1954

Seleção da Alemanha Arquivo/Estadão

Em 1954, quatro anos após a retomada dos mundiais, a Europa voltou a receber uma edição da competição, a quinta. O país escolhido pela Fifa foi a Suíça, que por conta da neutralidade mantida na Segunda Guerra Mundial (1939 -1945) não teve registros de destruição em suas principais cidades, como ocorrido em outros países do continente. Dezesseis seleções participaram da Copa e a grande favorita para vencer o torneio era a fabulosa equipe da Hungria, do lendário atacante Farenc Puskas, que hoje em dia dá o nome à premiação promovida pela Fifa para eleger o gol mais bonito da temporada.

As seleções foram divididas em quatro grupos de quatro equipes cada, mas o regulamento era confuso – eram dois cabeças de chave em cada grupo, que não jogaram entre si na primeira fase e nem nas oitavas de final. Duas seleções de cada chave avançavam para a segunda fase da competição.

A seleção brasileira caiu no Grupo 1, que ainda contava com França, Iugoslávia e México. Como Brasil e França eram os cabeças de chave, eles não se enfrentaram. Nos dois primeiros jogos, o time brasileiro venceu os mexicanos por 5 a 0 e empatou com os iugoslavos por 1 a 1. Assim, o Brasil avançou como primeiro colocado da chave e a Iugoslávia ficou com a segunda vaga.

O problema foi que o confuso chaveamento colocou como adversário das quartas de final a Hungria, equipe que estava invicta havia quatro anos, ou 29 partidas. Na primeira fase, a seleção de Puskas atropelou quem apareceu pela frente – vitórias sobre a Coreia do Sul por 9 a 0 e sobre a Alemanha Ocidental por 8 a 3. Assim, no primeiro jogo eliminatório, os húngaros venceram os brasileiros por 4 a 2 no dia 27 de julho de 1954 e eliminaram os vice-campeões de 1950. Nas semifinais do Mundial, a Alemanha Ocidental venceu a Áustria por 6 a 1 e a Hungria sofreu para passar pelo então campeão Uruguai – empate em 2 a 2 no tempo normal e vitória por 2 a 0 na prorrogação. Na decisão, mais de 65 mil pessoas foram acompanhar em Berna o jogo entre Hungria e Alemanha. Os húngaros abriram 2 a 0 rapidamente, mas os alemães empataram antes dos 20 minutos do primeiro tempo. Aos 39 da segunda etapa, contudo, o ponta alemão Rahn fez o gol da incrível vitória de sua seleção e deu o primeiro dos quatro títulos mundiais ao seu país.

CAMPANHA DO BRASIL

JOGOS: 3

VITÓRIAS: 1

EMPATE: 1

DERROTA 1

GOLS PRÓ: 8

GOLS CONTRA 5

ARTILHEIROS: Pinga, Didi e Julinho Botenho (2 gols)

NÚMEROS DA COPA

16 seleções se classificaram para a disputa da Copa da Suíça, entre elas a Coreia do Sul.

140 gols foram marcados em 26 partidas.

5,38 foi a média de gols por jogo, a maior da história das Copas do Mundo.

11 gols fez o artilheiro do Mundial, o atacante Kocsis, da Hungria.

943 mil pessoas pagaram ingresso para as partidas, uma média de 36.269 pagantes.

Hungria 9 x 0 Coreia do Sul, pela primeira fase, foi a maior goleada da competição.

12 gols teve a partida entre Áustria e Suíça, nas quartas de final – até hoje o jogo com maior número de gols em mundiais.

Esta Copa foi a última em que a Fifa era presidida pelo francês Jules Rimet. Ele morreria 2 anos depois, aos 83 anos de idade.

FICHA DA FINAL

Data: 4 de julho de 1954

Alemanha Ocidental 3 x 2 Hungria

Gols: Ferenc Puskas, aos 6, Zoltan Czibor, aos 8, Max Morlock, aos 10, Helmut Rahn, aos 18 minutos do primeiro tempo; Helmut Rahn, aos 39 minutos do segundo tempo.

ALEMANHA: Toni Turek, Werner Kohlmeyer, Horst Eckel, Jupp Posipal, Karl Mai, Werner Liebrich, Helmut Rahn, Max Morlock, Ottmar Walter, Fritz Walter e Hans Schaefer.

TÉCNICO: Sepp Herberger.

HUNGRIA: Gyula Grosics, Jeno Buzanszki, Gyula Lorant, Mihaly Lantos, Jozsef Bozsik, Jozsef Zakarias, Sandor Kocsis, Nandor Hidegkuti, Ferenc Puskas, Zoltan Czibor e Mihaly Toth.

TÉCNICO: Gusztav Sebes.

JUIZ: William Ling (Inglaterra).

PÚBLICO: 62.500 pagantes.

LOCAL: Estádio Wankdorf, em Berna, na Suíça.

