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Uma turma de crianças falantes seguia atrás de nós até a Antártida - ou melhor, até a área do SeaWorld que remete à Antártida, onde habitavam pinguins. “Minha matéria favorita na escola é ciências", disse uma das garotas, animada. Logo pensei que se havia um lugar onde fosse possível misturar a preferência dela com diversão à la Orlando, aquele era o lugar.
Perto dos complexos Disney e Universal, o SeaWorld - cuja temática é a vida marinha - é mais modesto em tamanho e cabe perfeitamente em um dia mais tranquilo. O que não significa que faltará adrenalina (ou filas) em sua visita.
Afinal, o parque não decepciona no quesito montanha-russa. Antes da viagem, os comentários sobre o quanto elas eram deliciosas tinham sido muitos, então a expectativa era grande - será que teríamos coragem de enfrentar a Mako, a maior, a mais alta e a mais veloz de Orlando?
Enfrentando a recordista. O destino acabou decidindo por nós. Como subimos muito rápido para dar tempo de conhecer tudo, entramos no (primeiro) carrinho com a certeza de que aquela era uma outra montanha-russa, relativamente menos radical. Isso até chegarmos ao topo da primeira subida e olharmos para baixo - quem conseguiu abrir os olhos, verdade seja dita. Aquela era a Mako e o frio na barriga estava apenas começando.
São 61 metros de altura a uma velocidade de 118 quilômetros por hora, num sobe e desce cheio de curvas. Abra os olhos: a vista que se tem lá do alto é incrível e vale cada segundo na fila.
Depois dela, a ida à Manta, se tornou mais simples. Nela, você tem mesmo a sensação de estar voando pelo parque a bordo de uma arraia. Você começa preso deitado, com a barriga para baixo e corpo suspenso. A subida é lenta, até que chega a primeira descida: loopings para trás e para frente, curvas e descidas atravessam o parque – e até respingam água em quem está por perto. Expectativas superadas não fosse um quesito: acaba rápido demais.
Frio na barriga 3D. Não bastassem essas duas aventuras sobre trilhos, o SeaWorld acaba de reabrir a Kraken, que desde o dia 16 de junho atende pelo nome de Kraken Unleashed: Virtual Reality Experience e ressurge com o auxílio da realidade virtual, a primeira do tipo na Flórida.
O início é comum a qualquer montanha-russa: entra-se no carrinho, as travas são presas e a adrenalina sobe. Mas, antes da partida, você recebe um aparelho com óculos e fone de ouvido de alta definição para seguir viagem. Os trilhos vão continuar ali, mas o que você verá pela frente será o fundo do mar, com suas criaturas mitológicas e animais estranhos, incluindo a temida Kraken; um vulcão submerso dormente; e a cidade de Atlantis, que emerge no fim.
Se tiver um óculos de realidade virtual à mão e quiser ter uma ideia mais exata do que estamos falando, vá até a página do YouTube bit.ly/krakennocel e assista ao vídeo de divulgação que mostra alguns dos cenários do sobe e desce.
Com crianças, a opção é a Shamu’s Happy Harbor, uma montanha-russa feita sob medida para os pequenos. Tente subir também no elevador da Sky Tower, um ícone do SeaWorld desde a sua abertura, em 1974, que permite uma visão 360 graus do parque por meio de vidro transparente de seu elevador.
Flórida abaixo de zero. Antes do encontro com a coragem para ir nas montanhas-russas, nosso encontro foi com os pinguins. No SeaWorld eles estão no Antarctica: Empire of the Penguin, que é de fato tão congelante quanto o continente que dá nome à atração - leve uma blusa para poder aproveitar melhor sem tremer de frio. Ali habitam quase trezentos animais, de diferentes espécies, como rei, de magalhães e, claro, o belíssimo imperador. Sem vidros, é possível chegar bem perto deles.
Além da casa dos pinguins, há outras paradas para observação de animais espalhadas pelo parque, onde ficam tartarugas, leões-marinhos, peixes e golfinhos. Há também uma área dedicada ao resgate e reabilitação de espécies marinhas debilitadas - e, se possível, o retorno delas a seu hábitat.
Parte do projeto Sea Rescue, o tour pelos bastidores leva 75 minutos em média e é guiado por monitores do parque que cuidam de peixes-boi e tartarugas-marinhas resgatadas. Durante a visita, dá para interagir com pinguins e chegar bem perto de um tubarão. Como é uma experiência à parte, custa desde US$ 29 a mais no ingresso comum - crianças de 3 a 9 anos pagam US$ 9.
