Cerveja brasileira: produtores artesanais


Ronaldo Rossi


A fermentação das artesanais

texto: daniel telles marques
foto: Felipe Rau/Estadão
Cerveja não se conhece só no copo. O gosto do brasileiro pelas cervejas especiais tem crescido e entender o que vem acontecendo pode ajudar a escolher a próxima garrafa. Dos 1,4 bilhão de litros produzidos e vendidos no País apenas 6% são de cervejas premium, dessas, só 1,2% são artesanais. É esse pouco que está na moda e foi sobre ele que Ronaldo Rossi, chef e sommelier de cerveja, foi falar na aula Cerveja Brasileira - Produtores Artesanais.

Os cervejeiros americanos têm muita influência por aqui. Assim como lá, não há estilo próprio, mas apropriações e transformações de estilos clássicos. Ainda que entre as cervejas brasileiras haja características peculiares (frutas nacionais na receita, invencionices, envelhecimento em madeiras brasileiras e temperos nativos), não cabe falar de uma escola brasileira. "Há quem não acredite também em uma escola americana, porque não há sistematização de receitas ou estilos", explica Rossi.

Além da influência, os dois países têm em comum a semelhança de seus mercados, dominados pelas pilsens amarelas claras e que vêm experimentando o aumento do interesse pela cerveja artesanal. As similaridades param por aí. "Nos Estados Unidos, não há a burocracia que temos aqui para registrar uma receita, os impostos não são tão altos. Lá, você compra um pack com seis cervejas artesanais por US$ 6, aqui, uma cerveja artesanal chega para o consumidor por pelo menos R$ 10", comparou.

"Estamos agora como os Estados Unidos estavam no final dos anos 1980", disse Rossi. Atualmente, lá são quase três mil cervejarias, aqui 232, espalhadas por 171 cidades em 22 estados. Ao todo temos 2.657 registros de receitas de cervejas diferentes (incluindo as das grandes e das microcervejarias). "O problema é que aqui a burocracia para conseguir o registro da receita é imensa. A minha cerveja está há seis meses esperando registro e, sendo esperançoso, acho que ainda vai demorar mais seis para ser liberada."

São Paulo lidera a lista dos estados com maior número de cervejarias: 58 e 725 registros de produto, Santa Catarina vem na sequência com 28 cervejarias (266 registros de produtos), seguida por Rio Grande do Sul 26 (252 registros) e Minas Gerais 25 (184 registros). Rio de Janeiro tem apenas 17 cervejarias, mas lidera o número de registro por empresa, com 338 registros ao todo.

A intenção de Rossi era mostrar que cervejarias não podem se bastar em cervejas. É preciso buscar modos de superar a publicidade das grandes com criatividade, receitas inovadoras, associação de marcas com bandas e criação de linhas diferentes das tradicionais. Para mostrar nos copos, levou três exemplos de cerveja que justificavam o que dizia: Coruja Labareda, Velhas Virgens, IPA e Backer Três Lobos Bravo.

A Coruja Labareda entrou para justificar o ponto das receitas criativas: uma amber larger com pimenta. Picante que demora a aparecer, mas chega com força ao longo do copo.A Velhas Virgens resulta da parceria da banda Velhas Virgens com a cervejaria Invicta, de Riberão Preto. A receita foi criada pelo baixista da banda na panela de casa. A banda propôs a receita para a cervejaria e o negócio foi fechado. A banda abriu uma empresa de distribuição e é responsável pela venda da cerveja, à cervejaria cabe apenas a fabricação do produto.

A Backer, maior cervejaria artesanal do País, também deu provas no copo. A Três Lobos Bravo, uma Imperial Porter descansada em barril de umburana, foi o exemplo que Rossi deu para explicar como cervejarias artesanais podem inovar em linhas alternativas. A Três Lobos, nome de uma festa que os proprietários da cervejaria tinham em Belo Horizonte, foi criada para saciar a vontade dos donos em criar cervejas extremas. Deu certo e a linha agora é um sucesso.