e deixou a bola limpinha para Ronaldo fuzilar Kahn.

O penta estava garantido. Foi só esperar o tempo passar para ver Cafu levantar a taça.

GRANDES SELEÇÕES

INGLATERRA
A Inglaterra foi campeã do mundo na Copa que sediou, em 1966, e depois nunca mais chegou sequer perto da taça. O máximo que fez foi ir até as quartas de final. Isso ocorreu, por exemplo, em 2002, quando foi eliminada pelo Brasil. No entanto, os jogadores que representaram o país naquele Mundial formaram de fato um grande time.

O técnico era um estrangeiro, o sueco Sven-Goran Eriksson. Ele propôs ao time praticar um futebol de toque de bola e velocidade, deixando de lado a simplicidade, e a pouca eficiência, do jogo aéreo ofensivo.

Para isso, montou o grupo com jogadores habilidosos como os meias Beckham e Paul Scholes, o atacante Owen, além de defensores seguros como Campbell, Ashley Cole e Rio Ferdinand, entre outros.

Na Copa, o time conseguiu boas vitórias contra Argentina e Dinamarca e manteve-se invicto até enfrentar o Brasil, do qual perdeu de virada. Mas fez um bom jogo e, no resumo final, deixou a Copa com saldo positivo.

ALEMANHA
A Copa de 2002 não foi pródiga em grandes seleções. A Alemanha foi uma das exceções. Tinha uma geração que já estava em seu final, um pouco desacreditada, mas com muita vontade de mostrar que poderia levar a seleção longe.

Assim foi. Com um goleiro que estava entre os melhores do mundo, Oliver Kahn, um líder técnico, Ballack, um atacante goleador, Bierhoff, e jogadores experientes como Jeremies e Asamoah, o técnico Rudi Voeller conseguiu montar uma equipe forte. Mesmo porque, de quebra, ele contava com um jovem centroavante, Klose, que desandou a fazer gols.

A Alemanha fez ótima primeira fase, com um ataque demolidor (11 gols em três jogos). A partir das oitavas, os gols minguaram. Mas a solidez defensiva do time ajudou nas vitórias por 1 a 0 sobre Paraguai, Estados Unidos e Coreia do Sul.

Na decisão, a Alemanha jogou de igual para igual com o Brasil. Teve até chances de sair na frente no placar. Mas acabou sucumbindo diante de Rivaldo, Ronaldo e cia.

RIVALDO

Seleção brasileira campeã da Copa na Coreia do Sul e Japão Alaor Filho/Estadão

Quando Rivaldo foi contratado pelo Corinthians, vindo do Mogi Mirim, em 1993, pouca gente acreditava que aquele canhoto de pernas longas, tímido e de poucas palavras poderia se tornar um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro.

Na Copa de 1998, na França, Rivaldo carregava uma derrota doída na Olimpíada de 1996, quando muitos críticos debitaram a ele o revés diante da Nigéria na semifinal, após um passe errado.

Sem entrevistas bombásticas ou declarações raivosas, Rivaldo venceu a desconfiança do técnico Zagallo para se tornar o melhor jogador brasileiro no Mundial. Autor de três gols – um contra Marrocos e dois contra a Dinamarca -, o meia, que já se tornava um astro no Barcelona, demonstrou toda sua versatilidade em campo.

Rivaldo atuou como um verdadeiro centroavante, ao fazer um gol diante dos marroquinos na vitória por 3 a 0, ainda na primeira fase. Decisivo frente aos dinamarqueses na briga por uma vaga na semifinal, o então camisa 10 da seleção canarinho mostrou velocidade e inteligência tática para trocar de posição com Ronaldo Fenômeno para surgir de trás na zaga adversária e receber o passe dentro da área para marcar um dos gols. Além de ter um poder de fogo muito grande, ao disparar um belo chute de fora da área para garantir o duro triunfo por 3 a 2.

Rivaldo foi o parceiro ideal de Ronaldo Fenômeno. O penta, que não veio na França, foi garantido quatro anos mais tarde no Mundial da Ásia. Mais uma vez com Rivaldo sendo o protagonista, ao lado de Ronaldo.

Ele já tinha seu talento reconhecido internacionalmente, pois em 1999 fora eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa.

Com a mesma simplicidade e capacidade, Rivaldo liderou a seleção em 2002. Em um time repleto de astros como Cafu, Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo Fenômeno, Rivaldo foi o cérebro do time, com cinco gols.

Marcou gol de pênalti diante da Turquia na estreia, foi “centroavante” frente a China e Costa Rica, teve sorte ao marcar com ajuda no desvio da zaga frente à Belgica e esbanjou categoria no gol contra os ingleses.

Na final, contra a Alemanha, não fez gol, mas participou das jogadas dos dois marcados por Ronaldo em Oliver Kahn.