Tecnologia facilita a conexão entre empresas e trabalhadores, ampliando opções de atividades temporárias
A preocupação com a qualidade dos empregos na economia uberizada é exagerada, afirma K. Sudhir, especialista em consumo em mercados emergentes da Universidade de Yale. “Sempre tivemos pessoas fazendo trabalhos temporários para ganhar um pouco mais”, diz o acadêmico. Para ele, as novas tecnologias facilitam a conexão entre trabalhadores e empresas, e isso deve fazer com que cada vez mais pessoas aceitem trabalhos temporários. Nesse contexto, os trabalhadores tornam-se mais flexíveis e especializados em determinadas tarefas, eliminando a necessidade de estarem em um ambiente fixo o tempo todo.
Estado: O que a uberização representa para os consumidores?
K. Sudhir: Uma das suas melhores descrições diz que é a conexão dos fornecedores de recursos intangíveis, como tempo e experiência, com quem precisa deles por meio de plataformas digitais. Claramente, no curto prazo isso torna a vida das pessoas mais fácil ao oferecer a elas novos serviços e trabalhos que possibilitam renda extra, o que aumenta a produtividade de toda a economia. Para os consumidores, traz novos serviços com preços muito mais baixos, ao aproveitar recursos desperdiçados pelos serviços tradicionais. Para os profissionais, entretanto, a questão tende a se tornar mais complicada. Trabalhadores da indústria, por exemplo, podem perder seus empregos e seus benefícios, e acabar indo trabalhar como motoristas do Uber e receber um salário muito menor.
O senhor afirma que o modelo de negócios gerado pela uberização é mais importante para países emergentes do que para economias avançadas. Por quê?
A chave para o sucesso desse tipo de modelo de negócios em países emergentes está no fato de que a economia uberizada ou compartilhada reduz os custos de produtos e serviços. Dessa maneira, o acesso das pessoas mais pobres a esses serviços é mais eficiente em países menos desenvolvidos do que nos países ricos. Ao mesmo tempo, nas economias onde os serviços são menos regulados, os intermediários conseguem tornar os clientes reféns das suas regras. Na Índia, por exemplo, os valores cobrados por um taxista por uma corrida não são padronizados. O modelo reduz essas incertezas da qualidade do serviço prestado e do preço cobrado, ao tornar tudo mais transparente, e, portanto, aumenta a credibilidade e o uso desses serviços. Então, acredito que nos países emergentes há um grande potencial para o crescimento de todos os produtos e serviços que compõem essa nova economia.
Há algum efeito negativo para o mercado de trabalho?
As preocupações com o trabalho temporário e os seus efeitos no longo prazo sobre a qualidade dos empregos podem ser exageradas. Mais vagas com horário flexível vão surgir. Nós sempre tivemos pessoas fazendo trabalhos temporários para ganhar um pouco mais. Agora, ainda mais pessoas devem adotar essa estratégia, na medida em que a tecnologia nos permite conectar a oferta e a demanda com mais facilidade.
As pessoas também estão mais propensas a aceitar trabalhos temporários ao invés de uma única função?
Hoje a tecnologia nos permite monitorar facilmente a produção das pessoas sem que esses funcionários tenham que estar em um ambiente fixo de trabalho o tempo todo. Junte a isso os custos fixos mais elevados da contratação e demissão de empregados permanentes. Agora as empresas podem também ter pessoas trabalhando por tempo parcial para certos tipos de trabalho nos quais é fácil acompanhar o seu desempenho. A tecnologia e os custos de manutenção de um funcionário por tempo integral são as principais causas dessa disrupção do modelo de negócios. E as pessoas estão respondendo a essas novas oportunidades tornando-se mais flexíveis e especializadas em determinadas tarefas.