1990

Völler corre com a taça na mão ao comemorar a vitória da Alemanha Fábio M. Salles/Estadão

O Mundial da Itália foi um dos piores da história em nível técnico. Várias seleções privilegiaram a marcação, com a escalação de vários volantes. Pouca criatividade. O torneio teve a menor média de gols de um Mundial (2,21) e a maior quantidade de empates (e de empates sem gols) da história da competição. O Grupo F, formado por Holanda, Inglaterra, Egito e Irlanda, foi o símbolo da mediocridade, pois cinco jogos terminaram empatados. Com isso, o time classificado foi definido por sorteio. Em sua última participação como nação dividida, a Alemanha levantou a taça com um futebol coeso e organizado. Os alemães não tiveram grande brilho, mas foram eficientes.

Aos 29 anos, Matthäus jogou o seu terceiro Mundial na condição de peça-chave. Meia ou líbero, ele foi o responsável pela organização da equipe e pela articulação ofensiva. Mesmo não sendo um artilheiro nato, fez quatro gols na Copa, o mais importante deles na vitória sobre a Checoslováquia nas quartas de final. Foi líder de uma geração.

A surpresa foi a Iugoslávia, que dividida em seis repúblicas após a queda do Muro de Berlim e marcada pelo surgimento de uma nova geração de jogadores talentosos. Na equipe titular, destacava-se o meia Dragan Stojkovic. O banco de reservas contava ainda com atletas que brilhariam no futebol mundial nos anos seguintes, como Suker, Jarni, Savicevic, Prosinecki e Boksic. A única derrota da seleção foi para a campeã Alemanha Ocidental, na primeira fase. O time foi eliminado nas quartas de final pela Argentina, após decisão nos pênaltis.

A seleção brasileira chegou motivada por causa da conquista da Copa América no ano anterior. Pela primeira vez, a seleção brasileira utilizou maioria de jogadores que atuavam no exterior para formar a sua equipe. Na época da Copa, 12 atletas jogavam fora do país. Mas o time treinado por Sebastião Lazaroni foi uma decepção. Com um futebol burocrático e sem criatividade – nenhum meia de criação foi convocado -, o time alcançou as oitavas de final, onde teve sua melhor atuação contra a Argentina, mas foi eliminado com derrota por 1 a 0, com passe de Maradona para Caniggia. Foi o início da era Dunga, marcada pela marcação e disciplina tática.

CAMPANHA DO CAMPEÃO

Na primeira fase, a Alemanha goleou a Iugoslávia (4 a 1) e os Emirados Árabes (5 a 1). Empatou com a Colômbia (1 a 1). Depois, passou pela Holanda (2 a 1), pela Checoslováquia (1 a 0) e pela Inglaterra (4 a 3 nos pênaltis, após empate por 1 a 1). Na final, bateu a Argentina por 1 a 0.

NÚMEROS DA COPA

Jogos: 52

Gols: 115

Cartões vermelhos: 16

Cidades-sede: Milão, Roma, Nápoles, Turim, Bari, Verona, Florença, Cagliari, Bolonha, Údine, Palermo e Gênova.

Estádios: Apenas dois dos 12 foram construídos para a Copa: o Delle Alpi, em Turim, e o San Nicola, em Bari.

FICHA DA FINAL

Alemanha (1 x 0) Argentina

Alemanha: Lehmann; Friedrich, Mertesacker, Metzelder e Lahm; Frings, Schneider (Odonkor), Ballack e Schweinsteiger (Borowski); Klose (Neuville) e Podolski. Técnico: Jürgen Klinsmann.

Argentina: Abbondanzieri (Leo Franco); Coloccini, Ayala, Heinze e Sorín; Mascherano, Lucho González, Maxi Rodríguez e Riquelme (Cambiasso); Tevez e Crespo (Cruz). Técnico: José Pekerman.

