Base naval
dos EUA em
Guantánamo
TEXTO: Fernanda Simas
base naval americana em Guantánamo tem importância histórica para os EUA e faz parte da política americana há mais de cem anos. Por isso, não deve ser desocupada mesmo no novo cenário de reaproximação entre Havana e Washington.
“Estamos em um momento de mudança, de discussões, mas Obama foi muito claro no passado sobre querer fechar a prisão, mas não a base naval. É possível fechar a prisão e manter a base naval, que está lá há mais de cem anos”, lembra a professora de história da Universidade de Tulane e autora do livro “Guantanamo: A Working-Class History between Empire and Revolution” Jana Lipman.
No fim de janeiro, o presidente cubano, Raúl Castro, afirmou que a normalização das relações bilaterais com os EUA só será possível com o fim do embargo econômico e da ocupação do território de Guantánamo. A Casa Branca rebateu dizendo que a devolução do território não faz parte das negociações.
Para Lipman, o local pode ser usado pelos EUA como foi nos anos 1990. “O campo era usado para abrigar migrantes cubanos e haitianos e meu entendimento é que ainda existem outras possibilidades (para o território). Com uma crise de refugiados no Caribe, a Baía de Guantánamo é um lugar para onde as pessoas ainda podem ir."
A base na Baía de Guantánamo foi construída em 1903, com a assinatura de um acordo determinando o aluguel do território pelos EUA por um valor anual, mas os americanos já estavam no local desde 1868, quando os cubanos se revoltaram contra o domínio espanhol. Na ocasião, os EUA passaram a defender o lema “Cuba livre” e foram para a região lutar contra os espanhóis.
Após a Revolução Cubana, Havana afirmou que a ocupação americana era ilegal porque o acordo de 1903 violava o direito internacional. Mas, segundo Lipman, essa oposição Cuba – base naval só ganhou força meses após a revolução.
“Entre 1956 e 1959, a revolução recebia apoio da região de Guantánamo. Alguns dos trabalhadores cubanos da ilha se afiliaram ao movimento 26 de Julho (movimento revolucionário cubano), mas não eram vistos como antiamericanos ou antibase. Aliás, alguns americanos também eram favoráveis à revolução. Existem histórias muito conhecidas de filhos de oficiais da Marinha que se uniram a guerrilheiros”, conta a historiadora.
Segundo Lipman, até 1964 centenas de cubanos ainda trabalhavam na base naval, mas quando Fidel Castro cortou o suprimento de água da região em retaliação ao fato de pescadores cubanos terem sido presos na Flórida, os EUA demitiram a maioria dos cubanos.
Além da importância histórica, a professora acredita que negociar a localização da base pode causar um desgaste político desnecessário para o presidente Barack Obama. “Acho que a administração Obama correria um grande risco tratando da devolução da área. Quando Jimmy Carter devolveu o canal do Panamá, sofreu muitas críticas políticas.”
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