SUMMIT IMOBILIÁRIO 2018

Gigantes mundiais recriam consumo e trabalho

Espaços físicos precisam se adaptar a novos mercados e relações
digitais, analisa Sheila Botting, líder da Deloitte Real Estate

Novos tempos. Sheila Botting detalhou o que disruptura fará setor de Real Estate mudar forma de construir Gabriela Biló/Estadão
por Gustavo Zucchi

O que o mercado imobiliário pode aprender com Uber, Amazon, Alibaba, Skype e Netflix? Essa é a pergunta que Sheila Botting veio ao Brasil ajudar a responder no Summit Imobiliário 2018. Líder de Real Estate da Deloitte Canadá, Botting mostrou o as transformações do mercado de Real Estate em direção as expectativas desta e das próximas gerações. Nas palavras dela durante o evento em São Paulo, isso significa entender que “mercado e clientes estão aumentando sua sofisticação e diversidade e exigem alta performance e diversidade organizacional”.

“A disruptura digital está mudando tudo que nós fazemos, compramos, onde compramos e o que fazemos. Está mudando no escritório, no varejo, no setor industrial. E está forçando as organizações de Real Estate a mudarem também”, disse Botting, falando pela primeira vez no Brasil. “Nossos negócios tradicionais muitas vezes não estão abertos a mudanças. Se pensarmos nas grandes coisas que estão ocorrendo: Alibaba, Amazon, eles nem possuem grandes propriedades imobiliárias. Não tem lojas. Uber não tem carros, Skype, iChat, não tem equipamento. Netflix, Google não tem ativos fixos. Isso está ocorrendo no mundo e no Real State também”, explicou.

O primeiro exemplo que ela trouxe para justificar a necessidade de mudanças foi justamente como o setor de Real Estate deve pensar os novos ambientes de trabalho. “Talvez a gente não tenha o mesmo trabalho que temos hoje daqui a 10 anos. 87% das pessoas entrevistadas pela Deloitte falaram que a disruptura vai afetar de alguma forma sua indústria”.

As ideias foram traduzidas no que a Bloomberg chamou de “o prédio mais inteligente do mundo”. O “The Edge” em Amsterdã, tem 2,5 mil empregados da Deloitte, todos sem mesa fixa. O prédio, recheado de sensores, é conectado diretamente ao celular dos funcionários, reconhece quando eles chegam, sabe as preferências do café, ajusta a temperatura dos ambientes para ficar ao agrado de todos. Sustentabilidade, bem-estar e tecnologia aliados alterando fundamentalmente o ambiente de trabalho.

“Os escritórios antigos tinham 40% de espaços vagos. Era um lugar difícil de se viver. Os cubículos são passado. Existe uma forma melhor de ter um lugar de trabalho. É até mesmo uma forma de recrutar e reter talentos. De repente todos os ‘millennials’ (nascidos entre 1980 e 1990) querem trabalhar conosco”, explicou Sheila.

Mais mudanças. Comércio e indústria também terão seus espaços físicos alterados radicalmente com a disruptura tecnológica. Segundo dados trazidos por Botting em sua palestra, o foco será prover produtos relevantes em qualquer lugar. “Os shoppings do futuro serão conectados porque a forma de comprar no futuro será feita em diversos meios. Eu mesmo pesquiso online antes de fazer compras em uma loja física”, contou.

A indústria também terá que se readequar. “Centros de distribuição e lojas estão se mesclando. Antes tínhamos duas opções: os produtos iam para lojas físicas e centros de distribuição. Hoje grandes lojas estão virando centros de distribuição. Em alguns lugares do Reino Unido, você já consegue receber sua encomenda em uma hora”, detalha Sheila.

A presidente da Deloitte Real Estate acredita que o setor tem que estar preparado: apenas 38% das lideranças do setor acreditam estar preparadas para lidar com a disruptura no mercado imobiliário. “Fundamental será transformar a estrutura hierárquica de nossas empresas em algo mais colaborativo, onde será possível criar oportunidades de aprendizado para os futuros líderes”, completa.