DESTAQUE

Fritz Walter, da Alemanha, cumprimenta Puskas Arquivo/Estadão

A seleção da Hungria foi a sensação do Mundial de 1954. Vice-campeã mundial na Copa de 1938, na Itália, campeã olímpica nos Jogos de Helsinque-1952, o time tinha um futebol eficiente, quase militarizado, implementado pelo técnico Gusztáv Sebes, que contou com o apoio do amigo e também treinador Béla Guttmann para aprimorar o desenvolvimento do futebol do país. Sebes e Guttmann montavam seus times em um esquema 4-2-4, onde todos os jogadores precisavam ter qualidade para atuar em qualquer lugar do campo e desempenhar qualquer função, seja ela defensiva ou ofensiva.

Entre os jogadores da seleção húngara, a lista de craques era grande. Além de Ferenc Puskas, participaram da campanha os craques Zoltán Czibor, Sándor Kocsis, Nándor Hidegkuti, József Boszik, László Budai e o goleiro Gyula Grosics. Eles atingiram 32 jogos de invencibilidade, recorde da seleção húngara até hoje, mas perderam justamente na decisão da Copa.

Puskas terminou o Mundial suíço com quatro gols marcados e nem mesmo a derrota na decisão fez com que ele perdesse a eleição para o melhor jogador da Copa de 1954.

GRANDES JOGOS

ÁUSTRIA 7 X 5 SUÍÇA

As duas seleções se enfrentaram nas quartas de final e os suíços contavam com o apoio de sua torcida. Com um ataque eficiente, os donos da casa abriram 3 a 0 com gols de Ballaman e Huegi (2), mas a Áustria virou a partida ainda na primeira etapa, para espanto de todos, com gols de Koerner (2), Wagner (2) e Ocwirk – Ballaman ainda diminiu o prejuízo da Suíça no final dos primeiros 45 minutos.

Na segunda etapa, Wagner fez o sexto gol austríaco, Huegi anotou o quinto dos donos da casa, mas Probst anotou o sétimo da Áustria e fechou o placar do jogo com maior número de gols da história das Copas. A Áustria acabou sendo eliminada pela Alemanha Ocidental nas semifinais da competição.

 

HUNGRIA 4 X 2 BRASIL

As quartas de final entre Hungria e Brasil ficou conhecido como “A Batalha de Berna”. A partida foi disputada sob frio e chuva, teve 42 faltas, número considerado muito alto para a época e três jogadores acabaram expulsos pelo árbitro inglês Arthur Ellis – Nilton Santos e Bozsik se agrediram e Humberto acertou um pontapé em Lorant.

Na partida, os húngaros abriram 2 a 0 com menos de sete minutos da primeira etapa. Djalma Santos, de pênalti, diminuiu para o Brasil. Na segunda etapa, a seleção brasileira quase empatou, mas de pênalti Lantos fez o terceiro da Hungria. Julinho Botelho, aos 20, diminuiu de novo para o Brasil, que não teve forças para buscar a igualdade e ainda viu Kocsis ampliar. Após o final da partida, os jogadores das duas equipes trocaram socos e até os treinadores Zezé Moreira e Guzstav Sebes se enfrentaram – o brasileiro acertou o húngaro com uma chuteira na entrada dos vestiários.

 

ALEMANHA 3 X 2 HUNGRIA

A decisão da Copa de 1954 pode ser considerada como uma das grandes zebras dos mundiais. Além de estar invicta havia 32 jogos, a Hungria venceu a Alemanha Ocidental na primeira fase por 8 a 3 e abriu 2 a 0 com menos de dez minutos do primeiro tempo da partida, gols de Puskas e Czibor. Contudo, os alemães contavam com um técnico estratégico e tinha no atacante Fritz Walter um dos seus pilares. Ao ver o time levar os dois primeiros gols, ele pegou a bola no fundo da rede e pediu “raça” e “vergonha na cara” aos companheiros.

A tática deu certo e com menos de 20 minutos do primeiro tempo o jogo já estava 2 a 2. A Hungria de Puskas e Kocsis sentiram o golpe. Perdiam um gol atrás do outro e esbarravam na forte marcação alemã, imposta pelo técnico Sepp Herberger. Ao final da partida, a Alemanha virou o jogo com Rahn, aos 39 minutos do segundo tempo. A Alemanha ficava com o primeiro de seus quatro títulos e a Hungria sentia o mesmo gosto do Brasil em 1950, de perder uma decisão em que todos a consideravam como grande favorita.

GRANDES SELEÇÕES

ALEMANHA

Além da Hungria, o time alemão era um dos melhores da época e seu técnico, Sepp Herberger, pode ser considerado um estrategista. Responsável direto pela vitória na decisão, no jogo que ficou conhecido como “O Milagre de Berna” – seu time não tinha todo o talento dos rivais húngaros, mas contava com o craque e capitão do time, Fritz Walter.

A seleção alemã reunia força física e obediência tática exemplares e deram um jeito de “enganar” os favoritos para o título. No jogo da primeira fase, que terminou com vitória da Hungria por 8 a 3, ele mandou a campos seus reservas e assim preservou a saúde de seus principais jogadores, além de ter estudado as principais jogadas ofensivas da equipe húngara.

A tática deu certo e na decisão, os alemães conseguiram controlar os nervos e viraram a partida para ficar com o título.