Gols: Brehme, aos 40 minutos do segundo tempo

Cartões amarelos: Podolski, Sorín, Mascherano, Maxi Rodríguez, Odonkor, Cruz e Friedrich

Árbitro: Edgardo Codesal (México).

Local: Estádio Olímpico (Roma).

DESTAQUE

Jogo – Inglaterra 3 x 2 Camarões

Camarões encantou com um futebol ofensivo e vistoso e ganhou a simpatia da torcida. Depois de superar a Colômbia de Higuita, Camarões enfrentou a Inglaterra nas quartas, no jogo mais marcante da Copa. Platt abriu o placar para os britânicos, mas os africanos viraram em cinco minutos no segundo tempo. Seria a primeira vez que um time africano chegaria às semifinais. Mas a Inglaterra devolveu a virada para decepção dos torcedores. Com dois gols de pênalti, ambos de Lineker, a Inglaterra avançou.

 

Personagem – Roger Milla

O veterano Roger Milla foi uma das sensações do Mundial. O camaronês anotou quatro gols e chamou a atenção com a comemoração, em forma de samba. Não era titular, entrava apenas na etapa final. Um dos lances marcantes ocorreu diante da Colômbia, quando roubou a bola de Higuita, que tentou driblá-lo fora da área. Em uma Copa sem brilho técnico, Milla se tornou um dos raros momentos de talento e ousadia.

Roger Milla, destaque de Camarões EPA

GRANDES JOGOS

Itália x Argentina

Não foi um dos jogos dos mais espetaculares, mas foi um dos mais simbólicos. Era o confronto entre os donos da casa diante de Maradona, rei de Nápoles, cidade que o idolatrava. O maior motivo de orgulho dos napolitanos enfrentaria a Itália. A torcida, logicamente, pendeu mais para a Itália. A Itália fez 1 a 0 com Totò Schillaci. Sob o talento de Maradona, mesmo sem a melhor forma física, os argentinos empataram com Caniggia, que conseguiu romper a invencibilidade de Zenga, após 518 minutos sem sofrer gols. Nos pênaltis, Goycochea se firmou com um dos nomes da Copa ao defender duas cobranças – ele já havia sido o herói das quartas de final diante da antiga Iugoslávia.

 

Camarões x Argentina

Campeões em 1986, os argentinos perderam a aura logo na estreia, no estádio San Siro, em Milão, contra Camarões. Com o craque Maradona em campo, a equipe foi surpreendida pelos Leões Indomáveis, por 1 a 0. O mau resultado, além do empate contra a Romênia, deixou a seleção em terceira do Grupo B. Não fosse a reação nas fases seguintes da competição, o time não teria chegado tão longe. Por outro lado, a equipe de Camarões começou uma trajetória marcante para o futebol africano ao chegar às quartas de final.

 

Alemanha x Argentina

As duas seleções repetiram a finalíssima da Copa de 86. Era a terceira final consecutiva dos alemães, que finalmente conquistava o seu tricampeonato, igualando-se ao Brasil e à Itália. O jogo foi amarrado, com poucas chances de gol.

GRANDES SELEÇÕES

Time posado da seleção da Alemanha, campeã da Copa de 90 Fábio M. Salles/Estadão

A queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, deu início à reunificação da Alemanha Ocidental e da Alemanha Oriental, e deu novo contorno à participação no Mundila. Em 1990, Beckenbauer tinha sua última chance de conseguir o que apenas Zagallo havia conseguido: vencer uma Copa do Mundo como técnico e como jogador. Último campeão pela Alemanha, em 1974, ele aliou a disciplina tática dos alemães com a técnica e a velocidade de jovens talentos. Ele convocou remanescentes do vice-campeonato em 1986, como o capitão Lothar Matthäus, o zagueiro Andreas Brehme e o atacante Rudi Völler, e jovens promissores como o centroavante Juergen Klinsmann. Sem brilho, mas com eficiência, a Alemanha conquistou seu terceiro título mundial.