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Fusca
Paixão que
não acaba

Vinte anos após o fim da produção,
besouro é cada vez mais cultuado

por ROBERTO BASCCHERA

No dia 11 de julho de 1996, saía da linha de montagem da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, o último Fusca produzido no País. Aquela quinta-feira colocou ponto final em uma história que começou em 1950 - quando desembarcaram no País as primeiras unidades importadas da Alemanha - e deixou 3,3 milhões de frutos. Passados 20 anos, no entanto, o carisma do besouro parece continuar intacto.

Nem a sensação de claustrofobia que muitos têm por causa do para-brisa próximo do rosto, nem o contraste com a tecnologia dos modelos atuais, nem o motor barulhento (para os fãs, é música!) intimidam quem gosta do carrinho. Isso, ao contrário, é charme na máquina concebida por Ferdinand Porsche nos anos 30 do século passado a pedido de Adolf Hitler. As qualidades são muito mais valorizadas. O Fusca não é só querido e ainda presente no dia a dia de milhões de brasileiros, mas cada vez mais valorizado e procurado. E a febre parece longe de acabar. A indústria de peças de resposição e de acessórios para o besouro continua firme. Jovens procuram Fuscas para comprar, restaurar e personalizar. As tendências de customização se renovam.

21,5 milhões de Fuscas foram montados em 20 países

3,3 milhões foram montados no Brasil

"O Fusca chegou a responder pela maior parte do mercado brasileiro. Uma geração inteira aprendeu a dirigir nesse carro. Isso tudo foi criando uma imagem que permanece até hoje", afirma Miguel Jorge, jornalista, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e vice-presidente de Assuntos Corporativos e de Recursos Humanos da Autolatina quando o Fusca foi relançado em 1993 no programa do carro popular, a pedido do então presidente Itamar Franco, após sete anos de interrupção da produção.

Anos 40/50

Vigia traseiro bipartido e setas nas colunas das portas (bananinhas) eram algumas características do “Split Window”

Anos 50

Vigia no formato oval (para muitos, o mais belo e harmonioso Fusca) e o início do motor 1.200 são os destaques

Anos 60

Vigia traseiro cresce, mudam lanternas, para-choques e, na segunda metade da década, estreia o motor 1.300

Anos 70

Chega o fuscão, com inúmeras mudanças estéticas, motor 1500 e itens de acabamento mais refinados

Anos 80/90

Lanternas traseiras redondas, apelidadas de Fafá, mudanças no interior e motor 1.600 são algumas características

A Volkswagen, à época integrante da Autolatina ao lado da Ford, apostou justamente nessa memória do consumidor como estratégia de vendas. "Ter um Fusca representa. também, uma certa dose de conservadorismo, estimulada pela noção de valor e experiência positiva com o uso do produto", afirmou Rainer Wolf, gerente-executivo de Marketing da montadora em 1993. O material distribuído à imprensa em agosto daquele ano no (re)lançamento do carro confirmava: "O Fusca 94 será 'vendido' na mídia a partir de suas verdades e melhores características, conhecidas e aprovadas pelo consumidor".

Cr$ 471.200,00 Foi o preço do primeiro Fusca vendido no Brasil

As tendências de customização se renovam e, hoje, seguem escolas europeias e americanas, com nomes como German Look, Old School, Cal Look, Rat, Hot. O advento da placa preta para os carros de coleção (com mais de 30 anos de fabricação e pelo menos 80% de originalidade) faz com que os adeptos dos besouros "imaculados" desembolsem altos valores por peças que tragam impresso o logotipo original Volkswagen. "O Fusca não vai acabar nunca", afirma Alexandre Almeida, vice-presidente do Fusca Clube do Brasil, o maior do País, com 31 anos de idade e 650 sócios ativos. "O carro pode ficar esquecido durante anos numa garagem ou num desmanche. Parece que está no final da vida, mas chega alguém, resgata e ele renasce."

Crianças adoram o Fusca, e muitas celebridades, também. O chef Olivier Anquier tem um exemplar 1962, que ele classifica como "um xodó, um personagem". O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica recusou US$ 1 milhão pelo seu besouro. O tricampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet "envenenou" o motor de um "Itamar". Outro ex-piloto, o veterano Bird Clemente, teve como primeiro carro um Fusca, em 1951, e hoje passeia com seu 1967 bege. O carro ainda compete nas pistas brasileiras em categorias regionais do automobilismo e é ferramenta de trabalho para muita gente. Com tração traseira e o motor boxer arrefecido a ar, circula por terrenos onde apenas modelos com tração nas quatro rodas se atrevem a passar.

Entre 1938 (Alemanha) e 2003 (México), foram montados 23,5 milhões de Fuscas em 20 países, 3,3 milhões deles no Brasil. As primeiras 30 unidades chegaram ao País em 1950, importadas pela Brasmotor. Um ano depois, a empresa passou a montar os veículos com peças alemãs. Mais três anos se passaram e a Volkswagen do Brasil assumiu a operação num galpão na Rua do Manifesto, no bairro do Ipiranga. Nesse esquema, foram fabricados 2.268 fuscas (e 552 Kombis), segundo dados oficiais da Volkswagen. Em 3 de janeiro de 1959, sairiam da recém-construída fábrica de São Bernardo do Campo, no km 23,5 da Via Anchieta, os primeiros besouros brasileiros, com índice de nacionalização de 54%. Em sua primeira "encarnação" brasileira, o modelo foi montado até 1986. Em agosto de 1993, voltou meio às pressas à linha de montagem, já como ano/modelo 1994, para ser uma opção entre os carros populares da época. Três anos depois, sairia definitivamente de linha, abatido pela concorrência e pelos novos tempos. Mas sem perder o carisma.