O braço de uma moça aparece na imagem. Ela segura um celular, e na tela dele aparece um valor e um gráfico que mostra oscilação do preço de uma criptomoeda. Ao fundo, é possível ver a mochila da jovem, pendurada no seu ombro.
Jovens são boa parte dos investidores na maior operadora do País, a Mercado Bitcoin | Foto: Carla Bridi/Estadão

Vai encarar o risco e a adrenalina de investir em bitcoins?

É preciso estudar bem o comportamento do mercado antes de se aventurar, porque o valor da criptomoeda pode variar 20% em um só dia

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Fazer R$ 600 virarem R$ 800 em apenas uma semana. Quem não quer? Isso nem é impossível, quando se fala em investir em bitcoins e afins. A grande questão é que basta um passo errado para o mesmo valor virar nada em questão de minutos. E esse é justamente o risco de quem investe nas criptomoedas, uma tendência cada vez mais popular entre os jovens brasileiros. Só na Mercado Bitcoin, a maior operadora do País, de um total de 1 milhão de clientes, quase 60% têm até 33 anos, segundo pesquisa da Serasa Experian encomendada pela empresa.

A volatilidade – que permite grandes ganhos ou perdas – é uma característica da bolsa e, mais ainda, das criptomoedas. O bitcoin, por exemplo, chega a ter variação diária de 20%. “É preciso ter a consciência de que é um dinheiro que pode ser totalmente perdido”, afirma o pesquisador da Universidade de São Paulo Courtnay Guimarães, que também é consultor da Idea Partners.

Foi o que aconteceu com o estudante Alexandre Tognini, de 19 anos. “Vendi bitcoins na hora errada e perdi dinheiro. Também botei fé em projetos que não passavam de especulação”, conta. Isso foi há um ano.

De lá para cá, ele começou a entender o funcionamento do mercado e logo conseguiu duplicar o investimento inicial em bitcoin, aproveitando a alta da cotação da criptomoeda. Hoje, Alexandre investe em outras moedas virtuais, e sempre se informa através de análises técnicas, para assim tomar a decisão de vender ou segurar.

O estudante decidiu não fazer outros investimentos, como em renda fixa ou mesmo ações. Prefere as criptomoedas porque elas são novidade. “Tem uma tecnologia gigantesca por trás. Acredito que um dia será um investimento de alto ganho, da mesma forma que a internet foi há um tempo”, afirma.

O diretor da Bitcointoyou, Alexander Horta, observa tal tendência em seus clientes mais novos. “São pessoas arrojadas, dispostas ao risco, esclarecidas, independentes e conectadas ao mundo das criptomoedas”, afirma. A empresa contabiliza 300 mil investidores, com 20% deles até 25 anos.

Tanto especialistas quanto os jovens que investem em criptomoedas aconselham estudar o sistema de operação do mercado e o desempenho das moedas antes de fazer um investimento. “Nunca se aventurar. Parece básico, mas não é”, afirma Horta.

Guimarães complementa que a emissão de criptomoedas se tornou uma “gigantesca fábrica de golpes” para os desavisados.

Eu diria para sair do mercado de criptomoedas, porque acabou a brincadeira. Hoje, ele é dominado por traders profissionais. Tem muita manipulação”, diz Courtnay Guimarães, sócio-fundador da Idea Partners.

Quem quiser se aventurar nas moedas virtuais precisa ter nervos para encarar o risco. O estudante de Engenharia Guilherme Bodini, de 24, foi orientado a depositar um valor que estaria disposto a perder. Começou com R$ 100. “Se eu pudesse voltar no tempo, teria lido e estudado mais. Poderia ter errado menos”, analisa. Com o tempo, tudo foi se encaixando para ele, que consegue cerca de 20% da sua renda mensal com os investimentos que faz em criptomoedas.

Ele é um exemplo de trader. Após investir por alguns meses através de uma exchange brasileira, em 2018 Guilherme transferiu, aos poucos, todos os seus investimentos para uma casa americana. O motivo? A possibilidade de interagir com as chamadas moedas de velocidade (speed coins, em inglês). Altamente voláteis, essas moedas variam de valor significativamente ao longo de um dia. Isso exige que Guilherme acompanhe o mercado para decidir o que comprar e o que vender diariamente. “Enquanto aqui a queda é contínua, fora do País as altas são maiores, mais rentáveis e consequentemente mais arriscadas”, explica.

Assim que dominou o funcionamento do mercado, Guilherme decidiu migrar todos os investimentos para fora do país por causa da falta de variedade de criptomoedas trabalhadas pelas exchange brasileiras. Entre as maiores, a Bitcointoyou destaca-se por trabalhar com 10 opções diferentes. Em comparação, a exchange Braziliex comercializa 25 criptomoedas e tokens. Criada em 2017, a empresa ainda tem seu próprio token, o Braziliex, cujo símbolo é uma arara-azul.