Mudanças à vista. Desde que o documentário Blackfish foi lançado, em 2013, o SeaWorld vem tentando mudar a imagem negativa que se criou do parque, tanto em relação ao cativeiro dos animais quanto aos acidentes com treinadores. O filme se concentra na história da orca Tilikum, a maior estrela dos shows com promovidos pelo grupo durante anos - ela morreu em janeiro, aos 36 anos. Mas o debate foi muito além dela e, desde então, tem surtido efeitos, lentos, mas concretos.
Embora ainda não tenha chegado a Orlando, a primeira mudança concreta em relação às orcas foi inaugurada em 27 de maio, na unidade de San Diego. Com um papel educativo, o espetáculo Orca Encounter se concentra mais em mostrar curiosidades sobre os animais do que em exibir truques.
Enquanto o treinador dá detalhes sobre a espécie, são exibidas projeções com informações sobre os bichos – hábitat, tamanho, formas de comunicação. As orcas ainda aparecem – um indivíduo, que nada e dá saltos, derrubando água nas primeiras fileiras, como manda a tradição do SeaWorld. Em Orlando, ele deve chegar em 2019, para substituir o show One Ocean. O parque também encerrou seu programa de reprodução em cativeiro da espécie.
Em cartaz desde abril, o novo show de golfinhos, o Dolphin Days, também ganhou um caráter mais educativo, embora continue mostrando ao público as acrobacias dos animais dentro de uma grande piscina e ao lado de seus treinadores. Dura de 20 a 30 minutos e conta com a participação de algumas aves, que invadem a arquibancada e voam até os braços de seus treinadores.
Há a preocupação de tratar cada um dos golfinhos de forma pessoal, apresentar seus perfis e mostrar o que cada um é capaz de fazer. Mas vai depender de você se sentir confortável ou não com a apresentação.
Ora, bolhas. Também novidade, o Pop estreou em 27 de maio e fica em cartaz até o fim do verão do Hemisfério Norte, em setembro, com apresentações duas ou quatro vezes por dia - fique de olho nos horários quando chegar ao parque para não perdê-lo.
Milhares de bolhas enormes; bolhas dentro de uma outra gigante; uma bolha branca dentro da transparente; uma arraia de bolhas; bolhas invadindo a plateia... Com peneiras vazadas, tubos de ensaio, réguas geométricas e, claro, água e sabão, o artista Fan Yang trouxe o fundo do mar para dentro do teatro e provocou tamanho furor na plateia de adultos e crianças que, em muitos momentos, só se ouvia um gigantesco e coletivo “uau".
Discovery Cove
Depois de uma maratona de parques com montanhas-russas, simuladores e toboáguas, a promessa era de um dia menos radical e mais relaxante. Era sábado e havia chegado a vez de conhecermos o Discovery Cove, um parque que se autodenomina “resort all-inclusive" e tem boas razões para isso.
Não há quartos de hotel para passar a noite. Mas, a partir das 7h15, o parque abre suas portas para o check-in com café da manhã - incluído no valor do ingresso, como todas as outras refeições e bebidas que consumir durante o dia.
A ideia é oferecer um dia despreocupado nas piscinas, lagoas e bem perto da vida marinha. Como as experiências envolvem contemplação e contato com os animais, há um limite diário de visitantes - 1.300 pessoas no máximo. Então, se quiser incluí-lo no roteiro, reserve com antecedência, já que o ingresso para o Discovery Cove também permite a entrada no SeaWorld e no Aquatica e, com mais US$ 20, no Busch Gardens.
Tem lá. Chegando no parque, vá ao quiosque onde são distribuídos os macacões e coletes para mergulho. Não é obrigatório usá-los, mas eles garantem mais conforto dentro d’água, um tantinho gelada, e protegem do sol forte nos dias de verão. Você não tem de pagar nada a mais: basta dizer seu tamanho. Junto com máscara e snorkel, vem também protetor solar com fórmula ecologicamente correta.
Nos banheiros, há tudo que você precisa depois de passar o dia indo de uma piscina a outra e tomando sol. Cada box com chuveiro tem também sabonete, shampoo e condicionador à vontade - não são os melhores, mas resolvem o problema de quem quer levar o mínimo possível na bolsa. Também há toalhas de banho à vontade e sacolas para guardar a roupa molhada, além de secadores de cabelo. Ou seja: você só precisa chegar com sua roupa de banho e ser feliz.
A qualquer momento dá para parar, fazer uma boquinha e tomar algo nos quiosques e restaurantes espalhados pelo parque - inclua na lista de bebidas cervejas, vinhos, refrigerantes, sucos, água e até alguns drinques, como margarita e mango frozen - para mais opções de coquetéis, acrescente US$ 30. Se quiser fazer refeições com mais sustança na hora do almoço, há opções de pratos com frango e carne e também para vegetarianos. O sistema é bandejão: você pega a fila, escolhe o que quer e pode incluir sobremesa.
