Responsável pela popularização do termo “Uber Economy”, Steven Hill propõe seguro para os temporários

Pedro Borges e Ricardo Rossetto

Para quem está desempregado, trabalhar como motorista do Uber pode ser uma das formas mais simples de ter um salário no fim do mês. Mas esse trabalhador não terá benefícios como seguro-desemprego, plano de saúde ou abono salarial. O pesquisador Steven Hill, especialista em crescimento econômico na New America Foundation, afirma que a precarização do trabalho é o grande risco do avanço desse modelo. No livro Raw Deal (Pacto Selvagem), ele propõe a criação de um Plano de Seguro Universal para garantir benefícios tanto para trabalhadores temporários quanto para freelancers. Assim, quem presta serviços para mais de uma empresa ao mesmo tempo teria benefícios de forma proporcional ao número de horas trabalhadas em cada emprego.

Estado: Quais problemas a uberização da economia pode trazer?
Steven Hill: Esse é um modelo que permite maior flexibilidade para aqueles que querem trabalhar como freelancer, mas esses trabalhadores não têm nenhum tipo de proteção, como plano de saúde e seguro social. Um bom exemplo desse tipo de companhia é a Upwork (empresa que conecta freelancers e empregadores), que tem 250 empregados regulares mas supervisiona 10 milhões de trabalhadores pelo mundo. Então, trabalhadores do mundo desenvolvido competem com os do mundo em desenvolvimento, só que no Brasil ou na Índia as pessoas vão aceitar salários mais baixos. Isso cria uma tendência negativa nos salários que vai destruir a força de trabalho no longo prazo.

Como as autoridades devem lidar com essa nova tendência?
O que eu proponho, no livro Raw Deal, é a criação do que eu chamo de Plano de Seguro Individual (Individual Security Account) para todos os trabalhadores. É uma conta na qual cada empresa que contrata pessoal temporário vai precisar depositar uma quantia relativa à quantidade de horas de serviços prestados. Com esse dinheiro, os trabalhadores poderão ter acesso aos benefícios que eles teriam caso fossem contratados regularmente. Esse tipo de seguro individual portátil é o que chamamos de rede de seguro universal. Hoje, se eu sou dono de uma empresa e trabalho com mão de obra freelancer, posso reduzir meus custos em até 30%. Então quem não usa essa mão de obra vai estar num ambiente competitivo com essa desvantagem, e isso é um incentivo para que essa mão de obra temporária seja cada vez mais usada, criando uma corrida para o fundo do poço.

Quais efeitos esses novos mercados podem causar em países emergentes?
Para alguns trabalhadores, dependendo da situação, essas plataformas podem proporcionar uma chance de ganhar algum dinheiro. Não há dúvida de que é melhor alguma renda do que ficar sentado no sofá sem renda nenhuma. A questão é que esses trabalhadores sempre precisam ter o próximo emprego arranjado, então necessitam ser muito hábeis. Muitas pessoas têm personalidade para isso, mas outras, com competência e experiência, podem não ter essa característica, e elas não terão sucesso nessas plataformas digitais.

A uberização da economia vai crescer ainda mais?
Acredito que o crescimento desse tipo de plataforma vai se dar pelo mercado de trabalho como um todo. Se você for a uma fábrica de automóveis nos Estados Unidos, vai descobrir que metade da força de trabalho é temporária. Eles fazem o mesmo serviço que os regularmente contratados, mas recebem metade do pagamento e não têm benefícios sociais. Nós vamos ver cada vez mais negócios usando plataformas digitais para contratar e demitir facilmente. As empresas querem uma mão de obra que possam ligar e desligar da mesma forma que fazem com a TV. Isso acaba com a dimensão social do mercado de trabalho e destrói a relação do empregado com o empregador.