Editor Executivo de Conteúdos Digitais: Luís Fernando Bovo
Diretor de Arte: Fabio Sales
Edição: Luciana Garbin
Reportagem: Ricardo Brandt
Fotos e vídeos: Robson Fernandjes
Edição e roteiro: Cecilia Cussioli
Edição: Everton Oliveira
Coordenação e edição: Filipe Araújo
Edição: Cesar Cuninghant
Desenvolvimento: Carol Rozendo e Fabio Sales
Ilustrações: Farrell
Tratamento
Deve ser interdisciplinar, dirigido às diversas áreas afetadas: física, psicológica, social, legal e de qualidade de vida. Não há um
tratamento único que seja apropriado para todos os casos.
O que considerar
O tipo de ambiente onde vive o usuário e a intervenção mais adequada às suas necessidades.
Fases
Desintoxicação e abstinência
Fase que deve ter supervisão médica e é porta de entrada para o tratamento. Fisiologicamente, dura poucos dias. O uso de medicações pode reduzir o desconforto dos
usuários e minimizar as complicações médicas. A desintoxicação estabiliza os usuários, mas a vontade de consumo pode persistir por meses.
Reabilitação
Fase de mudança comportamental com foco na manutenção da abstinência.
Deve incluir trabalho terapêutico com aconselhamento individual e familiar,
conhecimento sobre a dependência, psicoterapia, treinamento social e vocacional e em alguns
casos medicações para reduzir a vontade de consumo.
Manutenção e prevenção de recaídas
Fase que para muitos nunca passará, com foco na manutenção da
abstinência. Grupos de mútua ajuda, comunidades terapêuticas e
apadrinhamento são importantes, assim como a mudança do estilo de
vida, aprender a lidar com sensações e situações que podem ser gatilho
para uso da droga e retomar laços familiares e sociais.
Diferentes tipos
Ambulatorial
Paciente vai ao centro especializado para consultas, terapias, atividades e
medicação e volta para casa. Indicado a quem consegue ficar
curtos períodos em abstinência sem necessidade de internação.
Internação
Pode ser hospitalar, em clínicas ou em comunidades terapêuticas.
Paciente fica de 15 dias a 6 meses internado. Indicada para usuários
com necessidade de intervenção mais efetiva.
Grupos de mútua ajuda
Paciente frequenta por conta própria reuniões de grupos como
Narcóticos Anônimos. Indicado a quem consegue se manter em
abstinência sozinho, sem necessidade de medicação.
Como funcionam
Ambulatorial
Caps-AD (ambulatório especializado)
Unidade pública de saúde especializada no tratamento de viciados em
álcool e drogas ilícitas, com equipe multidisciplinar de médicos,
psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais
e educadores. O paciente não fica internado, passa por tratamento intensivo
(com visitas diárias), semi-intensivo ou não intensivo, com visitas e
consultas ocasionais. Tem de dois a quatro leitos para desintoxicação. Pode
ser buscado diretamente pelo usuário, pela família ou receber casos da
rede pública. Trabalha com estratégias motivacionais, integração com grupos sociais,
abordagem educacional sobre o vício e monitora
a abstinência com testes de drogas. Faz psicoterapia individual e de
grupo, treinamento vocacional, dá suporte social e pode usar medicamentos.
Unidades de Acolhimento Adulto e Infantil
Serviço da rede pública que oferece acolhimento transitório a viciados que
estão em tratamento nos Caps. São casas onde esses pacientes podem
viver por um período com acompanhamento profissional. Acolhem até 15
adultos por até seis meses e ajudam na sua recolocação profissional e
busca por moradia definitiva. A unidade infantil acolhe até dez
pacientes com idade entre 10 e 18 anos.
Hospital-dia
Unidade de internação parcial, situada na comunidade, com atuação
transitória. É um serviço intermediário entre o
tratamento ambulatorial dos Caps e a internação hospitalar. Indicado a quem ainda consegue
manter tempos curtos de abstinência. Trabalha com medicação, grupos
terapêuticos e atividades recreativas. É mais barato que a internação, mas pouco difundido no Brasil.
Consultório de rua
Formado por equipes de saúde móveis do governo federal, usa a
estratégia de redução de danos para lidar com a população
em situação de rua e usuários de crack e outras drogas. São equipes profissionais
multidisciplinares que atuam de forma itinerante nas ruas. Dependentes
podem procurar as unidades diretamente quando elas estiverem no local.
