Escambo volta com a crise

Carla de Gragnani e Silvia Volpini

A internet revitalizou uma antiga prática de comercialização de bens e serviços. Nos últimos anos, o escambo, prática baseada na troca direta de mercadorias, sem o uso de moeda, vem conquistando novos adeptos ao redor do mundo. No universo corporativo, o mercado de permutas ganhou ainda mais força com a crise internacional de 2008 e chega a movimentar mais de US$ 12 bilhões anuais (cerca de R$ 27 bilhões), de acordo com estimativas da Associação Internacional de Comércio Recíproco (IRTA).

Mais de 400 mil empresas de diversos portes praticam o escambo corporativo de olho na redução de custos e na otimização da capacidade ociosa. Na BarterCard, maior rede de comércio recíproco do mundo, são 55 mil companhias cadastradas. A proposta dos sistemas de troca é simples: ao oferecer um estoque de produtos ou determinado serviço, os participantes ganham créditos virtuais que podem ser trocados por produtos e serviços de outras empresas filiadas.

Em Portugal, um dos países mais abalados pela recessão europeia, o primeiro sistema dedicado à permuta entre empresas foi inaugurado em fevereiro de 2010. Com a RedeBarter, o empresário Nuno Ladeiras encontrou uma alternativa viável de negócio para vencer a retração econômica e

amparar outras empresas que sofriam com a crise. "Um dos nossos principais objetivos é ajudar nossos clientes a continuar produzindo, pagando impostos e salários", afirma Ladeiras, que coordena um canal de cerca de 200 companhias.

A empresa portuguesa de consultoria ambiental Main Value, por exemplo, procurou a RedeBarter com o objetivo de desenvolver um site corporativo sem gastar dinheiro. "Eu não estava interessado em fazer o investimento, que nos custaria em torno de € 4 mil. No momento em que o país está, precisamos nos socorrer nessas redes", conta o gerente, José Evangelista.

A receita das redes de comércio recíproco é gerada a partir das tarifas de filiação e de porcentuais sobre o valor que as empresas cobrariam pelo produto ou serviço no comércio tradicional. Na RedeBarter, a taxação varia de 1% a 7%, dependendo do tamanho da empresa e do valor da transação. O diretor-executivo da IRTA, Ron Whitney, defende que as redes de comércio recíproco são uma boa alternativa de negócio, pois conseguem combinar impacto social a um modelo de receita atraente. "Se essas empresas estão ajudando os associados a estimular ainda mais seus negócios e a preservar seus caixas, o modelo está claramente exercendo uma nobre função", afirma.

Comércio Recíproco

Entenda como funciona o processo do Comércio Recíproco. ARTE: JULIANA KARPINSKY E SÍLVIA VOLPINI/ESTADÃO CONTEÚDO

Entre consumidores – Os portais de trocas online também ganharam popularidade entre pessoas físicas. O Swap.com, um dos principais sites dedicados às trocas diretas entre consumidores, tem hoje 630 mil integrantes, que trocam desde livros e eletrônicos até brinquedos infantis. O projeto começou na Finlândia e se estendeu a outros países da Europa e aos Estados Unidos, depois de um aporte milionário de investidores e da Agência Finlandesa de Inovação e Tecnologia.

No rastro do sucesso dos sites estrangeiros, o empresário Guilherme Brammer inaugurou há um ano e meio a plataforma brasileira de trocas e vendas de produtos usados DescolaAí, que tem aproximadamente 15 mil usuários ativos. O site recebeu uma aplicação inicial de R$ 200 mil, mas o criador ainda busca a melhor alternativa para tornar o negócio lucrativo.

Hoje, o DescolaAí tem como única fonte de receita a taxa de 10% sobre as operações de venda. Já as trocas são gratuitas. "O escambo tem que ser livre

como sempre foi. No começo cobrávamos pelas permutas, mas percebemos que, com a taxa, o usuário preferia comprar um produto novo", diz o fundador.

Internautas podem trocar até suas habilidades em plataformas conhecidas como 'bancos de tempo'. Essa é a proposta do Bliive, fundado em maio pela universitária paranaense Lorrana Scarpione. "As pessoas trocam desde serviços simples como aulas de culinária e idiomas, até habilidades bizarras como ensinar a fazer um cubo mágico", conta.

A principal estratégia de arrecadação é levar o projeto a empresas para estimular a troca de tempo entre funcionários. Cada companhia que contrata o serviço paga uma anuidade. Por enquanto, a universitária concilia o estágio em Direito com as atribuições do site, mas o sucesso do negócio motiva Lorrana a se dedicar somente ao Bliive. "A ideia é ficar por conta do site já no mês que vem", afirma com entusiasmo.

Descola Aí

O fundador do site DescolaAí, Guilherme Brammer, ainda busca uma forma de tornar o negócio lucrativo. FOTO: DIVULGAÇÃO/DESCOLAAÍ

Sites de escambo online

Nacionais

DescolaAí (Itens Diversos) - http://www.descolaai.com/

Dois Camelos (Itens Diversos) - http://www.doiscamelos.com.br/

Desapegue (Roupas e acessórios) - http://www.desapegue.com.br/

Livra Livro (Livros) - http://www.livralivro.com.br/

Troca de Livros (Livros) - http://www.trocadelivros.com.br/Default.aspx

Bliive (Habilidades) - http://bliive.com/

Tradaq (Comércio Recíproco) - http://tradaq.com.br/

Permute (Comércio Recíproco) - http://www.permute.com.br

Internacionais

Swap.com (Itens Diversos) - http://www.swap.com/?utm_expid=62138806-8

Netcycler.com (Itens Diversos) - http://www.netcycler.com/

Swapstyle (Roupas e Acessórios) - http://www.swapstyle.com/

Book Mooch (Livros) - http://bookmooch.com/

PaperBack Swap (Livros) - http://www.paperbackswap.com

TimeBanking (Habilidades) - http://www.timebanking.org/

Ourgoods (Habilidades) - https://ourgoods.org/

RedeBarter (Comércio Recíproco) - http://www.redebarter.com/

BarterCard (Comércio Recíproco) - http://bartercard.com.au