Setor 2.5 une ONG com lucros

Claudia Assencio e Raissa Ebrahim

Um a geração de empreendedores que enxergam nos problemas socioambientais uma fonte de lucro fez surgir um novo segmento da economia: o de negócios sociais. Chamado de 2.5, ele é um intermediário entre a iniciativa privada (segundo setor) e as Organizações Não Governamentais (terceiro setor). No ambiente virtual, esses projetos encontram espaço para crescer, preenchendo as lacunas deixadas pelo governo e pelas empresas tradicionais.

Somente neste ano, os investidores sociais vão movimentar US$ 9 bilhões no mundo. E a previsão para a próxima década é mais otimista: chegar a US$ 650 bilhões, segundo relatório do banco americano JP Morgan, feito em parceria com a organização Global Impact Investing Network.

Na vanguarda do movimento está a Inglaterra. Por lá, o setor 2.5 já soma seis mil empresas, sendo mais de 2 mil abertas somente em 2012, em meio à recessão europeia. Em 2010, esse mercado movimentou 165 milhões de libras. Para 2015, segundo dados do Department for Business Innovation & Skills, do governo inglês, a expectativa é que o valor mais que quadruplique e se aproxime de 750 milhões de libras, atingindo a marca de 1 bilhão de libras em 2016. O órgão lançou, em junho, um marco regulatório que prevê isenções fiscais para estimular investimentos e tornar a indústria autossustentável.

No Brasil, os levantamentos sobre o tema não têm sido feitos de forma constante. O mais recente foi realizado em 2011 pelo Plano CDE e seus parceiros internacionais. O instituto, especializado em modelos de ações de impacto, verificou que existiam pelo menos 138 negócios classificados no segmento 2.5, além de 60 incubadoras e 26 fundos de investimento. Dois anos depois, os números devem ser maiores.

Uma das evidências é o aumento anual de 30% a 40% na procura por consultorias no Sebrae para abrir um negócio social. A instituição prevê que o montante de investimentos feitos em 2013 chegue a R$ 250 milhões, com a abertura de negócios principalmente nas áreas de saúde, educação, microcrédito, inclusão, gestão de finanças pessoais e meio ambiente.

Projetos. Por aqui, o modelo que mais vem funcionando para abrir esses negócios é contar com a ajuda de uma empresa especializada – as chamadas aceleradoras – e o financiamento de um fundo. Um dos um cases mais bem-sucedidos do mercado, o da plataforma Treebos, uma crowdfunding de árvores frutíferas orgânicas, contou com um apoio extra. Vencedor de concursos nacionais de inovação, o projeto foi escolhido para representar o Brasil no Intel Global Challenge. Saiu vitorioso, chamou a atenção de aceleradoras e garantiu os R$ 150 mil necessários.

Treebos

Kit de Frutas - Preparo dos primeiros kits de frutas para entrega através da plataforma Treebos/CRÉDITO: JEIZZON MENDES/TREEBOS

Criador da Treebos, o médico Murilo Ferraz, de 33 anos, teve a ideia de montar uma plataforma para eliminar os inúmeros intermediários que existiam entre os pequenos produtores de frutas de Minas e do Rio e consumidor final. Dessa forma, quem planta conseguiria ficar com uma fatia maior dos lucros. E os que compram têm a conveniência de receber as frutas em mãos, com garantia de origem, e ainda sabem que estão ajudando quem mais precisa, as famílias rurais. Tudo isso é feito a partir de uma mensalidade de R$ 79,90, paga pelo consumidor. Com mais de oito mil pessoas cadastradas, eles esperam fechar o ano com faturamento de R$ 520 mil.

Trabalhando com objetivos bem diferentes – ajudar pessoas com deficiência a encontrar espaço no mercado de trabalho –, a Plura surgiu em 2007 e agora se prepara para lançar seu novo projeto, na web, um misto entre consultoria de recrutamento e agência de comunicação, apoiado nas redes sociais.

Esse trabalho já proporcionou histórias interessantes, como a do especialista em Recursos Humanos Marcondes José da Silva, de 35. Com um problema na mão direita, ele

conseguiu dois empregos por meio da Plura. Hoje, já trabalhando para uma multinacional, ele usa o serviço da Plura para contratar outros deficientes.