Diversão e calmaria. Parte do grupo SeaWorld, a temática do Discovery Cove também tem a ver com a vida marinha e, apesar de suas piscinas, não é um parque aquático propriamente dito. No lugar de toboáguas radicais, você encontra, por exemplo, The Grand Reef, uma piscina com arrecifes que simula o fundo do mar: tem arraias e peixes de verdade nadando de um lado para o outro enquanto você observa tudo com um snorkel.
Em outra piscina, da área Tropical Swim, dá para relaxar em cadeiras dentro d’água ou na areia, onde ficam as espreguiçadeiras. E, se quiser passear pelo parque sem gastar massa ativa, abrace um macarrão e deixe que o rio Wind-Away te leve sem que você faça esforço algum. Com a força da correnteza, você chega a diferentes pontos do parque, incluindo o aviário. O que posso garantir é que esse foi o momento mais relaxante de toda a viagem.
Por falar em aviário, a pausa na experiência dentro d’água permite o contato com 250 espécies de aves. Basta erguer seu potinho de comida, entregue pela monitora do local, para que um (ou vários) apareça, pouse no seu braço e, sem cerimônia, bique tudo o que for possível. Não se sinta desprezado se, depois desse primeiro contato, eles virarem as costas e voarem para outros ombros e braços. Eles devem ser adeptos do desapego mesmo.
Selinho nos golfinhos. Além das atrações incluídas no ingresso, há outras duas experiências que instigam a gastar um pouco mais: nadar com os golfinhos e caminhar submerso como se estivesse no fundo do mar - ambas significam acrescentar US$ 140 e US$ 49 no valor da entrada, respectivamente.
Divididos em grupos de dez pessoas, seguimos com os treinadores até a Dolphin Lagoon, onde os golfinhos da casa fazem as vezes da recepção - quem opta por não fazer a experiência dentro d’água com eles consegue observá-los da areia da praia, bem em frente à lagoa.
São cerca de 15 animais, nascidos e criados no parque, que, segundo Nick (o treinador que me acompanhou), se revezam duas vezes ao dia na interação com o público durante meia hora. Eu e meu grupo, formado por casais com e sem filhos, tivemos a chance de conhecer dois da mesma família, as fêmeas Telma, de 26 anos, e Yoko, sua neta de 9 anos.
Antes de conhecer quem são elas, quais são seus hábitos e o básico de como devemos tratá-las, nada de intimidade. O contato é permitido apenas quando Nick dá o comando para que a dupla desfile à nossa frente, uma de cada vez.
Bem rapidinho, podemos encostar e sentir a textura de uma pele macia e lisinha. Com um balde repleto de peixes, que carrega o tempo todo embaixo do braço, o treinador agradece a cada gentileza de Telma e de Yoko em nos mostrar um pouco mais do mundo delas. Parece ser um banquete, assim como as pedras de gelo que Telma, particularmente, adora.
Entre uma explicação e outra, puro encantamento: os mamíferos “cantam", fazem acrobacias e permitem pegar carona em sua nadadeira em um pequeno trecho da lagoa - a parte mais aguardada pelo grupo. A essa altura, a intimidade com Telma e Yoko já era tão grande que, no final, um selinho fechou a experiência antes do adeus à maneira dela: batendo as nadadeiras na superfície da água e molhando todo mundo.
Astronauta dos mares. Com uma roupa especial e um capacete parecido com o de um astronauta, o Sea Venture permite que se desça até o fundo do Grande Reef, a piscina que reproduz o ambiente da vida marinha. Ao longo de 20 minutos, os exploradores caminham, submersos, por uma trilha de 20 minutos. Não é preciso ser um mergulhador certificado para participar.
Pelo caminho, contato com peixes de todos os tipos, dos esquisitões aos charmosos, nadando em meio a recifes. E, em um determinado ponto da travessia, o encontro (quase que) marcado com o grande protagonista da área, o tubarão. Mas calma: ele está atrás de uma janela de proteção panorâmica.
Mordomias. Com tudo incluído no pacote, fica até difícil pensar em como conseguir ainda mais mordomias. Mas, como o céu é o limite quando se trata de vender exclusividades, existe também a possibilidade de fazer um upgrade e reservar uma cabana para chamar de sua durante a visita ao Discovery Cove.
Localizadas em cantinhos discretos do parque, os espaços têm espreguiçadeiras, redes, locker, frigobar - cheio! - e uma mesinha com toalhas e protetor solar para usar sem moderação. Há também um funcionário que fica à sua disposição para pedidos de comidas e bebidas.
As cabanas não são grandes, mas acomodam perfeitamente até seis pessoas e podem receber eventos especiais, como casamentos e aniversários. Quer mais um mimo? Elas são indicadas com uma plaquinha personalizada com seu sobrenome. Não resisti e tive de fazer a foto ao lado da minha: “Toni".