O vinho brasileiro hoje


Luiz Horta
Manoel Beato


Disputa taça a taça

Texto: Marcel Miwa, especial para o Estado
Foto: JF Diório/estadão
Em alguns círculos de degustadores de vinhos, é comum ouvir que hoje o vinho brasileiro atingiu bom nível de qualidade e regularidade. Entre os elogios, costuma-se dizer que os vinhos brasileiros são frescos, envelhecem bem e há boa diversidade de estilos e opções de variedades de uvas viníferas. Já entre as críticas, normalmente ouvimos que existem deficiências na produção (pequena escala) e distribuição (alguns vinhos não chegam ao mercado com consistência e abrangência), que a qualidade está concentrada nas mãos de algumas poucas vinícolas e o alto preço ofusca grande parte das qualidades.

Para tratar a questão de forma mais isenta possível, o crítico de vinhos do Paladar, Luiz Horta, e Manoel Beato, sommelier do Grupo Fasano, promoveram uma degustação às cegas de grandes rótulos brasileiros e estrangeiros de mesma faixa de preço.

Antes de iniciar a “operação”, Beato comentou que se existe o Julgamento de Paris, aqui realizamos o Julgamento de São Paulo, em referência à degustação que colocou frente à frente vinhos californianos e franceses, em 1976.

O primeiro par apresentado foi produzido com a variedade Gewürztraminer. A vantagem ficou com o chileno Carmen Reserva frente o Salton Volpi, por ter maior elegância e tipicidade (carecterísticas típicas da variedade em seu território de origem).

Partindo para os tintos, confira as impressões do público às cegas, com o posterior nome do rótulo:

1 - Lidio Carraro Elos 2008 (Touriga Nacional/Tannat - Serra do Sudeste - Brasil)
Foi considerada a amostra mais simples do painel.

2 - Miolo Quinta do Seival Castas Portuguesas 2008 (Touriga Nacional/Tinta Roriz - Campanha Gaúcha - Brasil)
Para Beato, era um vinho moderno, concentrado, com taninos firmes e boa qualidade geral. Para Luiz Horta, foi uma relativa decepção, pois costuma gostar bastante deste vinho.

3 - Lavradores de Feitoria 2009 (Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca - Douro - Portugal)
Conquistou grande parte da plateia. Para Beato, era uma amostra típica, com estilo fácil de agradar.

4 - Brunello di Montalcino 2007 Castello Banfi (Brunello - Montalcino - Itália)
O vinho favorito do painel, de acordo com o público. Luiz Horta destacou a intenso ataque láctico, como doce de leite.

5 - Château Cantemerle 2008 (Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot - Bordeaux - França)
Apontado como um dos favoritos do público, era jovem e potente, o que dificultava a identificação de sua origem.

6 - Bueno Paralelo 31 2009 (Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot - Campanha Gaúcha - Brasil)
Com dois votos de favorito, Beato destacou a boa qualidade desta amostra, com notas de frutas negras intensas e boa profundidade.

7 - Salton Desejo 2008 (Merlot - Serra Gaúcha - Brasil)
O terceiro mais votado. A amostra foi considerada como vinho importado pela maioria das pessoas, por apresentar boa complexidade aromática, com destaque para as notas de especiarias e equilíbrio geral.

8 - Vila Francioni Michelli 2006 (Sangiovese - São Joaquim - Brasil)
A última amostra arrematou a medalha de prata e se destacou pela textura polida, notas herbais e fruta fresca.

Em uma degustação paralela foram servidas duas amostras, uma estrangeira e uma nacional, elaboradas com a mesma variedade: Syrah. Beato descreveu a primeira (estrangeira) como seguidora do estilo do Novo Mundo e a segunda do Velho Mundo. O primeiro foi considerado frutado, concentrado, talvez um pouco enjoativo, e o segundo, com mais especiarias e sutilezas. O público preferiu a primeira amostra (Amayna Syrah), mas sem mencionar defeitos na segunda (Almaunica Syrah). A decisão foi por mera preferência pessoal.