Moradia assistida
São residências mantidas por governo ou entidades que servem de ambiente terapêutico urbano.
Nelas os pacientes vivem com papéis definidos, regras e normas de convívio.
Complementares ao tratamento principal, feito em unidade ambulatorial ou hospital-dia,
são de caráter transitório, mas sem tempo predefinido de permanência. A adesão é voluntária e a
abstinência, obrigatória.
Internação
Hospital geral ou psiquiátrico
Público e privado, é recomendado a casos graves de usuários com grau
de comprometimento elevado ou que têm outra doença
associada (comorbidade). Acolhe e estabiliza os pacientes para depois
encaminha-los ao tratamento ambulatorial ou a uma comunidade
terapêutica. A internação pode ser voluntária, involuntária
(quando solicitada pela família) ou compulsória (quando determinada
pela Justiça).
Enfermaria especializada
Serviço de internação de curto prazo para pacientes com necessidade
de avaliação, acompanhamento médico e trabalho multidisciplinar
intensivo, com atividades ocupacionais voltadas à reintegração social
e prevenção de recaídas. É uma alternativa ao hospital psiquiátrico,
com internações de curto prazo. Serve para viciados com intoxicação e dependência grave, complicações clínicas, comorbidade
psiquiátrica, insucesso de tratamento ambulatorial, casos de gravidez.
Em São Paulo, há uma clínica recém-inaugurada no interior, em Botucatu,
pelo Estado.
Comunidade terapêutica
Voltada a dependentes que necessitam de suporte e terapia para se
manterem em abstinência e se reinserirem socialmente. O principal
instrumento terapêutico é a convivência com outros usuários para troca
de experiências. Sustenta-se no tripé espiritualidade,
trabalho e disciplina e pode durar de 3 a 12 meses. Tem convênios com os governos
federal e estadual.
Mútua ajuda
São grupos não profissionais que trabalham com terapia em grupo,
atendendo voluntários gratuitamente. Dois desses grupos,
o Narcóticos Anônimos e o Amor Exigente, adotam como base o tratamento dos 12 passos criado
nos Estados Unidos em 1935 para alcoólatras.
13 princípios do Nida*
1. Nenhum tratamento é efetivo para todos os pacientes
2. O tratamento precisa estar facilmente disponível
3. O tratamento deve atender às várias necessidades e não somente ao uso de drogas
4. O tratamento deve ser constantemente avaliado e modificado de acordo com as necessidades do paciente
5. Permanecer em tratamento por período adequado é fundamental para sua efetividade
6. Aconselhamento e outras técnicas comportamentais são fundamentais
7. Medicamentos são importantes, principalmente quando combinados com terapia
8. As outras doenças (comorbidade) devem ser tratadas de forma integrada
9. A desintoxicação é só o começo do tratamento
10. O tratamento não tem de ser voluntário para ser efetivo
11. A possibilidade de uso de drogas deve ser monitorada
12. Avaliação sobre HIV, hepatites e aconselhamento para evitar seus riscos são recomendados
13. A recuperação é um processo longo e muitas vezes envolve vários episódios de tratamento
* DIRETRIZES DE TRATAMENTO INSTITUÍDAS PELO NATIONAL INSTITUTE AND DRUG ABUSE, DOS EUA, EXTRAÍDAS DO LIVRO O TRATAMENTO DO USUÁRIO DE CRACK, DE MARCELO RIBEIRO E RONALDO LARANJEIRA
12 passos dos Narcóticos Anônimos
1. Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção, que tínhamos perdido o domínio sobre as nossas vidas
2. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade
3. Decidimos entregar a nossa vontade e as nossas vidas aos cuidados de Deus na forma em que O concebíamos
4. Fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos
5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano a natureza exata das nossas falhas
6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter
7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse das nossas imperfeições
8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e dispusemo-nos a reparar os danos a elas causados
9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicar essas pessoas ou outras
10. Continuamos a fazer um inventário pessoal e quando estávamos errados admitimo-lo prontamente
11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar o nosso contato consciente com Deus na forma em que O concebíamos, rogando apenas pelo conhecimento da Sua vontade em relação a nós e pelas forças para realizar essa vontade
12. Tendo experimentado um despertar espiritual graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem a outros adictos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades