Numa Kombi cabem 90 pneus, ou 23 televisores de 23 polegadas, ou 650 caixas de sapatos, ou oito bezerros, ou nove adultos e três crianças. Oito bezerros? Doze pessoas? Nos anos 1960 e 1970, época em que o politicamente correto não ditava regras, a Volkswagen desfiava as qualidades da Kombi em sua propaganda sem se preocupar com patrulhamentos.
Hoje seria impensável contar que num espaço de 5 metros cúbicos, e fechado, o utilitário transportou oito bezerros de Goiânia a São Paulo, num trajeto de mil quilômetros. "E, ao que parece, gostaram da viagem", dizia o texto, que vinha acompanhado de uma foto dos animais saindo da perua (não se sabe se atordoados ou aliviados com o fim da viagem...). E o que dizer do fato de que, tendo nove assentos, incluindo o do motorista, o carro levava 12 pessoas, incluindo-se aí três crianças? "... e ainda sobrou lugar", dizia o anúncio.
Líder de mercado em seu segmento até o fim da linha, a Kombi sempre teve destacados, nas peças publicitárias, custo-benefício, espaço interno, versatilidade e facilidade de manutenção. No boletim "Informações aos Revendedores", de 30 de abril de 1960, já com seus produtos consolidados, a montadora pergunta: "É preciso fazer propaganda do Volkswagen?". O texto diz que "o produto é bem conhecido, a procura é grande e a oferta, por seu turno, não consegue atendê-la". Então, por que anunciar? "O que se faz é manter o público constantemente informado sobre o Volkswagen."
Nos anos 90, com a abertura do mercado aos produtos importados, a concorrência aumentou, principalmente a dos concorrentes asiáticos, mas a liderança prosseguiu. Em 2013, a linha de montagem funcionava em dois turnos e operava com 124 trabalhadores na pintura, 310 na armação e 320 na montagem final, segundo a Volkswagen. No total, eram fabricadas 150 unidades por dia.
Independentemente da liderança de vendas, a criatividade dos publicitários contratados pela montadora sempre sobressaiu. Numa das peças, também dos anos 60, a vantagem de a Kombi ter motor refrigerado a ar era mostrada com ironia: "O furgão leva mais de um radiador", dizia o texto, numa provocação aos carros que "ferviam". "Leva mais de 30 radiadores, mas não usa nenhum". Outra virtude do compacto motor boxer era realçada pela pergunta: "Para que alimentar cavalos supérfluos?" O problema é que, no início, o motor de 1.192 centímetros cúbicos de cilindrada desenvolvia apenas 30 cv.