Os paratletas Daniel Silva, Diogo Ualison, Felipe Gomes, Gustavo Araujo, Ricardo Oliveira e Kesley Teodoro correm em prova o revezamento 4 x 100 masculino nas Paralimpíada do Rio 2016. Além da pista, há um pedaço da arquibancada com torcedores no fundo da imagem.
Time de ouro na Rio 2016: brasileiros chegaram em primeiro lugar no revezamento 4 x 100 | Foto: Fabio Motta/Estadão-13/9/2016

ESPECIAL: Um mundo a conquistar, por Marcelo Rubens Paiva

Colunista do 'Estadão' diz que deficientes garantiram lugar de fala e muito mais do que o direito de ir e vir

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Tem portador de deficiência que surfa, esquia na água e na neve, escala montanhas, faz crossfit, desce montanhas em trilhas de bike, anda de caiaque, veleiros adaptados, desce rampas e mega rampas. Os equipamentos surgiram por conta da demanda. Aquele deficiente coitadinho, sedentário, esperando ser atropelado pela vida, não é mais o padrão.

Corremos maratonas com cadeiras manuais e motorizadas. E se as baterias não aguentam o ritmo e não têm autonomia, não no sentido literal, uma equipe no meio delas ajuda a trocar, como num pit stop de Fórmula 1.

O mundo se acostuma com um novo portador de deficiência mais dinâmico, atirado e atleta, que abusa do limite, sempre em alta performance, a mil por hora. Deficientes visuais jogam futebol. Amputados saltam com varas. Cadeirantes lutam espadas.

Foi uma dureza. Imaginar que até os anos 1980, eram não-deficientes quem nos representava politicamente, desenhava cadeiras de rodas. Imaginar que, quando um cadeirante se via diante de um obstáculo, virava as costas e se culpava por ter nascido daquele jeito ou ter se acidentado.

A militância agregou. Os direitos civis eram nossos, também. Fomos atrás. Protestamos. Exigimos leis. Cobramos. Lutamos contra o preconceito. Quebramos barreiras arquitetônicas. Garantimos nosso lugar de fala e o direito de ir e vir. Nos inserimos. E temos um mundo a conquistar.

  • Marcelo Rubens Paiva é jornalista, escritor, colunista do Estadão e autor do blog Pequenas Neuroses Contemporâneas. Saiba mais no portal dele no Estadão.

    Silvana Garzaro/Estadão – 05/05/2018Marcelo Rubens Paiva usa chapéu roxo e moletom preto. Ele está apoiado em uma mesa, a qual possui um livro. Ele está com uma caneta nas mãos e vai autografar o livro.
    Marcelo Rubens Paiva