Tempos do vinho


Luiz Horta
Ennio Federico


O ápice do vinho

texto: Marcel Miwa, especial para o Estado
foto: JF DIóRIO/estadão
Uma das questões que atordoam os apaixonados por vinhos é a hora de abrir uma garrafa. Não me refiro ao ato de sacar a rolha (que também pode ser um momento tenso), mas ao momento em que uma garrafa atinge seu auge. Sabemos que alguns componentes dos vinhos estão relacionados a sua conservação e longevidade. Via de regra, a escala crescente de concentração, cor, taninos, acidez e álcool está diretamente relacionada à longevidade da bebida.

Além da influência dos componentes, as generalizações mais comuns são de que tintos envelhecem melhor que brancos e que vinhos do Novo Mundo (Américas, África e Oceania) atingem o ápice mais cedo que vinhos do Velho Mundo (continente europeu) e entram em decadência mais cedo que os exemplares europeus.

Identificar o ápice de um vinho, que pode levar alguns anos, foi o tema tratado pelo crítico de vinhos do Paladar, Luiz Horta, na aula Tempos do Vinho.

"Não há como definir o momento de abrir uma garrafa de vinho. Isso não é uma ciência. Só se sabe o estado do vinho quando se prova", diz Luiz Horta. E assim partimos para a degustação histórica de algumas raras garrafas da coleção de Ennio Federico.

1. Anticuário Reserva Especial 1982 Castelo Lacave - Caxias do Sul – Brasil
Cabernet Franc e Merlot
Notas de frutas vermelhas secas, mel, própolis e terra. Já saindo de seu auge, mas com frescor e elegância notáveis. Os taninos são discretos e já estão completamente amaciados. Final com nota de incenso.

2 Guglielmone Adega Medieval Nebbiolo 1985 - Viamão – Brasil
(Nebbiolo)
Apresenta a tipicidade da nebbiolo, com notas de xarope de ervas, folhas secas e cogumelos. A identidade permanece na boca, com os taninos intensos típicos da variedade e conjunto bem integrado. Amostra completamente viva. "Vinho admirável pelas condições em que foi produzido, em época de pouca tecnologia e vinhedos conduzidos em latada, que não privilegia a qualidade", disse Horta.

3 Chandon tinto 1991 - Serra Gaúcha - Brasil
(Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc)
Ataque defumado, com notas intensas de ervas e pimenta. Textura aveludada, também estava íntegro, com notas de tabaco, musgo e ótima acidez.

4 Marques de riscal Gran Reserva 1971 - Rioja - Espanha
(Tempranillo)
O visual âmbar denunciava certa decrepitude que não se concretizou. Notas de caramelo, café frutas secas, principalmente amêndoa. Mesmo com certa acidez volátil, o vinho estava agradável e com taninos finos já amaciados pelo tempo.

5 Chianti Classico Riserva 1959 Duilio Fossi - Toscana - Itália
(Sangiovese)
Logo de cara nota-se aromas de baunilha, tostados e ginja. Na boca, algumas notas de frutas vermelhas secas, com a ótima acidez que caracteriza a Sangiovese. Os taninos ainda apresentam alguma intensidade e vivacidade, mas as notas finais de vermouth e cogumelo denunciam a passagem pelo auge.

6 Barolo 1978 Marchesi di Barolo - Piemonte - Itália
(Nebbiolo)
Região conhecida por produzir vinhos muito longevos, este Barolo tinha ataque com notas medicinais, de flores e folhas secas e caramelo.Na boca se mostra em plena forma e capaz de suportar mais alguns anos de guarda, fazendo jus a sua reputação. "É um vinho highlander", disse Horta. Os taninos ainda são finos e ainda intensos. Com algum tempo em taça abriram aromas de cânfora e ervas secas.