A cada 18 meses surgem tecnologias. Um negócio muda a cada três anos. E nosso prédio tem 40 anos Sheila Botting LÍDER DA DELOITTE REAL ESTATE

Estrangeiros de olho no potencial brasileiro

Executivos de grandes grupos falam sobre a necessidade de conhecer o mercado do País, mas preveem oportunidades

De fora para dentro. Adriano Sartori, Fábio Maceira, Roberto Perroni e Diogo Castro e Silva Gabriela Biló/Estadão

Representantes de investidores estrangeiros que estiveram no Summit Imobiliário 2018, apesar de sua experiência em diferentes empresas, demonstraram ter uma posição em comum sobre o Brasil: é necessário conhecer como funciona o País para investir. Mas que, vencendo essa barreira, há uma boa perspectiva para quem está disposto a colocar dinheiro no setor de Real Estate.

“O Brasil tem um potencial imenso, o Real Estate no País sempre foi algo que chamou muita atenção do público em geral. Os investidores estiveram sempre presentes”, disse o presidente da Brookfield Properties Brazil, Roberto Perroni. “Um grupo como a Fosun olha para o Brasil e enxerga essa semelhança de uma economia muito grande, emergente, mudando seu padrão de consumo. Esses desafios aqui no Brasil, suas particularidades são semelhantes a outras economias emergentes. Esse é um mercado de que a Fosun gosta. Não é por acaso que decidimos priorizar o Brasil”, explicou o líder da operação do Fosun na América Latina, o português Diogo Castro e Silva sobre o grupo chinês.

Já o CEO da JLL no Brasil, Fábio Maceira ressaltou que, apesar das particularidades, o Brasil é um investimento interessante e que tem atraído a atenção até de quem não historicamente coloca dinheiro no País: “O Brasil oferece retorno, mesmo no setor imobiliário. Então estamos atrás desse retorno acima da média mundial. Os japoneses, por exemplo, estão curiosos e vindo atrás de oportunidades de investimento.”

“O investidor a longo prazo olha para o que está acontecendo e pensa: isso aqui para o rentista ainda vai ser o paraíso”, ressalta o vice-presidente da CBRE Brasil, Adriano Sartori. “Não tem mais como produzir em São Paulo um prédio bem localizado. Entregar um edifício de 760 mil metros quadrados na Avenida Faria Lima é impossível. Precisamos entender onde estamos e para onde vamos. ”/ G.Z

Há uma janela de oportunidade para o capital estrangeiro aproveitar nesse ciclo Fábio Maceira CEO JLL BRASIL
Fizemos uma estratégia forte de paciência que tem dado muito resultado Roberto Perroni CEO BROOKFIELD
A estrutura jurídica dos contratos ainda é relativamente fraca Adriano Sartori VICE-PRESIDENTE CBRE
O melhor é ser financeiro na entrada e estratégico
na saída Diogo Castro e Silva DIRETOR PARA AMÉRICA LATINA DA FOSUN

Residencial entra na mira de investidores

Em uma rodada sobre a visão de investidores sobre o setor imobiliário, o professor da FGV e coordenador do índice FipeZAP Eduardo Zylberstajn apostou no aumento da presença de investidores no segmento residencial. Para ele, caso se concretize um cenário de juros baixos nos próximos anos, os imóveis residenciais devem se tornar atraentes não só para pessoas físicas, mas para as jurídicas. “Deve ser a principal novidade do próximo ciclo”, afirmou.

Sobre o atual momento, Máximo Lima, sócio-fundador da Hemisfério Sul Investimentos, disse que a estratégia do grupo foi adquirir shoppings centers voltados para classes média e baixa, na expectativa de que esses locais estejam entre os primeiros a sentir a retomada pós-crise, com a volta do emprego estimulando o consumo.