Entretanto, há quem pense em criptomoedas como investimento a longo prazo. O desenvolvedor Julien Lucca, de 25, tem o perfil conhecido como holder, o que não faz grandes mudanças constantes nos seus investimentos. Costuma segurar as criptomoedas, o que nem sempre garante lucro mensal. “Não recomendo fazer o que eu faço. Eu vivo disso, eu trabalho com isso”, afirma Julien, que começou a investir em criptomoedas aos 21 anos, quando trabalhava em uma fintech de meios de pagamento alternativos. Isso possibilitou conhecimento prévio do mercado, desde os primeiros anos de funcionamento do bitcoin.

Apesar do entusiasmo dos investidores, atualmente a circulação total do mercado mundial tem variação negativa de mais de 50% quando comparada ao recorde de 2017. No primeiro semestre de 2018, US$ 300 bilhões foram movimentados, equivalentes a algo como R$1 trilhão. Em dezembro de 2017, período da alta histórica do mercado mundial, US$ 860 bilhões foram transacionados, sendo US$ 90 bilhões somente no dia da máxima. O bitcoin também atingiu sua máxima cotação neste dia, valendo cerca de US$ 19,5 mil dólares a unidade. Hoje, oscila em torno de US$ 6 mil.

Bitcoin ou bolsa?

A estudante de Administração de Empresas Vanessa Muszkat, de 22 anos, investe tanto em renda fixa quanto em bitcoins, mas prefere mexer com a criptomoeda. Após indicação de um professor, ela começou a investir com bitcoin em uma bolsa de criptomoedas estrangeira. “Com os bitcoins, comprei ações que por sorte subiram logo depois. Lucrei em torno de 40%”, diz.

Ela relata ter preferido uma dinâmica de bolsa para investir no bitcoin, pelo fato de ter tido mais contato com o funcionamento na faculdade. Mesmo assim, o método tradicional não tem atraído os jovens investidores: das 680 mil pessoas físicas cadastradas na B3, a bolsa brasileira, 3% têm até 25 anos.

“Nunca aconselhamos comprar ou vender, mas sim estudar o mercado e entrar ou sair no momento que a pessoa julgar melhor. O dinheiro é dela”, reforça Horta, da Bitcointoyou.

Para continuar atraindo o público jovem, a Mercado Bitcoin tem um canal no Youtube e um blog, além de uma plataforma de notícias, com orientações para se investir em criptomoedas, incluindo o Litecoin e o Bitcoin Cash. “Preparamos o cliente para a volatilidade. Os mais antigos no mercado já notaram essa tendência”, afirma o economista-chefe da exchange, Luiz Calado. A Mercado Bitcoin também emite relatórios econômicos comparativos de criptomoedas com economia tradicional, para auxiliar na identificação dos riscos.

Uma nova moeda virtual brasileira, a Niobium, está sendo criada em conjunto com o que promete ser a primeira bolsa de criptomoedas brasileira, a Bomesp. A Bolsa de Moedas Virtuais Empresariais de São Paulo tem como objetivo comercializar tokens e criptomoedas desenvolvidos exclusivamente por empresas.

A Bomesp arrecadou fundos através de venda de ICOs – processo chamado Oferta Inicial de Moeda (ICO, na sigla em inglês) – do que será a nova criptomoeda criada por eles, a Niobium.  Em uma venda de ICOs ocorre na realidade a comercialização de tokens. Estes não passam pela mineração: uma quantia é pré-definida pela empresa que o cria, e todos são lançados juntos para venda.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não autoriza a venda de ICOs no Brasil; por serem semelhantes a ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês), devem seguir a regulamentação específica destas. Porém, a ICO da Niobium não foi caracterizada com a natureza jurídica de um valor mobiliário, explica o consultor jurídico da Bomesp, Fernando Barrueco. “Estamos felizes que a CVM tenha  autorizado o desenvolvimento do projeto.”

A Nasdaq, bolsa de tecnologia de Nova York, já fala que está avaliando começar negociações com criptomoedas em breve. Questionada sobre a possibilidade de o mesmo acontecer no Brasil, a B3 afirma que “acompanha, continuamente, a evolução do mercado de moedas virtuais. No momento, não temos uma previsão de lançamento de produtos relacionados a este mercado.”

O que comprar com criptomoedas?

Cerca de 500 estabelecimentos no Brasil aceitam pagamentos em Bitcoin, segundo a porta-voz da Foxbit, Natália Garcia, de estúdio de tatuagem, pet shop, bar, restaurante, até a construtora Tecnisa. Veja algumas opções interessantes do que fazer com suas moedinhas virtuais:

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