1974
Assim como a edição de 1982 ficaria eternizada pela seleção que não venceu (a brasileira de Telê), a de 1974, apesar de conquistada pela Alemanha Ocidental, entrou para a história graças ao futebol total da Holanda. Foi a Laranja Mecânica dirigida por Rinus Michels, vice-campeã, que acabou deixando sua marca na linha do tempo das Copas.
Não que Franz Beckenbauer e seus companheiros, donos da casa, não tenham merecido ou fossem zebras dentro da própria casa. Muito pelo contrário. Os campeões de 1954 vinham de um terceiro lugar no México-1970 e um vice na Inglaterra-1966. Mas foi justamente o fator surpresa aliado ao encanto do futebol exibido que transformaram os holandeses na sensação daquele Mundial.
Longe de uma Copa desde 1938, a Holanda chegou à Alemanha tendo no elenco a base do Ajax tricampeão europeu (1971 a 1973) e o conceito desenvolvido por seu treinador: todos marcavam, todos atacavam, sem posições fixas – daí o outro apelido daquele time, Carrossel Holandês. Liderada pelo talentoso Johan Cruijff, a equipe deixou pelo caminho, entre outros, o Brasil campeão mundial, em confronto na segunda fase, quando venceu por 2 a 0.
Sobre os brasileiros, aliás, o campeonato enterrou o sonho de um tetra que se concretizaria somente 20 anos depois. Se não contava mais com Pelé, Gérson, Carlos Alberto e Tostão, a equipe estava longe de ser fraca. Tinha Leão no gol, Luís Pereira na zaga, além de Rivellino e Jairzinho, dois dos principais nomes do tri. Mas o conjunto não deu liga. Fez uma primeira fase sem brilho, com empates em 0 a 0 contra Iugoslávia e Escócia, e um 3 a 0 sobre a fraca seleção do Zaire.
Na segunda fase, o time pareceu embalar depois de bater Alemanha Oriental (1 a 0) e Argentina (2 a 1), mas não foi páreo para os holandeses. Por fim, na disputa do terceiro lugar, acabou se despedindo com nova derrota, por 1 a 0, para outra grata surpresa daquela Copa, a Polônia.
Outra decepção viria com a Itália, vice-campeã em 1970, que não passou da primeira fase em solo alemão. Acabou em terceiro no seu grupo, atrás de Polônia e Argentina. Bateu apenas o Haiti (3 a 1). Empatou com argentinos (1 a 1) e perdeu para os poloneses (2 a 1).
A primeira Copa do Mundo na Alemanha, que não sediara o evento até então muito em função dos desdobramentos negativos do nazismo para o país, também teve forte tensão política. Calejada pela tragédia ocorrida na Olimpíada de Munique, dois anos antes, quando um ataque terrorista contra o alojamento israelense chocou o planeta e resultou em 11 atletas mortos, a organização reforçou o policiamento em torno das concentrações das 16 seleções participantes: Alemanha Ocidental, Alemanha Oriental, Argentina, Austrália, Brasil, Bulgária, Chile, Escócia, Haiti, Holanda, Itália, Iugoslávia, Polônia, Suécia, Uruguai e Zaire.
Em campo, os anfitriões tiveram dois momentos distintos. Fizeram uma primeira fase vacilante, com direito à inesperada derrota para o vizinho oriental, por 1 a 0, mas deslancharam na segunda fase: bateram Iugoslávia, Suécia e Polônia para garantirem lugar na decisão, quando viraram o jogo para cima da Holanda.
Além de Beckenbauer, a equipe treinada por Helmut Schon possuía várias peças importantes, como o goleiro Sepp Maier e o goleador Gerd Müller. Nomes que valorizaram ainda mais a trajetória dos rivais de camisa laranja. “Se ganhássemos, talvez não tivéssemos deixado tantas lembranças como perdendo”, diria Cruyff, anos mais tarde. Qualquer semelhança com o Estádio Sarriá, palco da eliminação brasileira para os italianos, em 1982, não é mera coincidência.
