Torre de controle do Campo Delta (2006) onde ficaram cerca de 500 prisioneiros

FOTO: JOE SKIPPER / REUTERS

O campo Delta

omposto por diversos campos, o espaço foi construído assim que os EUA começaram a “Guerra ao Terror”, após os atentados de 11 de Setembro.

É nesse local que ficam as prisões para os detidos considerados importantes para informações de Inteligência ou ameaças à Segurança Nacional. Além disso, existem estruturas apoio para os militares americanos e escritórios para organizações de direitos humanos internacionais.

Algumas estruturas do Campo Delta foram usadas nos anos 1990 para abrigar refugiados haitianos que eram perseguidos políticos

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Nacionalidade dos presos

Por que a prisão de Guantánamo deve ser fechada

por Jackie Speier*

      Antes da “guerra ao terror”, muitos americanos conheciam Guantánamo somente pela descrição da prisão em A Few Good Men (Questão de Honra). Na cena mais famosa do filme, o coronel da Marinha que comanda a base naval americana, interpretado por Jack Nicholson, declara durante um depoimento perante os juízes da Corte Marcial: “Não tenho tempo nem disposição para dar explicações sobre o meu comportamento a um indivíduo que acorda e vai dormir sob a proteção da liberdade que eu garanto, e depois questiona a maneira como eu a garanto”.

 

      Segundo se afirma, a manutenção de prisioneiros há mais de dez anos em Guantánamo é o preço que devemos pagar pela liberdade. Independentemente do que o personagem de Nicholson diz, nós podemos encarar a verdade, e a verdade é que a prisão em Cuba representa um enorme desperdício de dinheiro dos contribuintes, nos torna menos seguros, e contraria os valores do povo americano.

 

      Em setembro, visitei Guantánamo para ver como os presos estavam sendo tratados e para ter uma ideia melhor dos custos desta operação. Caminhando ao redor do complexo hoje em péssimas condições, constatei que Guantánamo é realmente uma relíquia que testemunha uma estratégia errada vislumbrada para hospedar um número cada vez menor de condenados.

 

      Dos 779 que passaram por ali, 657 foram transferidos para uns poucos países dispostos a aceitá-los. A população atual é inferior a 122 - 54 dos quais deverão ser soltos – mas, em vez de fechar o centro, o Pentágono pediu US$ 290 milhões para sua modernização.

 

      Manter um preso em Guantánamo custa US$ 3,3 milhões ao ano, mais de 40 vezes o custo de sua manutenção numa prisão de segurança máxima nos Estados Unidos. O que contribui para este preço é a cadeia logística necessária para o funcionamento da instalação. Uma usina de dessalinização fornece a água, mas alimentos e suprimentos precisam ser enviados de fora. Em Guantánamo trabalham 1.268 funcionários, e somente o pessoal médico é superior ao número de presos.

 

      Os custos da assistência médica constituem uma parcela cada vez mais onerosa dos custos da instalação. Segundo um artigo do New York Times, quando um detido precisou de um stent, foi gasto US$ 1 milhão com um laboratório móvel de cateterismo cardíaco. O preso recusou o procedimento, e o equipamento foi deixado ao relento e acabou se deteriorando. Quando outro preso teve de ser operado para a retirada de um cálculo renal, os militares importaram uma máquina de litotricia a laser juntamente com um urologista, todos a um custo enorme para os contribuintes. Estes procedimentos se tornarão mais complicados e dispendiosos à medida que os presos envelhecerem.

 

      Por que os presos continuam em Guantánamo? Segundo os republicanos, esta é a única instalação em condições de guardar com segurança estes homens perigosos. No centro de detenção, falei com um reservista militar que tem a função de agente penitenciário numa prisão estatal quando não é convocado. Ele disse que os presos de Guantánamo são muito mais dóceis do que a população com a qual está acostumado a lidar. Desde 2001, os EUA entregaram a custódia de detentos a 21 nações. Nossas prisões de segurança máxima são as mais seguras do mundo. Estão mais do que equipadas para hospedar quem quer que seja.

 

      No passado já aconteceu que terroristas tivessem de ser mantidos no sistema prisional federal. Por exemplo, Omar Abdel-Rahman, “o xeque cego”, cumpre prisão perpétua na Carolina do Norte por sua participação no atentado a bomba ao World Trade Center em 1993. A poucas quadras do Capitólio, Ahmed Abu Khattala está sento julgado como principal suspeito pelo ataque em 2012 contra a missão diplomática americana em Benghazi, na Líbia. Se for condenado, cumprirá a pena numa prisão federal.

 

      Os que querem que a prisão de Guantánamo continue aberta também acreditam nas afirmações e nos falsos temores sobre a possibilidade de os detidos “voltarem à luta”. Entretanto, as taxas de reincidência são baixas. Somente 7% dos detidos soltos durante o governo Obama voltaram a se engajar, em comparação com 19% durante o governo Bush.

 

      Ao mesmo tempo, Guantánamo se tornou uma palavra de ordem para que alguns peguem em armas contra os

Estados Unidos. As brutais técnicas de interrogatório usadas na instalação foram bem documentadas no relatório sobre torturas

da CIA, encomendado pela Comissão de Inteligência do Senado, inclusive o fato de os presos em greve de fome serem alimentados à força.

 

      Estes atos brutais intensificaram o ódio no exterior e forneceram imagens poderosas à propaganda terrorista de grupos como o Taleban e a Al-Qaeda na Península Arábica. O almirante Mike Mullen, ex-comandante chefe do Estado Maior Conjunto, definiu Guantánamo como um “símbolo de recrutamento” para terroristas e jihadistas, que segundo ele, constitui “a preocupação principal para que a prisão possa continuar existindo”. Antes de degolar os jornalistas James Foley e Steven Sotloff, o Estado Islâmico evocou imagens de Guantánamo vestindo os homens com uniformes cor de laranja, semelhantes às usadas pelos detidos da base naval. A roupa se destaca na propaganda por ser contrária aos valores americanos e persistir por mais de uma década.

 

      Precisamos de uma ação decisiva, e eu aplaudo as medidas adotadas pelo presidente Obama para reduzir a população prisional. Mas esta não é apenas a sua prioridade. O ex-presidente George W. Bush afirma em sua autobiografia que o objetivo do seu segundo mandato era “fechar a prisão de Guantánamo de uma maneira responsável”. Infelizmente, o atual presidente continua de mãos atadas por causa da Lei de Autorização da Defesa Nacional deste ano que impede a transferência de prisioneiros para os Estados Unidos. O Congresso precisa acabar com esta situação. Nós não podemos esperar por mais uma década. Guantánamo precisa ser fechada. / Tradução de Anna Capovilla

 

* É deputada democrata pela Califórnia