O advogado que virou médico
Texto: Bianca Pinto Lima
Aos 35 anos, Paulo Junqueira acaba de se formar em Medicina. Quase uma década atrás, ele também era um recém-formado, mas em Direito. Da primeira vez, o paulistano escolheu a profissão por exclusão. Da segunda, por interesse. Mas a angústia, segundo ele, fez parte dos dois processos. No Direito, angustiava-lhe o fato de não estar realizado. Na mudança para a Medicina, foi preciso lidar com a alteração brusca de rumo, as incertezas financeiras e os questionamentos da família.
"Desde que me formei sabia que não me aposentaria no Direito", conta Junqueira. A advocacia nunca o atraiu muito, mas as altas remunerações traziam satisfação financeira. E isso compensou – durante um tempo. A convivência com amigos médicos, contudo, evidenciou o interesse pela nova área. Foram algumas visitas a hospitais e um programa de três meses de reorientação profissional - e a decisão estava tomada.
"Demorei quatro anos para concretizar a mudança. Neste período acumulei reservas e coloquei o pé no freio em relação aos gastos.” O plano de comprar um apartamento, por exemplo, ficou de lado e até hoje não se concretizou. Junqueira agora vai se especializar em ortopedia e durante os três anos de residência terá uma bolsa mensal de R$ 2,5 mil. Ele calcula que só vai entrar de fato no mercado de trabalho aos 40 anos. “É um ônus que terei de carregar, mas não tenho um pingo de arrependimento. Eu precisava de realização pessoal, além de financeira."
Entre os colegas, Junqueira conta que a mudança gerou inspiração, estimulando outros advogados a buscar carreiras alternativas. Já na família, a reação inicial foi de espanto. Ao comentar com os pais, foi questionado: "Você está louco?". Só voltou a falar no assunto depois que já havia sido aprovado no vestibular de Medicina. O apoio decisivo, segundo ele, veio da esposa. "Ela me disse: 'Não quero um marido mal-humorado, então vai fazer o que gosta'".