O caminho de volta do Acampamento-Base, pegamos um atalho para subir aos 5.550 metros do Kala Patthar, de onde se tem a melhor vista do Everest. Cinco duras e desgastantes horas de caminhada sobre pedras soltas, com frequência usando as mãos como apoio. A 5.400 metros de altitude já avistávamos o cume do Everest com nitidez, o pico negro encravado entre o Nuptse e o Ombro Esquerdo. “Bem pertinho, gigante, imponente, claramente se sobressaindo”, anotei no diário.
E então, o tempo fechou. Por rádio, o chefe da expedição, Sumit Joshi, deu a ordem para que retornássemos – havia risco de neblina na descida. Faltavam 100 metros verticais para o já visível cume do Kala Patthar, mas não teve jeito: recuamos e começamos o retorno a Gorak Shep (5.140 metros).
Foi uma das ocasiões em que o trekking ao Acampamento-Base nos fez experimentar o gosto – amargo, algumas vezes – do imponderável. A necessidade de abrir mão dos planos previamente traçados, lidar com imprevistos e com os limites impostos pelo corpo e pelo ambiente. Frustrante, mas são regras de sobrevivência.
Outro desses momentos veio com o retorno para Namche Bazar. O plano era fazer o percurso pelo Vale do Gokyo, considerado uma das áreas mais bonitas do Himalaia por seus lagos azulados. No início da subida ao Cho La Pass, a 5.368 metros, constatou-se que um dos integrantes do grupo estava com baixo nível de oxigênio no sangue e dor de cabeça provocada pela altitude. A decisão do guia Lucas Sato, da Grade 6, foi dar meia-volta rumo a Pheriche, para dali seguir a Namche Bazar.
A impressão a respeito de tal decisão também foi anotada no diário: “Hoje optamos por recuar pela segunda vez. É conflitante o sentimento na montanha. Em casa, a milhares de quilômetros, pareceria haver uma única resposta: arriscar. Aqui, uma série de fatores se somam. O cenário é complexo, arriscar pode ser um equívoco. Agora, com calma, acredito que, tanto hoje quanto há dois dias, as decisões foram acertadas.” F.M.