Iniciativas. O perfil de quem aposta nesse segmento no Brasil vem mudando. Os primeiros projetos foram realizados de forma menos profissional ou como extensão de ações sociais de empresas. "Hoje, são empreendedores mais experientes, que já tiveram posições relevantes em grandes bancos e consultorias", diz Renato Kiyama, diretor de Desenvolvimento Institucional da Artemisia. Fundada em 2004, a empresa é a primeira aceleradora de negócios sociais no Brasil.

Os 45 negócios auxiliados pela Artemisia receberam de terceiros um aporte total de R$ 18 milhões desde 2007, principalmente de fundos de investimento. Um desses atores é o Vox Capital, primeiro fundo de capital de risco dedicado a investimentos de impacto. Sócio da Vox, Daniel Izzo, diz que a atuação ocorre na fase de investimento inicial – período de maior vulnerabilidade da nova empresa.

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FONTE: SEBRAE PARANÁ.

Como dar escala e profissionalizar o negócio

O retorno financeiro é um dos principais desafios para quem quer atuar no setor 2.5. Para fazer o negócio dar certo, o primeiro passo é identificar que mudança se deseja realizar e agir com foco. É preciso ser estratégico. Não adianta achar que será possível abraçar todas as causas. "Escolher bem a equipe e saber quem você fazendo alianças também é fundamental", afirma Renato Kiyama, diretor de desenvolvimento institucional da Artemisia (www.artemisia.org.br), a primeira aceleradora de negócios sociais do Brasil, fundada em 2004.

Os pilares fundamentais que darão escala ao empreendimento são profissionalização, baixo custo, alta qualidade e padronização. O gerente da Unidade de Desenvolvimento e Inovação do Sebrae São Paulo, Renato Fonseca, avalia ainda que é fundamental construir um modelo de negócio que rentabilize a operação. Uma boa opção é o uso da plataforma aberta Canvas, desenvolvida pelo Sebrae Paraná e baseada em nove blocos que apontam o potencial para uma ideia da economia digital se transformar num produto rentável.

Disponível na AppStore, inicialmente para iPad, o aplicativo Sebrae Canvas foi baixado por 4.500 pessoas só na primeira semana de lançamento, em março de 2013. Apesar de o maior número de usuários ser do Brasil, outros nove países aparecem na lista de downloads. A média, segundo Rafael Tortato, consultor da Unidade de Desenvolvimento de Soluções é de 216 downloads ao dia. Até agora, foram realizados mais de dez mil downloads. O Canvas é uma metodologia para modelagem de ideias de negócios, baseada no livro Business Model Generation, de Alexander Osterwalder, explica Tortato.

Interativo e de fácil uso, o aplicativo desenvolvido pelo Sebrae paranaense está estruturado dentro da metodologia que prevê um painel com nove grandes blocos que compõem os elementos fundamentais de um modelo de negócios. A construção do Canvas é feita pelo preenchimento

de cada bloco com lembretes coloridos e, assim, o empreendedor vai dando forma à ideia de negócio. O empreendedor pode modificar seu Canvas quantas vezes forem necessárias antes de produzir ou desenvolver o produto ou serviço

A visualização rápida desses elementos em uma única tela permite uma avaliação ampliada e simplificada para as modificações que sejam necessárias na concepção do modelo de negócio. O aplicativo também permite que o usuário compartilhe a modelagem do negócio por e-mail ou pelo Facebook.

Apesar de o maior número de usuários ser do Brasil, outros nove países aparecem na lista de downloads. A média, segundo Rafael Tortato, consultor da Unidade de Desenvolvimento de Soluções – UDS é 216 downloads ao dia. Até agora, já foram realizados mais de 10 mil downloads. "O Canvas é uma metodologia para modelagem de ideias de negócios, baseada no livro Business Model Generation, de Alexander Osterwalder", explica Rafael.

Interativo e de fácil uso, o aplicativo desenvolvido pelo Sebrae/PR está estruturado dentro da metodologia que prevê um painel com nove grandes blocos que compõem os elementos fundamentais de um modelo de negócios. A construção do Canvas é feita pelo preenchimento de cada bloco com post its coloridos e, com isso, o empreendedor vai dando forma à ideia de negócio.

A visualização rápida desses elementos em uma única tela permite uma avaliação ampliada e simplificada para as modificações que sejam necessárias na concepção da ideia de negócio. Assim, o empreendedor pode modificar seu Canvas quantas vezes forem necessárias antes de produzir ou desenvolver o produto ou serviço. O aplicativo também permite que o usuário compartilhe a modelagem do negócio por e-mail ou pelo Facebook.