Empresa vira patrocinadora oficial dos Jogos Olímpicos e faz cidade resolver seu déficit de quarto; são 105 mil vagas adicionais
Sem a parceria com o Airbnb, muitos turistas não teriam onde dormir no Rio de Janeiro durante a Olimpíada. O patrocínio da empresa colocou 105 mil vagas no cardápio de hospedagem e acabou com o risco, antes real, de não haver quartos para todos. A conta não fechava: só os 300 mil visitantes estrangeiros esperados pelo Ministério do Turismo são o dobro da capacidade média disponível nos hotéis. Sem incluir os brasileiros que vão para a cidade em agosto, que podem ultrapassar os 400 mil da Copa do Mundo, em 2014.
A parceria quebrou um paradigma: foi o primeiro patrocínio oficial de uma empresa da chamada “economia uberizada” – cuja marca registrada é a exclusão do intermediário nas negociações – a um evento mundial deste porte. Para o Airbnb, presente no Brasil há quatro anos, trata-se de uma grande vitrine. Mas também uma oportunidade de tirar uma lasca dos US$ 51 bilhões que o evento vai movimentar, segundo estimativa do Ministério do Esporte. O valor investido pela empresa não foi divulgado.
“Grandes eventos estão no DNA da empresa, que surgiu quando os fundadores aproveitaram a oportunidade de uma conferência de design em São Francisco para alugar o espaço livre em seu apartamento”, diz Leonardo Tristão, diretor-geral do Airbnb no País. Na Copa do Mundo, a plataforma acomodou um em cada cinco turistas.
A preocupação com a hospedagem já havia sido apontada no Dossiê Olímpico, divulgado em 2009, ano em que o Rio foi escolhido como sede. O conselho dos avaliadores era ancorar seis navios hoteleiros na orla carioca. Com a participação do Airbnb, será apenas um. É também essa participação que permite que o Comitê Rio 2016, empresa público-privada criada para organizar o evento, considere o problema resolvido. “As condições de hospedagem ficaram equacionadas”, informa nota divulgada pelo comitê.
Além do Airbnb e dos hotéis, hostels, resorts e motéis vão dar conta da demanda. “O País aprendeu a lição: é preciso dispor de vários tipos de hospedagem e atender todos os tipos de viajantes”, diz Bruno Reis, coordenador-geral da Embratur.
Nos hotéis, a taxa de ocupação passa dos 90% a um mês da cerimônia da abertura – grande parte das reservas para a chama da Família Olímpica, que inclui federações esportivas e comitês olímpicos. Apesar de o setor hoteleiro ter duplicado a oferta de quartos nos últimos sete anos, as vagas em estabelecimentos de quatro e cinco estrelas já se esgotaram.
Em Ipanema e no Leblon, bairros mais procurados, encontrar um hotel agora é quase impossível. Na Barra da Tijuca, região mais próxima do Parque Olímpico, 97% dos quartos estão reservados.
Escalada para ser voluntária na Olimpíada, Bruna Romão ficará pela primeira vez hospedada no Airbnb. Com hotéis e até hostels com diárias elevadas, foi a escolha mais econômica para Bruna e duas amigas. “Não estava achando nada abaixo de R$ 100”, explica. Depois de muita barganha, o aluguel de um apartamento na Tijuca, bairro a mais de 20 quilômetros da Barra da Tijuca – onde está a Cidade Olímpica – saiu por cerca de R$ 65 por dia para cada uma.
Salto no Brasil. No último ano, o Airbnb ampliou em 69% sua oferta de hospedagem no Rio, o que colocou a capital fluminense em quarto lugar no ranking das cidades com maior número de quartos disponíveis, atrás de Londres, Paris e Nova York. “É salutar ter (o Airbnb) como opção, até para não se criar mais hotéis e depois não ter o que fazer com eles”, reconhece Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira no Rio de Janeiro (ABIH-RJ).
Até o fim de junho, 30 mil pessoas já haviam feito reservas para o período olímpico. As diárias do Airbnb custaram, em média, R$ 500. Como cada hospedagem acomoda cerca de três pessoas, a conta individual sai por R$ 187, valor menor do que o cobrado pelos hotéis. Segundo dados do site Trivago, que faz comparação de preços, as diárias na rede hoteleira variam de R$ 800 a R$ 2.700 no período dos Jogos.