Expedição

‘Vocês não podem entender como foi ser pupilo de Tom Jobim’

‘Se a bossa nova tivesse produzido apenas esse disco,
já estaria justificada’, publicou a revista ‘Down Beat’ sobre um dos maiores encontros do século 20

Por Roberto Menescal

Tive muita sorte em conhecer esse meu mestre e ser aceito por ele quase como um pupilo. Vocês não podem entender o quão importante foi conhecer e compartilhar grandes momentos com o maior de todos compositores do Brasil(na minha opinião e creio que não devo estar muito só nesta opinião). Eu nunca invadi sua casa sem ser convidado, mas quando ele me telefonava e perguntava “Menesca, o que você está fazendo?” eu respondia: “Estou indo já para sua casa”, pois sabia que aquilo era uma convocação.

Certa vez eu estava almoçando em minha casa, que ficava a pouco mais que uma quadra da do Tom, e ele me fez essa mesma pergunta: “Menesca…..”, e acrescentou “venha, pois acabei de fazer uma música sua!” “Como Tom? Não entendi”. E ele disse: “Venha que eu lhe mostro.” Chegando lá, ele já ao piano, tocou a melodia que ficou conhecida mais tarde como Surfboard.

Eu fiquei louco com a música e lhe pedi licença para gravá-la no long playing que estava fazendo no selo Elenco (fui o primeiro a gravá-la). Mas perguntei a Tom: “Porque você disse que estava fazendo uma música minha?” E ele respondeu: “Claro Menesca, se eu não fizesse você faria. Ela é a sua cara, o seu estilo.” Impossível imaginar como fiquei emocionado com isso. Para mim, o maior elogio que pude receber.

A última vez em que estivemos juntos foi em uma reunião com o então prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, que queria fazer um festival apresentando apenas músicas que mencionavam a cidade na letra, como: Garota de Ipanema, Ela é Carioca (de Tom e Vinicius) Rio (minha com Ronaldo Bôscoli), Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi) e Menino do Rio (Caetano Veloso). Na saída, ficamos conversando na porta da prefeitura e falei para Tom: “Amigo, estou envergonhado de lhe dizer que só soube esta semana que você, há mais de 20 anos, é o segundo lugar na parada dos compositores mais executados em rádio, shows, TVs e filmes em todo o mundo!” Fiquei muito sem jeito de lhe dizer aquilo. Imaginei quantos fãs ele não deveria ter no mundo. Mas Tom apenas respondeu: “É isso, Menesca. O Brasil não gosta do Brasil.” Fui adiante e falei mais: “O interessante é que os Beatles, durante esse mesmo tempo da pesquisa, sempre estiveram em primeiro lugar no mundo. E Tom me respondeu, com aquela velocidade e humor que característicos: “Mas eles são quatro, não é Menesca?” Tom tinha razão. Se fizessem a pesquisa separando os compositores John Lennon, Paul McCartney e George Harrison, sobraria ao brasileiro o primeiríssimo lugar. Isso é só um pouco das inúmeras histórias que participei junto à esse meu grande mestre.