1986
Ápice do futebol, a Copa do Mundo eterniza histórias a cada quatro anos. Uma das maiores foi registrada em 1986, quando Diego Maradona chegou ao México no auge da sua forma e o deixou como uma lenda, principal responsável pela conquista do segundo título mundial da Argentina e até hoje reverenciado como maior ídolo do futebol do seu país.
Então com 25 anos e passagens por Argentinos Juniors, Boca Juniors, Barcelona e Napoli, Maradona já era visto como um craque de nível mundial, mas havia fracassado em 1982, sendo expulso no jogo que culminou na eliminação da sua seleção, para o Brasil. A volta por cima foi em grande estilo.
O técnico Carlos Bilardo reformulou a seleção argentina, passou a escalá-la com três zagueiros e apostou em nomes como Brown, Burruchaga, Pumpido e Ruggeri. Mas foi Maradona quem fez quase tudo: dribles para se livrar de marcadores, jogadas geniais para encontrar o companheiro melhor posicionado e gols. Foram cinco, o que o deixou na vice-artilharia da Copa, atrás apenas de Gary Lineker, da Inglaterra.
Um desses gols de Lineker foi marcado contra a Argentina. Mas isso pouco importou para o seu torcedor, pois naquele confronto, pelas quartas de final, Maradona viveu o seu maior dia dentro dos campos em um confronto emblemático para o povo argentino, que anos antes tinha visto seu país se envolver em um conflito com os ingleses pela posse das Ilhas Malvinas.
Maradona abriu o placar com um gol marcado com a “mão de Deus”, como declarado por ele, para ganhar disputa aérea com o goleiro Peter Shilton. E depois enfileirou cinco marcadores para marcar um dos gols mais emblemáticos da história das Copas.
Ele não ficou só nisso, tanto que nas semifinais Maradona fez os gols da vitória por 2 a 0 sobre a Bélgica. E ainda definiria a decisão contra a Alemanha ao dar um passe magistral para Burruchaga disparar e marcar o gol do título aos 39 minutos do segundo tempo.
Assim, a Argentina conquistou o bicampeonato mundial em uma Copa que tinha como favoritas seleções que foram marcantes na edição de quatro anos antes, mas que repetiram seus resultados no México. A Alemanha Ocidental, agora dirigida por Beckenbauer, foi vice-campeã pela segunda Copa seguida, enquanto a França, liderada por Platini, parou novamente nos germânicos nas semifinais.
O Brasil, novamente comandado por Telê Santana, caiu de novo nas quartas de final, falhando na tentativa de repetir o feito de 16 anos antes, quando faturou o tricampeonato mundial no México, que assumiu a condição de país-sede do torneio às pressas, após a desistência da Colômbia de receber a Copa, e que conseguiu superar os efeitos de um grave terremoto para organizá-lo.
Mas se o torcedor mexicano tinha na memória o brilho da seleção de 1970 e o brasileiro sonhava em ver a repetição do futebol-arte de 1982, ambos se frustraram, ainda que Telê Santana tenha mantido a base talentosa, mas envelhecida, de quatro anos antes, com craques como Falcão e Sócrates.
Os problemas, porém, começaram antes mesmo da chegada ao México, com o corte de Renato Gaúcho por problema disciplinar, e a consequente perda de Leandro, que desistiu de ir à Copa por solidariedade ao amigo. Além disso, Zico, em recuperação de grave lesão no joelho, viajou longe das condições ideais.
Em campo, o Brasil se manteve 100% e sem sofrer gols até as quartas de final. Passou por Espanha (1 a 0), Argélia (1 a 0) e Irlanda do Norte (3 a 0) no seu grupo e goleou a Polônia (4 a 0) nas oitavas de final, fase disputada pela primeira vez na história das Copas em 1986. Diante da França, com o placar empatado por 1 a 1, Telê acionou Zico no segundo tempo. O craque deu passe genial para Branco sofrer pênalti, mas desperdiçou a cobrança. A definição do confronto foi, então, para os pênaltis. Dessa vez, Sócrates e Júlio César falharam.
CAMPANHA DO CAMPEÃO
Grupo A
02/06 – Argentina 3 x 1 Coreia do Sul
05/06 – Itália 1 x 1 Argentina
10/06 – Argentina 2 x 0 Bulgária
Oitavas de final
16/06 – Argentina 1 x 0 Uruguai
Quartas de final
22/06 – Argentina 2 x 1 Inglaterra
Semifinais
25/06 – Argentina 2 x 0 Bélgica
Final
29/06 – Argentina 3 x 2 Alemanha
NÚMEROS DA COPA
Jogos – 52
Gols – 132
Cartões vermelhos – 7
Público – 2.394.031 (46.039 por jogo)
Cidades-sede – 9
Estádios – 12
FICHA DA FINAL
29/06/1986 – ARGENTINA 3 x 2 ALEMANHA OCIDENTAL
ARGENTINA – Pumpido; Brown, Ruggeri e Cuciuffo; Giusti, Batista, Burruchaga (Trobbiani), Enrique e Olarticoechea; Maradona e Valdano. Técnico: Carlos Bilardo.
ALEMANHA OCIDENTAL – Schumacher; Berthold, Jakobs, Förster, Briegel e Brehme; Eder, Matthäus e Magath (Hoeness); Rummenigge e Allofs (Völler). Técnico: Franz Beckenbauer.
GOLS – Brown, aos 23 minutos do primeiro tempo; Valdano, aos 11, Rummenigge, aos 29, Völler, aos 36, e Burruchaga, aos 39 minutos do segundo tempo.
ÁRBITRO – Romualdo Arppi Filho (Brasil).
CARTÕES AMARELOS – Maradona, Matthäus, Briegel, Olarticoechea, Enrique e Pumpido.
PÚBLICO – 114.600 presentes.
LOCAL – Estádio Azteca, na Cidade do México (México).
DESTAQUE
22/06 – Argentina 2 x 1 Inglaterra – Maradona
O período entre o sexto minuto e o nono do segundo tempo da partida no Estádio Azteca transformou Maradona em lenda. Após um passe mal cortado pela zaga inglesa, o baixinho craque argentino subiu com o goleiro Shilton para dividir a bola e com um leve toque sutil a mandou para as redes, colocando os argentinos em vantagem. Logo depois, o craque enfileirou, ainda da intermediária, cinco marcadores, incluindo o goleiro inglês, e empurrou a bola para as redes antes de ser derrubado na grande área.
O que aconteceu no restante do jogo foi mero detalhe, incluindo o gol inglês, de Lineker. A Argentina estava na semifinal da Copa e Maradona, que conduziria a sua equipe ao título, foi imediatamente eternizado na história do futebol após uma partida que ia além do esporte, pois anos antes as nações haviam se enfrentado, com vitória inglesa, na Guerra das Malvinas.
No auge da forma física, Maradona, com sua mágica perna esquerda, cresceu de rendimento no momento mais importante: o mata-mata. Tanto que nas semifinais marcou os gols da vitória sobre a Bélgica. E na decisão, mesmo duramente marcado pelos alemães, deu passe genial para o gol do título, de Burruchaga.
GRANDES JOGOS
18/06 – Dinamarca 1 x 5 Espanha
Com vitórias sobre Escócia, Uruguai – um massacre de 6 a 1 – e Alemanha, a Dinamarca chegou como favorita para o duelo com a Espanha pelas oitavas de final e já apelidada de “Dinamáquina”. E o gol de Jesper Olsen que abriu o placar do jogo reforçou esse cenário. A Espanha e Butragueño, porém, estavam em dia de “Fúria”. O atacante empatou o jogo ainda na etapa inicial e marcou mais três vezes no segundo tempo. Goicoechea completou a goleada de 5 a 1.
21/06 – Brasil 1 x 1 França (3 x 4 nos pênaltis)
Brasil e França fizeram um duelo equilibrado no Jalisco, com Careca e Platini marcando os gols do jogo no primeiro tempo. Na etapa final, um passe magistral de Zico culminou em pênalti cometido sobre Branco. Zico, que lutou durante meses para jogar a Copa por causa de uma grave lesão no joelho, teve a chance de colocar o Brasil na semifinal, mas parou em Bats. Na disputa de pênaltis, Sócrates e Julio Cesar falharam. Assim, nem o erro de Platini foi suficiente para evitar a queda da seleção.
29/06 – Argentina 3 x 2 Alemanha
A final na Cidade do México reuniu a Argentina, que se apoiou no talento individual de Maradona para avançar na Copa, e a Alemanha, que só havia brilhado na semifinal contra a França. E, em campo, a melhor campanha sul-americana parecia prevalecer após Brown e Valdano colocarem a equipe em vantagem. Rummenigge e Völler empataram o jogo e deixaram a definição do campeão sob suspense. Um passe magistral de Maradona para Burruchaga marcar o terceiro gol da Argentina definiu a decisão.
GRANDES SELEÇÕES
ARGENTINA – Reformulada pelo técnico Carlos Bilardo após o fracasso na Copa de 1982, a Argentina não chegou ao México como favorita. O treinador apostou em um esquema tático com três zagueiros e no talento de Maradona, aos 25 anos, e no auge da sua forma. E deu certo. Com uma campanha quase perfeita, de cinco vitórias e um empate, passou por Uruguai, Inglaterra, Bélgica e Alemanha no mata-mata e venceu a Copa com algumas das maiores atuações da carreira do seu craque.
FRANÇA – Campeã europeia em 1984 e com Platini no auge da forma, a França foi ao México como favorita a conquistar seu primeiro título mundial. Passou com certa facilidade pela fase de grupos, eliminou a Itália, campeã em 1982, nas oitavas de final e o Brasil nas quartas. Mas uma falha de Bats na semifinal contra a Alemanha acabou pesando para a sua derrota.
DINAMARCA – Em sua primeira participação na história das Copas, a Dinamarca caiu em uma chave complicada, com outros dois campeões mundiais: o Uruguai e a Alemanha Ocidental. Mas não se intimidou. E após passar pela Escócia, aplicou históricos 6 a 1 nos uruguaios e venceu os alemães por 2 a 1. O seu jogo vistoso e ofensivo chamou a atenção, mas não resistiu ao compromisso seguinte, perdendo por duros 5 a 1 para a Espanha.