CAMPANHA DO CAMPEÃO
14/6 – Alemanha Ocidental 1×0 Chile (1ª fase)
18/6 – Alemanha Ocidental 3×0 Austrália (1ª fase)
22/6 – Alemanha Ocidental 0x1 Alemanha Oriental (1ª fase)
26/6 – Alemanha Ocidental 2×0 Iugoslávia (2ª fase)
30/6 – Alemanha Ocidental 4×2 Suécia (2ª fase)
3/7 – Alemanha Ocidental 1×0 Polônia (2ª fase)
7/7 – Alemanha Ocidental 2×1 Holanda (final)
NÚMEROS DA COPA
Participantes: 16
Jogos: 38
Gols: 97 (2,55 de média)
Vermelhos: 5
Amarelos: 87
Público: 1.774.022 pessoas
9 cidades-sede (estádios): Berlim (Olímpico), Hamburgo (Volksparkstadion), Frankfurt (Waldstadion), Dortmund (Westfalenstadion), Gelsenkirchen (Parkstadion), Hannover (Niedersachsenstadion), Düsseldorf (Rheinstadion), Munique (Olímpico) e Stuttgart (Neckarstadion)
FICHA DA FINAL
Alemanha Ocidental 2 x 1 Holanda
Gols: Neeskens, aos 2, Breitner, aos 25, e Gerd Müller, aos 43 do 1º tempo
Alemanha Ocidental: Sepp Maier; Vogts, Schwarzenbeck, Beckenbauer e Paul Breitner; Overath, Bonhof e Hoeness; Grabowski, Gerd Müller e Hölzenbein
Técnico: Helmut Schön
Holanda: Jan Jongbloed; Suurbier, Arie Haan, Rijsbergen (De Jong) e Ruud Krol; Wim Jansen, Neeskens e Van Hanegem; Rensenbrink (Van de Kerkhof), Cruyff e Johnny Rep
Técnico: Rinus Michels
Juiz: Jack Taylor (ING)
Amarelos: Vogts, Van Hanegem, Neeskens, Cruyff
Data: 7/7/1974
Local: Estádio Olímpico, em Munique (ALE)
Público: 78.200 pessoas
DESTAQUE
Johan Cruyff
Simbolizou a transgressão promovida pela Laranja Mecânica. Jogador impetuoso, técnico e habilidoso, mas também disciplinado taticamente, marcou três gols na Copa, sendo dois na goleada por 4 a 0 sobre a Argentina, e um no triunfo diante do Brasil (2 a 0). Utilizava a camisa 14. Na final, começou como protagonista, ao sofrer o pênalti convertido por Neeskens, mas acabou ofuscado por outro talento do torneio, o alemão Beckenbauer.
GRANDES JOGOS
Alemanha Ocidental 2 x 1 Holanda
A final do Mundial de 1974 foi disputada no dia 7 de julho, no Estádio Olímpico de Munique. Com menos de dois minutos de bola rolando, o árbitro inglês Jack Taylor marcou pênalti em cima de Cruyff. Detalhe: até o craque ser derrubado, a Holanda havia trocado passes sem que os alemães tivessem conseguido relar na bola. Neeskens converteu. Ainda no primeiro tempo, Breitner, também de pênalti, e Gerd Müller viraram para os donos da casa. Ao fim, com o placar de 2 a 1 e o título assegurados, Beckenbauer foi o primeiro jogador a levantar o novo troféu da competição, a Taça Fifa, já que a Jules Rimet havia ficado em posse definitiva do Brasil a partir de 1970.
GRANDES SELEÇÕES
Polônia
Medalhista de ouro em 1972, em Munique, a Polônia voltou à Alemanha para mostrar principalmente seu poderio ofensivo: teve o melhor ataque do Mundial, com 16 gols marcados, e o artilheiro, o ponta Lato, que balançou as redes sete vezes. Liderou seu grupo na primeira fase, ficando à frente de argentinos e italianos (que acabaram eliminados), além do Haiti, saco de pancadas da chave. Na segunda fase, ganhou de Suécia e Iugoslávia. Na decisão para ver quem ia à final, vendeu caro a derrota para a Alemanha Ocidental, por 1 a 0. Acabou premiada com a conquista do terceiro lugar, quando derrotou os brasileiros pelo placar mínimo.