Tem portador de deficiência que surfa, esquia na água e na neve, escala montanhas, faz crossfit, desce montanhas em trilhas de bike, anda de caiaque, veleiros adaptados, desce rampas e mega rampas. Os equipamentos surgiram por conta da demanda. Aquele deficiente coitadinho, sedentário, esperando ser atropelado pela vida, não é mais o padrão.
Corremos maratonas com cadeiras manuais e motorizadas. E se as baterias não aguentam o ritmo e não têm autonomia, não no sentido literal, uma equipe no meio delas ajuda a trocar, como num pit stop de Fórmula 1.
O mundo se acostuma com um novo portador de deficiência mais dinâmico, atirado e atleta, que abusa do limite, sempre em alta performance, a mil por hora. Deficientes visuais jogam futebol. Amputados saltam com varas. Cadeirantes lutam espadas.
Foi uma dureza. Imaginar que até os anos 1980, eram não-deficientes quem nos representava politicamente, desenhava cadeiras de rodas. Imaginar que, quando um cadeirante se via diante de um obstáculo, virava as costas e se culpava por ter nascido daquele jeito ou ter se acidentado.
A militância agregou. Os direitos civis eram nossos, também. Fomos atrás. Protestamos. Exigimos leis. Cobramos. Lutamos contra o preconceito. Quebramos barreiras arquitetônicas. Garantimos nosso lugar de fala e o direito de ir e vir. Nos inserimos. E temos um mundo a conquistar.
- Marcelo Rubens Paiva é jornalista, escritor, colunista do Estadão e autor do blog Pequenas Neuroses Contemporâneas. Saiba mais no portal dele no Estadão.