Já Marcelo Fedak, diretor-executivo da Blackstone, chamou a atenção para a importância de equacionar oferta e demanda, uma vez que o mercado de ativos negociados no país é pequeno. “Não adianta entrar num mercado com grande vacância achando que ele vai crescer porque não vai”, disse. Para Alexandre Machado, sócio da Hedge Investments, o momento é promissor. “Há ofertas que demonstram retomada”. /M.B

Integração entre real e digital impulsiona os negócios

Soluções online vão do anúncio do imóvel até como ir ao empreendimento

No celular. Especialistas em tecnologia discutem estratégias de Real Estate Gabriela Biló/Estadão

A mesa sobre estratégias digitais no mercado imobiliário reuniu três empresas importantes e inovadoras do setor. O QuintoAndar, aplicativo de aluguel de imóveis residenciais, nasceu com a proposta de simplificar o processo de locação ao torná-lo quase que totalmente online. Com alguns cliques na tela do celular, é possível conferir dados, preços, agendar visitas, enviar propostas e fechar contrato. “A tecnologia permitiu padronizar os catálogos de buscas e reduzir o custo da informação. Sabemos gratuitamente a distância de um ponto a outro e a oferta de transporte público nas regiões, entre outros dados fundamentais para avaliar e apresentar um imóvel”, explica o cofundador Gabriel Braga.

A Moving Imóveis e o Grupo Zap Viva Real também apostaram na compra, venda e aluguel por meio de plataformas digitais. “Transformar o classificado impresso em um sistema on-line não é uma grande transformação, mas é um primeiro passo”, diz Lucas Vargas, CEO do Grupo Zap Viva Real. Segundo ele, o sistema facilitou a vida dos consumidores, que antes precisavam ir até a imobiliária para checar os imóveis disponíveis, e permitiu a melhoria do serviço ao oferecer mecanismos de buscas mais eficientes.

O CEO da Moving Imóveis, Ado Fonseca, também aponta a tecnologia como uma ferramenta importante para aperfeiçoar a experiência do comprador: “Com a comercialização e locação digital temos informações sobre o perfil do consumidor. Sabemos quem é o cliente e o que ele busca de modo mais eficiente e assertivo.”

Integração. Unificar estratégias on e offline foi o caminho apontado pelos especialistas no painel “Negócios a um clique: cases de sucesso na internet”. Para Fábio Okino, head de Real Estate do Linkedin, Diego Ivo, CEO da Conversion, e Fernando Belfort, diretor comercial do Waze no Brasil, é necessário aproveitar a tecnologia para entender e atrair clientes. Segundo Diego Ivo, utilizando dados do Google, 59% das buscas de imóveis são feitas por smarthphone. Para ele, a demanda é gerada via Linkedin, Facebook e outras redes sociais e o usuário irá procurar via Google o imóvel de seu interesse.

Já Okino relatou astratégia de geração de lides. Para a Cyrela, o LinkedIn busca engajamento para o Cyrela Heritage, voltado a consumidores de alto rendimento. Através de posts patrocinados, a rede gerou interesse deste público específico. /F.M e G.Z

Não temos como oferecer o número de acessos, mas podemos levar o usuário até o corretor imobiliário Fernando Belfort DIRETOR DO WAZE

Waze aponta como chegar ao estande

“Antes a gente procurava imóveis nos classificados do jornal. Hoje, a gente começa procurar nos mecanismos de busca, mais especificamente dentro de um celular”, disse Fernando Belgot, do Waze. É justamente pensando em utilizar o digital para levar o cliente até o corretor que o aplicativo começa a trilhar seu caminho junto à publicidade imobiliária. “O grande objetivo do Waze é essa visita física, entregar um cliente em seu estande”, disse.

Ele apresentou as possibilidades trazidas pela plataforma, ao oferecer a oportunidade de mostrar a propaganda no momento específico do dia em que o usuário está se deslocando e indicar ao potencial comprador como chegar ao empreendimento. “Não temos como oferecer número de acessos, mas vamos levar o usuário até o seu corretor”, afirmou.

Outra ideia que faz parte da proposta de estratégias unificadas a foi de indicar via Waze como chegar ao empreendimento imobiliário, substituindo nas propagandas o tradicional mapa de localização do imóvel. /G.Z