Mulher veste calça jeans, sapato preto e blazer preto abre a porta de carro preto.
A tentação é grande, mas não se deve comprometer mais de 15% da renda com transporte | Foto: Geovanna Gravia/Estadão

Torrei minha grana no Uber. Como eu pago o cartão agora?

Um trecho aqui, outra corrida ali e quando chega a fatura no fim do mês muitos jovens se assustam com os gastos no aplicativo

Matéria anterior Próxima matéria

Quem nunca pegou várias corridas baratinhas no aplicativo e viu que, no fim do mês, a soma consumiu uma grana considerável? Esses serviços têm grande apelo entre os jovens por serem uma opção razoavelmente barata, mais rápida e confortável do que o transporte público. O problema é que alguns perdem o controle dos gastos que fazem, uma vez que as corridas são acumuladas no cartão de crédito e poucos se preocupam em consultar o histórico fornecido pelos próprios aplicativos.

“Quando caia a fatura, eu ficava zerada no banco”, lembra a estudante de Letras Beatriz de Carvalho, de 22 anos, que passou por essa dificuldade em 2015. “Virou uma bola de neve que eu só consegui resolver quando eu recebi o décimo terceiro salário.”

A universitária começou a usar o Uber com mais frequência quando conseguiu o primeiro emprego em uma loja. E o que parecia ser o início de sua independência financeira virou o exatamente o contrário.  “Nessas de ‘Ah, mas é tão barato’ ou ‘É só desta vez, não vai sair tão caro’, eu acabei gastando demais com Uber”.

Hoje, a jovem conta que controla melhor o uso dos aplicativos e estabelece uma meta do valor que pode usar por mês.  Uma boa decisão, uma vez que os gastos que os brasileiros em geral têm com transporte já são altos. Os gastos com transporte correspondem a 18,4% das despesas totais das famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos, de acordo com levantamento feito a pedido do Estado pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Isto inclui despesas com transporte público (4,6%), veículo próprio (8,1%) e combustíveis (5,7%), considerando os pesos na estrutura do IPCA de junho.

Segundo o educador financeiro Uesley Lima, fundador do Grupo The One, a melhor distribuição é gastar algo em torno de 15% da renda. “Realizar as atividades cotidianas com o meio de transporte mais barato ajuda no bolso.” Lima, no entanto, afirma que não existe um número mágico, pois devem ser levadas em consideração as condições de transporte existentes onde a pessoa mora e a localidade.

A relações públicas Beatriz Gaidys, de 22 anos, chegou a usar bem mais do que esse percentual.  “Ganhava um salário mínimo e gastava mais de 80% com Uber. Quando vi a fatura, fiquei em choque”, diz. Mesmo depois do prejuízo no primeiro mês de trabalho, Beatriz repetiu o erro no seguinte. A jovem só se livrou do problema quando saiu do estágio. Hoje, apesar de trabalhar em casa, o aplicativo continua sendo um perigo para o seu orçamento. “É uma comodidade. As corridas parecem não ser tão caras e é difícil ter controle dos gastos quando não sai direto da sua conta.”

Hoje, o jovem dá mais valor às experiências do que a bens materiais. Além do conforto e liberdade, com o Uber ele não precisa ficar desconectado”, diz Paula Sauer, economista

A economista e planejadora financeira Paula Sauer lembra que, antigamente, fazer 18 anos significava ganhar um carro, ter status e liberdade. “Hoje, o jovem dá mais valor às experiências do que a bens materiais. Além do conforto e liberdade, com o Uber ele não precisa ficar desconectado”, diz. Segundo ela, os aplicativos não têm a “dor” do pagamento. Por isso, o usuário tem a sensação de que está gastando pouco.

Essa mudança de cultura a que Paula se refere está refletida na queda de 38% no número de pessoas de 18 a 21 anos que pedem a primeira carteira de habilitação, que passou de 239 mil, em maio de 2014, para 150 mil, no mesmo mês deste ano.  No Estado de São Paulo, a queda foi de 25% neste período.

A educadora financeira da DSOP Cíntia Senna diz que é necessário ter planejamento para não cair na armadilha de gastar sem sentir. “Geralmente, temos a mesma rotina no mês, os mesmos padrões de locomoção. Isso pode ajudar a criar um padrão de gastos”, explica.

A falta de controle dos gastos com o Uber pode se tornar uma complicação ainda mais séria. O universitário Erick Gomes, de 22, começou a ultrapassar o limite do cartão logo no início do mês. “Tive de replanejar meus gastos. Não tinha outra escolha.”

Uma questão importante é o limite do cartão de crédito não ser mais alto do que a renda, lembra a educadora financeira Cíntia. “A ideia é sempre se planejar antes e traçar metas de gastos”, afirma a especialista. “O que é muito importante para o jovem que está aprendendo a lidar com a própria renda é criar um hábito financeiro de saber com o que está gastando e não deixar só para descobrir no momento que tem que pagar.”

Os próprios aplicativos têm uma aba que permite visualizar quanto a pessoa gastou em cada uma de suas viagens. Bastaria colocar esses dados em uma planilha ou mesmo em um caderninho para fazer um controle exato das corridas. A assessoria de imprensa do Uber afirma que não consegue informar o gasto dos jovens no aplicativo porque não coleta dados sobre a idade dos usuários. A empresa não divulga dados sobre o valor médio das corridas.  “O serviço que o aplicativo oferece para acompanhar os valores gastos são os e-mails enviados após o término da corrida”, informa a assessoria.

Veja como economizar

VAH: O aplicativo funciona como um comparador de preços e mostra por qual serviço a corrida desejada vai sair mais barata. Acesse o site do aplicativo VAH para mais informações.

Leve-me: Além de confrontar os preços entre os aplicativos de transporte, mostra as melhores opções de rotas entre os transportes públicos — ônibus, metrô e trem — e bicicleta. Acesse o site do aplicativo Leve-me para saber mais.

Galeria de fotos

Foto anterior Próxima foto