Produtora de Inocente fala sobre as vantagens do financiamento colaborativo

Susan

Susan MacLaury. FOTO: DIVULGAÇÃO.

Thaise Constancio e Julia Matravolgyi

O documentário de curta-metragem Inocente conta a história de uma artista sem-teto que aposta que seus quadros serão capazes de salvá-la das condições precárias em que vive. O filme, cuja pós-produção foi custeada através da plataforma norte-americana de crowdfunding Kickstarter, recebeu a estatueta do Oscar na cerimônia realizada em fevereiro desse ano. Agora eles usam a plataforma para financiar outro filme, 1 Way Up. Abaixo, a produtora executiva da obra, Susan MacLaury, comenta a importância do financiamento colaborativo e os motivos que a levaram a optar por esse método de custeio.

Por que vocês escolheram o crowdfunding para financiar Inocente?

Nossa experiência em financiar a pós-produção do filme Inocente pelo crowdfunding foi muito positiva, e nos apresentou um novo universo de pessoas interessadas em contribuir, que não se sensibilizaram apenas com a história do nosso filme especificamente, mas com a produção de documentários como um todo. Ser financiado dessa forma é uma grande vitória para quem trabalha com cinema, principalmente para os envolvidos com documentários independentes, pois trata-se de uma área que tradicionalmente recebe pouco apoio. Em todos os nossos filmes nós buscamos algum tipo de suporte, seja por meio de patrocinadores ou de contribuições individuais. Aliás, ainda temos a esperança de conseguir algum tipo de apoio corporativo para nosso próximo filme, que se chama 1 Way Up. O Kickstarter, como plataforma, tem um papel muito importante no contato entre o artista e sua audiência.

De que forma as plataformas colaborativas ajudaram e ainda ajudam vocês a ter contato com o público para disseminar seus projetos?

Nós procuramos manter contato com as pessoas que contribuíram com nossas produções através do Kickstarter. Enviamos para eles informações sobre Inocente e sobre outros projetos que desenvolvemos eventualmente, como 1 Way Up, por exemplo. O financiamento colaborativo é importante e envolvente, pois apresenta o público ao nosso filme antes que este esteja pronto, construindo uma relação que permite que ambos os lados ajudem a melhorar e promover o projeto e aumentar seu alcance social e educacional.

Você acredita que o crowdfunding é capaz de reconfigurar a indústria cultural?

Para mim, o Kickstarter parece ser mais uma das manifestações que mostram a força que os produtores independentes vêm adquirindo para trabalhar nos processos que envolvem desde as filmagens até a edição, distribuição e divulgação dos projetos. Acho isso muito animador, pois permite que driblemos os intermediários tradicionais, que decidem o que deve ou não ser veiculado, o que pode ser feito e filmado. Sobretudo, na minha opinião, o financiamento colaborativo tem o efeito de democratizar a cultura.

Na sua opinião, a indicação de filmes financiados pelo Kickstarter ao Oscar isso pode ser vista como uma aceitação da academia sobre o que o público tem vontade de assistir?

A Associação Cinematográfica dos Estados Unidos (MPAA, na sigla em inglês) é emblemática para a indústria do cinema como um todo, tanto para as produções de grandes estúdios quanto para as produções independentes. Acredito que, indiretamente, essas indicações ao Oscar sugerem que a Academia está aceitando os desejos do público, mas não estou muito certa disso. Todos os filmes indicados ao Oscar poderiam ter sido financiados de forma colaborativa, acontece que esse simplesmente não foi o caminho escolhido por seus produtores. Acredito que se um projeto é atraente e bem feito, ele geralmente é bem recebido pela crítica, independentemente da maneira como foi financiado. Infelizmente, uma boa recepção por parte da crítica ou uma exposição por parte do Kickstarter ainda não garantem que o filme terá grande audiência.