Percurso, para a arquiteta e urbanista Andréa Sender, de 35 anos, combina mesmo é com busca por conhecimento. Saber para mudar. Ensinar para espalhar. Foi assim que ela se reinventou: de arquiteta em uma gerenciadora de projetos a arquiteta transformadora de praças e parques, com o engajamento das comunidades.
Tudo começou com uma temporada de estudos em Paris, em 2011. Mas foi fora das salas de aula que veio o aprendizado. Era a descoberta de Paris, cidade em que ela fazia tudo de bicicleta, transporte público ou a pé. Entre as andanças, a reflexão constante: “Quero uma São Paulo mais parecida com isso quando voltar”.
Para Andréa, entretanto, o ensino formal é importante. É a matéria-prima da transformação. E ela se matriculou em um MBA de sustentabilidade. “Trabalhei por seis meses em uma consultoria francesa de projetos sustentáveis”, conta. Em fevereiro de 2014, voltou a São Paulo.
“Insatisfeita”, admite. “Eu via duas opções: ou reclamava sem parar ou tomava uma atitude.” Que, em seu percurso pessoal, passava por mais treinamento. Em Liberdade, interior de Minas, fez um curso em uma ecovila, a Terra Una. “Dali veio o insight: por meio da arquitetura, eu poderia fazer algo com impacto positivo no planeta.”
Foi trabalhar em uma empresa que promove transformações em espaços públicos juntando patrocínio e engajamento das comunidades. Um dos projetos da equipe é a Praça Kant, na Chácara Klabin, zona sul, ação contratada por um colégio particular. Os moradores das redondezas foram convidados a “trocar sonhos” que, após mutirão, e com materiais doados pela comunidade, viraram melhorias na área verde.
Andréa sorri ao pensar que ainda tem muito a fazer em uma cidade gigante e cheia de problemas como São Paulo. Ela já decidiu: vai colocar seus aprendizados a serviço dessa transformação. E aprender mais, a cada etapa. E ensinar, espalhar, difundir: em toda praça recuperada, fica o plantio de uma ideia, de que a cidade é de todos, é de cada um.
Reduzir o consumo é o mote de aplicativos que distribuem cursos grátis, conectam interessados em aprender um idioma ou em emprestar sua biblioteca
Emprestar em vez de consumir. Na era das redes sociais, dos smartphones e de toda essa conectividade, o conhecimento também é compartilhado. “Isso caminha junto com a questão da economia criativa, social e sustentável”, diz a historiadora, socióloga e pedagoga Cláudia Coelho Hardagh, professora de Tecnologia Educacional da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “É menos gasto de papel, de árvores, de tudo.”
Exemplo é o aplicativo Livrio, idealizado por uma startup com o objetivo de “criar a maior biblioteca compartilhada do mundo”. “Acreditamos que essa biblioteca está espalhada, um pedacinho na casa de cada pessoa”, resume um dos idealizadores, o engenheiro de softwares Aurélio Saraiva, de 30 anos. O funcionamento é simples: basta que o usuário cadastre os títulos que tem e gostaria de emprestar.
Lançado neste mês, o aplicativo faz o gerenciamento, como se a coleção do participante fosse uma biblioteca circulante. Nas duas primeiras semanas, 2 mil usuários se cadastraram – um total de 20 mil livros. “O aplicativo surgiu porque estamos imersos no conceito da economia colaborativa, em que o consumo do conteúdo é mais importante do que o consumo da posse”, explica Saraiva. “Mais importante do que ter um livro é ter acesso à informação dele.”
Dessa forma, as bibliotecas públicas também aparecem como elemento importante na equação “menos consumo e mais conteúdo”. Bibliotecas como a Mario de Andrade e a do Centro Cultural São Paulo, ambas na região central, e as dos Parques da Juventude, na zona norte, e Villa-Lobos, na zona oeste, vivem cheias de estudantes debruçados sobre cadernos, livros e tablets.
“É preciso pensar de modo sustentável na gestão de um espaço como este. São dois olhares simultâneos: um para o passado, outro para o futuro”, diz o diretor da Mario de Andrade, o filósofo Luiz Armando Bagolin.
Plataformas. Quanto ao futuro, os especialistas ouvidos pelo Estado concordam: plataformas móveis serão cada vez mais importantes. “É um avanço enorme: hoje em dia, você vai encontrar um aplicativo disponível para aprender qualquer coisa”, resume o físico José Luiz Goldfarb, professor de História da Ciência da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Um dos mais bem-sucedidos exemplos é a plataforma Coursera – que distribui, online, cursos grátis de 120 universidades e instituições de ensino do mundo. Outro exemplo é o aplicativo Tandem, que conecta pessoas interessadas em aprender idiomas estrangeiros, para que um ensine a sua língua nativa para o outro.
Mas, lembra Goldfarb, há soluções mais simples e ao alcance de todos. “Em minhas aulas na pós-graduação, por exemplo, sempre crio um grupo de WhatsApp para a turma. É uma versão contemporânea dos grupos de estudo, em que há troca de conhecimento constante.”